O declínio das Termas do Peso (Melgaço) nas últimas décadas [Parte 01]


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Os anos dourados das termas do Peso, tal como noutras estâncias por esse Portugal fora, deram lugar a uma época de declínio. Com efeito, a partir de mea­dos do século XX, inicia-se um período durante o qual a articulação entre o lazer e a terapia, na definição do “produto termal”, foi posta em causa pela própria evo­lução da medicina, e pelo declínio da sua vocação turís­tica. Efetivamente, é a partir desta altura que o turismo balnear começa a crescer de forma explosiva, roubando clientes das termas, ao qual podemos juntar o desenvolvimento da medicina científica. Em conjunto, deram o “golpe fatal” para muitos estabelecimentos termais, que começam a fe­char por falta de clientela.

Por outro lado, a partir da década de 70, dá-se uma alteração do perfil do termalista, pois se anteriormente as termas eram frequenta­das por uma elite, as mesmas passam princi­palmente, a partir de 1974, a ser frequentados por classes menos favorecidas, uma vez que se estabelece a comparticipação dos tratamentos pela Segurança Social (GUSTAVO, 2010). To­davia, este novo tipo de clientela, sobretudo de uma faixa etária mais idosa, não contribuiu para a recuperação do setor, uma vez que o en­velhecimento associado a um estado de degra­dação geral das termas não proporcionava uma imagem atrativa para um estrato mais jovem da população.

Dois anos depois, em 1976, foi legislado que os cui­dados termais se deviam equiparar aos outros cuidados de saúde, o que determinou que a comparticipação se alargasse às despesas com alojamento, transporte e ali­mentação, permitindo o aumento da procura termal. No entanto esta medida só durou até 1981 o que não consolidou a recuperação do setor.

As termas do Peso modernizaram-se procurando responder às novas exigências do mercado do ter­malismo com a criação de novas estruturas de lazer como o mini-golf, campo de ténis, ou um Health Club, entre outras. Contudo, o Peso continuava a vender-se aos potenciais visitantes como uma conjugação en­tre as águas que detinham caraterísticas terapêuticas singulares e um turismo de lazer, muito ligado aos passeios pela região, o ar puro e os ditos espaços de lazer que foram sendo construídos no parque termal.

Atente-se num desdobrável da Câmara Municipal de Melgaço, dos anos cinquenta, onde o professor An­tónio Pinho, na sua majestosa escrita, nos descrevia assim o Peso na época:

“... num pitoresco recanto, brotam, em duas bicas, as afamadas “águas minerais” que ao doente aliviam e ao são proporcionam bebida agradável. Sim, a essa distância situa-se a Estância Hidrológica do Peso. 
O Peso... Insigne “boulevard” sob ramada compacta de árvores frondosas; rincão onde o sol, noutras partes, calcinante, enamorando a copa do arvoredo, que sofre as inclemências do astro-rei, para prodigamente ofere­cer ao aquista ou ao visitante, a sombra, uma sombra perfumada pelo aroma inconfundível da flor das tílias que se evola nos ares e cala nos corações. 

Estância de cura e turismo, de vilegiatura e repouso, é o Peso. Ali afluem, na época calmosa, inúmeras pes­soas que, extasiadas, esquecem, como que por encanto, aquelas preocupações do dia a dia que a todos encur­tam a vida e comprometem a alma. Aí, tudo distrai e seduz... É o harmonioso marulhar das águas do bucólico re­gatozinho. São os campos de jogos, onde se pratica o ténis e joga o golf. É mais além, o maravilhoso Balneá­rio, onde se exercita a mais avançada terapêutica, que bem digno é duma visita. 
É adentro do majestoso pa­vilhão, o cantar da água da “bica” que, qualquer coisa, parece segredar às solicitas empregadas, as quais num constante vai-vem, levam um copo vazio, enquanto a miraculosa água a outro abranda sofrimento ou mitiga a sede. E, por toda a parte se vê gente que admira, comenta, medita, lê, conversa, discute e, assim, neste cantinho abençoado, o espírito esclarece-se, o país encontra-se, a saúde melhora-se e as horas voam!... 
Mas o businar das caminhetas dos hotéis lembra a hora de jantar. Mergulha-se, então, a Estância no si­lêncio e o buliço é agora nos hotéis e pensões onde a culinária é de primeira qualidade…”

Esta descrição procura elevar o Peso ao estatuto de paraíso, ainda que, por esta altura, no pós Segunda Guerra Mundial, os aquistas começassem a diminuir bastante. Conforme se menciona atrás, a volatilida­de das tendências do turismo termal não encontrou correspondência na capacidade de modernização e os aquistas começaram a deixar de encher os hotéis do Peso.

