Liberdade manchada pelo tempo

“Voltem os cravos, e os cânticos às ruas, mas desta vez, que vençam os honestos!”


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Há meio século, nas ruas de Portugal celebrou-se o 25 de abril como um símbolo de libertação, democracia e esperança. O derrube do regime do Estado Novo prometia um amanhecer otimista para a nação, livre das amarras da opressão.

No entanto, olhando para o estado atual do país, é difícil não sentir um amargo sabor de desilusão. O que deveria ter sido uma revolução ética e moral, transformou-se numa farsa manchada pela corrupção e pela podridão política.

A promessa de um Portugal livre e justo foi rapidamente corroída pelos interesses egoístas daqueles que assumiram o poder após o 25 de abril. Em vez de construir uma sociedade integra e justa, as elites políticas e económicas transformaram a liberdade numa ferramenta de negócio e perpetuação de privilégios. Os valores que deveriam ter sido os pilares da nova era foram substituídos pela ganância desenfreada e pela corrupção sistémica.

A política portuguesa, filha da revolução sonhadora, tornou-se um espetáculo grotesco, onde os políticos são mais adeptos a encher os próprios bolsos do que a servir o povo. Escândalos de larápios emergem regularmente, revelando uma teia de subornos, desvios de fundos públicos e nepotismo descarado. Enquanto isso, os cidadãos comuns sofrem as consequências de uma gestão negligente e interesseira, com serviços públicos decadentes e uma qualidade de vida em declínio constante.

A corrupção não é apenas um cancro que corrói as instituições democráticas; é também um insulto àqueles que lutaram e sofreram pela liberdade durante a Revolução dos Cravos. O sangue derramado pelos heróis do 25 de abril foi em vão, pois a democracia que eles tanto sonharam transformou-se numa farsa, uma mera fachada por trás da qual os corruptos se escondem enquanto saqueiam o país. As desigualdades sociais continuam a aumentar, o rico mais rico, o pobre mais rico, e mesmo assim, a diferença é crescente.

É hora de parar de fingir que a corrupção é apenas um problema isolado ou um fenómeno inevitável. A ladroagem em Portugal é um sintoma de um sistema político doente, enraizado em impunidade. Enquanto os corruptos continuarem a prosperar sem enfrentar consequências reais, a corrupção continuará a minar a moralidade e a coesão social do país.

Voltem os cravos! É preciso outra ação drástica e imediata para os erradicar de todas as instituições. Isso requer não apenas a punição dos culpados, mas também uma reforma abrangente das instituições políticas e judiciais para garantir que a corrupção não tenha lugar para se esconder. Além disso, é essencial promover uma cultura de transparência e responsabilidade, onde os cidadãos são capacitados a fiscalizar os seus líderes e exigir prestação de contas.

O 25 de abril deveria ter sido um marco na história de Portugal, o início de uma nova era de liberdade e justiça. Em vez disso, tornou-se um lembrete sombrio do quão longe estamos da verdadeira democracia. A liberdade sem ética é uma ilusão, e é hora de Portugal acordar para a realidade brutal de que a corrupção está minando os alicerces da nossa sociedade. A revolução ainda não acabou; é hora de lutar por um Portugal onde a liberdade seja mais do que apenas uma palavra vazia, mas sim um compromisso comum com a integridade e a justiça.

Voltem os cravos, e os cânticos às ruas, mas desta vez, que vençam os honestos!

Feliz aniversário, Liberdade.

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Eu sou um admirador da obra e vida do Camilo e, como tal, todos os anos concretizava viagens de comboio de estudo ao Porto com os alunos e metia sempre no roteiro o Museu do antigo Tribunal da Relação do Porto, onde visitavam a Cela, com um bela vista para a paisagem da Ribeira e do Douro, onde esteve preso o Camilo Castelo Branco, pois este pagava as instalações para estar preso numa cela com condições e boa paisagem.
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