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Entre os dias 29 de julho e 4 de agosto, Melgaço volta a ser o epicentro do cinema internacional de documentário. A questão palestiniana, os direitos humanos, as migrações, o colonialismo, o ambiente, as questões de género são os temas centrais numa edição comemorativa que fica marcada com 22 estreias no grande ecrã.
Há 31 filmes a concurso no MDOC: 21 longas-metragens e 10 curtas e médias-metragens.
A 10.ª edição do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço regressa com filmes de várias nacionalidades, além de Portugal, da Indonésia, França, Rússia, Alemanha, Áustria, EUA, Itália, Canadá, Países Baixos – candidatos aos Prémios Jean-Loup Passek e D. Quixote.
Dos 31 documentários de expressão cinematográfica que integram a seleção oficial, nove são portugueses e 22 são internacionais. Com a grande maioria dos realizadores presentes no MDOC 2024, está será uma edição que irá certamente marcar os próximos anos do festival que desafia o público a refletir não só sobre as questões da identidade, memória e fronteira, mas também sobre causas e temas atuais que, de uma forma, ou de outra, impactam o mundo em que vivemos moldado pelas crises e conflitos em constante transformação.
A questão palestiniana está bem presente no MDOC deste ano, com três leituras diferentes sobre o conflito: “Un Long Chemin Vers la Paix“, de Tal Barda, apresenta-nos um manifesto de tolerância de um médico palestiniano que viu as suas três filhas mortas por um tanque israelita; “Voyage à Gaza“, de Piero Usberti, mostra-nos a perspetiva de um “viajante estrangeiro” que chega a Gaza na primavera de 2018 e é confrontado com as histórias de Sara, uma trabalhadora humanitária, Mohanad, um comunista convicto e Jumana, uma aspirante a advogada; em “No Other Land, do coletivo Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor, durante meia década, Adra (que também é ativista e advogado) filmou as aldeias de Masafer Yatta no sul da Cisjordânia a serem destruídas pela ocupação israelita, ao mesmo tempo que constrói uma aliança improvável com um jornalista israelita.
Os direitos humanos (ou a sua ausência) é uma temática bem patente nos filmes “Of Caravan and the dogs“ no qual Askold Kurov aborda a asfixia do discurso e do pensamento independentes na Rússia de Putin e, em “Democracy Noir“, de Connie Field, uma jornalista, uma política e uma ativista decidem denunciar a natureza autocrática e populista do regime de Viktor Orbán, presidente húngaro que, atualmente, assume a presidência rotativa da União Europeia.
A falta de direitos e a situação da mulher está igualmente presente em filmes como “My Stolen Planet“, da realizadora iraniana Farahnaz Sharif, forçada a imigrar, ou Maydegol, de Sarvnaz Alambeigi, testemunho que tem como foco uma adolescente afegã imigrada no Irão e a luta pelos seus direitos contra a discriminação e a violência. Em “The Takeover“, filmado quando os talibãs retomaram o poder no Afeganistão, Anders Hammer retrata a rápida transformação do país e das mulheres que se recusam a perder os seus direitos.
Questões pós-coloniais são igualmente abordadas em filmes como “The Battle for Laikipia“. Daphne Matziaraki e Peter Murimi mostram-nos como a crise climática está a despertar tensões em Laikipia, região do Quénia, onde os descendentes dos britânicos, que para lá emigraram e possuem grande parte das terras, e os indígenas, criadores de gado e assolados por uma seca, estão em concorrência direta. Já em “Fogo no lodo“, Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca trazem as memórias da guerra colonial.
Já as migrações são abordadas em “As Melusinas à margem do rio“, de Melanie Pereira, filme em que cinco mulheres nascidas no Luxemburgo de famílias imigrantes, refletem sobre a sua identidade; em “Les Chenilles“, Michelle Keserwany e Noel Keserwany, mostram-nos através da história de duas jovens imigrantes em França (provenientes da Síria e do Líbano), os efeitos dos acontecimentos históricos nas suas vidas: a mudança que a deslocação impõe, as condições de trabalho, as diferenças culturais.
Numa tragicomédia repleta de ironia, Clara Trischler, em “Night of the coyotes“, documenta como os habitantes de uma aldeia mexicana – que ficou praticamente deserta devido à imigração dos seus habitantes para os Estados Unidos – inventaram um jogo em que oferecem aos turistas a oportunidade de experimentarem a migração ilegal através da fronteira americana, isto para evitar que a aldeia desapareça.
Questões ligadas ao ambiente são levantadas por filmes como “A Savana e a Montanha“, de Paulo Carneiro, esteve na quinzena dos cineastas em Cannes e estreia em solo português no MDOC. Este filme de resistência do género western retrata a luta do povo de Covas do Barroso contra a empresa britânica Savannah Resources, que planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas; Aline Simone, realizadora de “Black snow“, segue uma dona de casa russa, Natalia Zubkova, que denunciou um desastre ecológico na sua cidade natal, Kiselyovsk, na Sibéria, provocado pela mineração do carvão a céu aberto, o que fez dela uma inimiga do Estado; em “As the tide comes in“, Juan Palacios e Sofie Husum Johannese, mostram como os 27 residentes de uma ilha dinamarquesa se apegam à sua identidade de ilhéus e enfrentam o risco de inundações provocadas pelas alterações climáticas.
Além da competição oficial (lista completa filmes selecionados), o MDOC apresenta um vasto conteúdo programático que integra, uma Oficina de Documentário, residências de cinema e fotografia, masterclass, análise de um filme documentário de referência, estreia de seis exposições, um curso de verão e ainda o habitual CINEférias e o Salto a Melgaço (que inclui, nos dias 3 e 4 de agosto, a projeção de filmes, visita a exposições, ao Museu de Cinema Jean-Loup Passek, ao Espaço Memória e Fronteira e às Termas de Melgaço).