Mais razões, podemos encontrá-las num pequeno mas interessante artigo no jornal “Estrella do Minho”, na sua edição de 17 de Setembro de 1955: “As termas de Melgaço e a sua crise – Se há termas que pela sua ex­celência hídrica merecem especial atenção, as de Peso (Melgaço) estão entre elas. No vasto panorama da te­rapêutica hidrológica do nosso país, pode dizer-se que as Águas de Melgaço são as únicas no tratamento da diabetes, embora a fonte nº 2 seja extraordinária no tratamento de doenças do aparelho digestivo. Pois bem, o Peso que possui três hotéis de razoável lotação, e al­gumas pensões, encontra-se em crise de há três anos a esta parte. Motivos? Os proprietários dos hotéis afir­mam todos a um – a fronteira!

A população aquista do Peso era normalmente cons­tituída por gente do Centro e Norte do país. No último triénio, porém – tal como acontece às crises migratórias da sardinha – os diabéticos fugiram para Mondariz onde não nos consta que alguém haja recolhido resultados melhores do que os benefícios dados pelas águas do Peso – Melgaço.

Razões justificativas? Há pelo menos duas, mas não se poderá afirmar concretamente qual delas detenha a pertinência – talvez as duas, é possível que nenhuma.

Médicos portugueses teriam subestimado, a partir de certa altura, o valor das águas de Melgaço em favor das de Mondariz (também há muitos portugue­ses endinheirados que a conselho médico vão para Vichy e Baden-Baden e não nos consta que hajam deixado de ser mortais; em segundo lugar ser mais barata a hospedagem em Espa­nha pelos favores ou desfavores do câmbio.

Ao fim e ao cabo, os três hotéis de Melgaço acusam menos gente e é desolador ver parque tão frondoso e margens do Minho tão belas, despovoadas de veraneantes.

As termas de Melgaço trazem assim ao turismo português mais um problema a re­solver. Há porém que fazer uma chamada ao nosso patriotismo – sobretudo ao patriotismo dos diabéticos portugueses – que não deve ser posto à prova apenas quando se invoca a distante Índia Portuguesa. Não devemos, por outro lado, desgovernar – sem outro proveito ou qualquer glória – a nossa casa para governo da casa alheia, por maior que seja o respeito e amizade que votemos aos amigos.“

Aos problemas apontados na notícia atrás transcrita, podemos associar alguns outros. No Congresso de Turis­mo e Termalismo do Norte em 1970, Martins Rodrigues, presidente da Junta de Turismo da Estância Hidrológica do Peso, na sua intervenção, identificava alguns proble­mas que, no seu entender, ajudavam a explicar a crise que a estância do Peso vivia. Esses problemas, segundo ele, não se restringiam às termas em si mas diziam res­peito a aspetos relacionados com o contexto envolvente do concelho e da região. Segundo aquele responsável, as carências mais flagrantes centravam-se na falta de:

“uma unidade hoteleira com uns 40 quartos ou duas pensões de primeira com instalações decentes e con­fortáveis para servir o turismo, ou, melhoria apreciá­vel nas actuais instalações hoteleiras, se outra solução não for viável; uma piscina corno elemento desportivo e de saúde, que muito valoriza as zonas de turismo; boa pavimentação da estrada nacional 202 e aproveita­mento da sua máxima largura entre Monção e Melgaço (24 km); pavimentação da estrada de turismo que vai desde os hotéis até ao Posto da Polícia Internacional na beira Minho, junto da passagem fluvial para Espanha (800 metros); instalação da Junta de Turismo em casa própria e com acomodações compatíveis com o seu fim; lnclusão desta zona na futura Carta Turística do País; como a maior parte da freguesia de Castro Laboreiro está dentro do Parque Nacional de Peneda do Gerez, há necessidade de estabelecer ligação rodoviária com os Arcos de Valdevez pelo Mezio, de que há tantos anos se vem falando, criando-se o mais belo circuito turís­tico do Alto Minho; que seja igualmente pavimentada como convém, a estrada que vai de Lamas de Mouro ao Santuário Mariano da Senhora da Peneda; construção do previsto Parque de Campismo em Lamas de Mouro a 8 km de Castro Laboreiro e a igual distância do San­tuário da Peneda; construir os acessos ao velho castelo roqueiro de Castro Laboreiro, donde se observa um dos mais extraordinários panoramas serranos de Portugal, sobre o Soajo, Peneda, Gerez e Amarela. Esse velho cas­telo pode vir a ter muito interesse turístico, quando se fizerem ais previstas albufeirais no regato internacional que corre ao fundo da sua íngreme encosta…”

