Dona Paterna: Há 50 anos que começou a plantar a casta alvarinha, mas o mercado ainda não está preparado para os Alvarinhos velhos

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“Ao ser Vinho Verde, nem que seja Alvarinho, os restaurantes não arriscam”

Carlos Codesso viu nascer a Festa do Alvarinho de Melgaço, em meados dos anos 90 (séc.20), quando o evento se fazia no Largo Hermenegildo Solheiro, em frente à Câmara Municipal com apenas “três ou quatro marcas”.

A história que daria origem à marca começou em 1974, um ano que trouxe outros contornos ao sentimento de liberdade de um país e parece ter instalado um espírito empreendedor e desafiador nos socalcos de Melgaço. A marca que viria a designar-se Dona Paterna (em 1990) começava também aqui a plantar, pela mão de Manuel Codesso, pai de Carlos, a sua primeira vinha contínua, numa altura em que a agricultura atirava para a bordadura dos terrenos a plantação das castas, brancas ou tintas, daquele que era, por definição, o ‘vinho de lavrador’.

É uma das marcas de Melgaço que assinalam em 2024 os 50 anos desde a primeira plantação e durante esse período muito mudou, mas ainda continua no mercado dos Vinhos Verdes o preconceito de que os alvarinhos de Monção e Melgaço, por estarem associados à imagem dos vinhos jovens, aromáticos e frescos, não são capazes de envelhecer com classe. Menos os produtores, enólogos e outros epicuristas entusiasmados com o mundo dos vinhos, que fazem provas da colheita de 2004. Isto é, há quase vinte anos que há um Alvarinho a repousar e ainda válido para mostrar a sua maturidade, como demonstra Carlos Codesso.

“Ainda há pouco tempo mandei para prova um vinho de 2004 e todos repetiram a prova, porque é um vinho que ainda mantém o vigor e uma frescura que é muito rara. Nós temos uma coisa muito boa no Alvarinho, que é uma graduação alta e a acidez que dá uma longevidade fora do normal”, nota o produtor-engarrafador da Dona Paterna.

Talvez seja o solo granítico de Melgaço que traz outra nuance ao alvarinho, como deixa adivinhar Carlos Codesso, por isso diz que todos os produtores desta zona devem fazer este exercício de testar a resistência do Alvarinho ao tempo. “Eu tenho vinho desde 90”, adianta.

“Eu tenho feito provas verticais, que é provar dez, quinze anos seguidos, digamos assim, precisamente para ver a evolução do vinho. Eu tenho garrafas desde 1990, que guardei, e quando antigamente se dizia que o vinho verde não aguentava mais que dois anos, hoje essa ideia está ultrapassada”, assume, mas assume ser “difícil” colocar na carta de qualquer restaurante, mesmo que dedicado a palatos mais ensaiados, um Dona Paterna de 2007 ou 2008, à semelhança do que se pode pedir com algumas marcas de vinho francês.

“Ainda não é tempo para isso, infelizmente. Os restaurantes não estão dispostos a ter em armazém um stock de vinhos antigos, nem o nosso próprio tipo de cliente português está adaptado à ideia de pedir vinhos antigos. Lembro-me do tempo em que eu vendia vinhos, chegava aos restaurantes com o vinho do ano anterior [ao da colheita nova] e já não mo queriam. Por isso temos as casas próprias, de prova de vinho, as garrafeiras fazem essas provas. Os restaurantes não arriscam. Ao ser Vinho Verde, nem que seja Alvarinho, não arriscam”, diz o produtor, resignado às dificuldades de um caminho que ainda será longo.

Nas aguardentes, outro galo canta. O padrão de qualidade parece vir com os anos e o mercado demonstra perceber aqui que a idade é um posto (e preço).

“Só lancei as aguardentes com 40 anos de estágio, são muito velhas. Todas ganharam medalhas no concurso da Comissão [a Aguardente Vínica XO de Alvarinho Dona Paterna ganhou a medalha de ouro na categoria Aguardente de Vinho Verde no concurso “Os Melhores Verdes 2022” da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes] e foram consideradas as melhores aguardentes do país. A XO já esgotou, a Velíssima [ Dona Paterna Aguardente Bagaceira Velhíssima Alvarinho] está quase a esgotar e a bagaceira branca [Dona Paterna Aguardente Bagaceira Alvarinho], que tem  o sabor mais original do alvarinho, meio adocicado, também está quase a esgotar. Ou seja, vou ter que fazer novos lotes para ir para o mercado”, diz Carlos Codesso, prestes a preparar novas remessas que terão também entre 40 a 10 anos de estágio.

Mas há futuro e experiências para aproveitar cada ano e cada época. Os últimos anos foram de apostas fora da caixa, como o bombom de alvarinho, o gelado de alvarinho e o Pet-erna, um PET-NAT que, tal como deixa adivinhar, é um vinho espumante natural, sem adição de sulfitos nem conservantes.

Fica lançado o lastro para ousar fazer diferente, e Carlos Codesso começa a preparar a nova era. “Eu já vou tendo idade, estou a pensar em passar o projeto às minhas filhas, mas vamos apostar sempre na qualidade, inovando”.

2024 ainda vai a meio, mas já tem mostrado aos vinhos Dona Paterna que já valeram a pena os 50 anos desde a primeira plantação e aas edições comemorativas que tem lançado, senão vejamos:

Medalha de Ouro para o Alvarinho Reserva no Frankfurt Internacional Trophy; medalhas de ouro para o Alvarinho Reserva e Alvarinho 2022 no Concurso Internacional de Vinos Bacchus 2024; Medalha de Ouro para o Alvarinho Reserva 2022 na categoria “Grandes Vinhos Jovens” na edição de 2024 do Concurso da Região Demarcada dos Vinhos Verdes 2024; Medalha de Prata para o Espumante Bruto 100% Alvarinho 2022 na categoria “Vinhos Espumantes”, também no concurso dos Vinhos Verdes, promovido pela CVRVV; e ainda Medalha de Prata para o Alvarinho Dona Paterna 2022 no International Wine Challenge.

São provas dadas.

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