Este apontar de caminhos para a recuperação das termas do Peso é, de certa forma, corroborado pelo Sr. José Ranhada, filho do fundador do hotel Ranhada numa entrevista na edição da “Voz de Melgaço” de 1 de Junho de 1973. Na mesma, José Ranhada traça um diag­nóstico preocupante na época mas aponta direções: “Muito há a fazer para que aquilo tudo não caia em ruínas. Antes de mais nada, há que retificar e pavimen­tar nas devidas condições a estrada de Valença a São Gregório e concluir a ligação aos Arcos pela Peneda. Este, um melhoramento fundamental para o desenvol­vimento da estância. Acresce ainda a necessidade de tudo fazer para que ligação por estrada entre Puente Barjas e Orense seja também muito beneficiada.

A Ponte [Internacional] do Peso seria de grande utilidade, mas talvez não seja viável uma vez que está prevista uma bastante próximo, na barragem a cons­truir em Valadares. Quanto a hotéis, é preciso sair do ciclo vicioso. Fal­tam os hóspedes porque os hotéis, apesar de todos os esforços feitos, não respondem às exigências modernas quanto a conforto. E os hotéis também não têm melho­rado o bastante porque faltam os hóspedes. É necessário, portanto, muito poder criativo. Há que saber esperar largos anos até fazer algo que permita cobrir os gastos a realizar nos hotéis.

Entre as muitas iniciativas possíveis, estaria a insta­lação de uma colónia de férias como se fez em São Pedro de Moel. Há que favorecer por todos os meios a caça e a pesca, criar torneios competitivos aquando da conclusão da barragem. Criar aquele mínimo de diversões indis­pensáveis para os tempos modernos e que permitam à juventude sentir-se bem, porque hoje são muitos os pais que deixaram de frequentar o Peso porque os filhos não se adaptam num meio tão pequeno e sem diversões.

As piscinas cobertas de água quente e fria são in­dispensáveis. Campos de jogos, mesas de jogo, salas de convívio e de dança, uma “boite”, são tudo estruturas mínimas indispensáveis para se poder falar num incre­mento de frequência turística da nossa estância termal.

Indispensável ainda dizer que terão de ser dadas muitas mais facilidades alfandegárias para o natural intercâmbio internacional e talvez que a própria fron­teira do Peso tenha que rever os horários para estarem mais de harmonia com a passagem dos comboios, pois desde o Peso a Vigo, por comboio, gasta-se apenas uma hora e a paisagem é muito alegre. O mesmo se diga na viagem até Orense. E basta pensar que noutros tempos o Peso foi pio­neiro…”

Estas considerações tecidas por José Ranhada re­forçavam a ideia que a crise nas termas do Peso desde meados do século XX se devia a um conjunto de fa­tores internos e outros que advém das condições da própria região onde a estância se insere. Conforme se fez notar, os caminhos para a sua recuperação passam por melhorar as condições da própria região, no que toca, por exemplo, aos acessos, mas também lamenta o facto de o complexo termal do Peso deixar de ter um papel inovador à semelhança de finais do século XIX e o início do século XX, em que um cinema, ligações de autocarro ao comboio (a Valença e depois, a Monção), entre outros serviços, verdadeiramente pioneiros na época, tal como é salientado pelo entrevistado. Temos que reconhecer que nas primeiras décadas do complexo termal, o mesmo beneficiou de um conjunto de em­preendedores que foram, em boa parte, responsáveis pelos seus tempos de maior prosperidade. Da mesma forma, é evidente que o Peso deixou de beneficiar de uma iniciativa privada disposta a investir na necessá­ria e constante modernização das estruturas, tal como noutros tempos.

Note-se, contudo, que as dificuldades dos hotéis e noutros estabelecimentos, também têm origem na questão de o turismo termal ser, na época, muito sa­zonal, estando restrito àqueles meses das temporadas termais, o que se constituiu também como um fator contrário ao investimento necessário na modernização das estruturas hoteleiras. A este propósito, na Voz de Melgaço, na sua edição de 15 de Junho de 1980, o Padre Júlio Vaz salienta que as termas do Peso apresentavam, na conjuntura, dois problemas de base, que residiam na necessidade de novos estudos das caraterísticas das águas, bem como nas “…instalações: o Peso não tem hotéis. O Sr. Mário Ranhada quer vender o seu hotel e não tem compradores; o antigo Hotel do peso está em ruína escandalosa. Se não há particulares que se abalancem, só a empresa é que pode resolver o caso.

O nosso correspondente de Paderne disse, há tem­pos, neste jornal que a empresa pensava no caso e que a Câmara Municipal e a Junta de Turismo colaboravam. Se assim é, mãos à obra. Sem perdas de tempo. Sem visões de luxo.

Os hotéis, ou um bom e grande hotel, seriam, com o estudo das águas, a verdadeira promoção turística das termas, do turismo de Melgaço, e do apoio indispensá­vel ao Parque Peneda-Gerês.” Em relação à degradação das infraestruturas hoteleiras, temos que ter em conta que, tal como já foi citado atrás, haveria que quebrar um ciclo vicioso entre o investimento necessário e as receitas insuficientes da procura em quebra progres­siva. Faltou ao Peso, em vários momentos, a disponi­bilidade da iniciativa privada mas também o apoio das entidades públicas que, em ambos os casos, pareceram demonstrar não acreditar na recuperação do complexo hoteleiro e na inflexão da curva da procura. Dois dos exemplos de infraestruturas que poderiam ter benefi­ciado a estância termal e respondido às novas tendên­cias da procura turística era a construção de uma pisci­na e um campo de golfe. Num pequeno artigo publicado naquele mesmo periódico melgacense, na sua edição de 15 de Maio de 1981, refere-se o seguinte: “Para os muitos que não sabem se diz que, já alguns anos atrás, alguém com amor pela terra onde nasceu, pois nou­tra terra arranjou dinheiro e conquistou prestígio, quis construir uma piscina nos arredores de Melgaço, num local amplo e de vistas largas até à Espanha. Pois, esse piscina só não foi construída pela maldade de alguns poucos, que, como sempre, não sabem fazer mais nada que destruir aquilo que os outros querem fazer. Agora o que não se compreende bem porquê, é que sendo as Águas de Melgaço exploradas pela mesma empresa das Águas de Vidago e das Pedras Salgadas, nestes locais existam piscinas, campos de golfe e outros divertimen­tos, que aí no Peso se não vêm.

Os campos de golfe fazem-se até pelo meio dos pi­nheiros. Uma piscina cabe em pouco terreno desde que se não seja muito exigente. Levaria muita gente à nossa terra e seria uma fonte de receita para a Câmara Mu­nicipal. E porque não? Acompanhe-se o progresso, que beleza natural não falta.”

É notório que, por repetidas vezes, se constata que os melgacenses culpam a empre­sa Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas pela decadência desta estância. Alegam que com a inclusão das termas na VMPS, a gestão colocou estas águas como uma peça sem importância num puzzle onde Vidago e Pedras Sal­gadas ocupam lugar de destaque e Melgaço foi caindo no esquecimento, saindo dos mapas de promoção tu­rística e, em especial, no circuito termal. Repare-se no lamento transcrito num artigo publicado na mesmo pe­riódico, na sua edição de 1 de Agosto de 1984: “… Não obstante serem das melhores, ou mesmo as melhores da Europa, segundo os entendidos pelos seus efeitos terapêuticos no combate à diabetes, as Termas de Mel­gaço encontram-se esquecidas pelas entidades compe­tentes como a Associação Nacional dos Industriais de Águas Mineromedicinais e de Mesa, e a Direção Geral de Turismo; e por carambola, as Termas do Peso estão ausentes, marginalizadas da publicidade especializada. Basta dizer que no roteiro da visita de especialistas “às nossas estâncias termais”, organizada pelas entidades referidas e outras, não figuram as Termas do Peso de Melgaço. (…)

Entretanto, na localidade do Peso de Melgaço não existe um simples Posto Farmacêutico. Afirmo com verdade que desde 1981, que conheço as Termas de Melgaço, não existe ali um posto tão necessário como esse. Para comprar uma simples aspirina é preciso ir a Melgaço. O barbeiro que trabalhava no Peso, velho e amável profissional, faleceu. Agora não há barbeiro no Peso de Melgaço. Falta ali um estabelecimento comer­cial que venda artigos indispensáveis…

A localidade do Peso não possui estruturas de apoio aos aquistas e, naturalmente, aos seus habitantes. Se em Peso de Melgaço deixarem de funcionar os hotéis “Ranhada” e “Rocha”, e a “Pensão Boavista”, estabe­lecimentos servidos por pessoal amável, prestável, a localidade de Peso de Melgaço tornar-se-á um lugar sem vida.” E, progressivamente, o Peso foi ficando mais pobre…

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

Texto: Valter Alves
Efeito e fotos actuais das Termas e Hotel do Peso: JM 

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