Autárquicas 2025: José Albano Domingues, o candidato da AD que quer interromper 43 anos consecutivos de governação socialista e não deixa pedra sobre pedra nas decisões de gestão de Rui Solheiro e Manoel Batista

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José Albano Domingues, o ambicionado candidato dos militantes da direita local para a corrida autárquica, disse ‘sim’ ao pedido da coligação AD “por puro altruísmo, de amor à camisola”.

O advogado melgacense garante que não se revê “no rumo que Melgaço tomou de há muitos anos a esta parte” e deixa críticas à gestão municipal em áreas como o turismo, a indústria, a saúde, a cultura e a habitação.

Nesta longa entrevista, aponta como prioridades a recuperação da motivação dos colaboradores da autarquia, o combate à “depressão coletiva” em que diz ver mergulhado o concelho e a necessidade de “virar Melgaço para o mercado galego”.

Considera, tal como há vinte anos, que Melgaço tem de ser mais do que os ‘3 A’s’ da estratégia de Rui Solheiro, e que é preciso adicionar o industrial. Afinal, com a PLISAN finalmente a ganhar forma e ali ao virar da curva, é preciso preparar o concelho para instalar eventuais pequenas empresas satélite ou mesmo trabalhar o “ordenamento do território” de forma viabilizar Melgaço enquanto “concelho dormitório” com qualidade para os milhares de trabalhadores que se preveem para aquele polígono industrial.

Na saúde, defende que “é inadmissível que tenhamos de esperar três, quatro meses por uma consulta no Centro de Saúde”, e garante que é perfeitamente possível instalar em Melgaço, na eventual USF, uma sala de pequena sutura e um centro de radiologia. “Não é nada de outro mundo. Já tivemos equipamentos a este nível que nunca foram usados”.

Na cultura, não poupa críticas: considera que o MDOC precisa de mudar, seja no formato ou na ligação à população, para deixar de ser um certame “desassociado ou divorciado da população melgacense”. Também a Festa do Alvarinho e do Fumeiro é, no seu entender, um evento “em perda, que tem necessariamente de ser revisto”.

“Capital financeiro não nos falta”, sublinha, mas avisa que sem confiança e sem novas dinâmicas, Melgaço continuará a perder vitalidade: “Vou à rua num final de tarde, num fim de semana, e não vejo ninguém.”

A Voz de Melgaço (AVM) – Tem sido o candidato ambicionado pelo PSD e, como já referiu em anteriores entrevistas, sempre recusou liderar uma candidatura à autarquia. Qual foi o contexto político que o fez, agora, dizer sim?

José Albano Domingues (JAD) – Há várias razões que nos levam a tomar decisões desta ordem de importância. A principal é o apego, o amor a Melgaço, que nunca escondi. Há pessoas, no meu entorno de amizade, que me dizem que me preocupo sempre demasiado com o concelho e penso pouco em mim. Esta decisão passa exatamente por aí, é um ato de puro altruísmo, de amor à camisola, mas tomada ao fim de todos estes anos por duas razões: Além do amor a Melgaço, a terra que me viu nascer e crescer e onde eu tenho toda a minha vida, é pensar que os nossos filhos têm de ter aqui um cantinho, se possível para trabalhar, para ganhar a sua vida. E não me revejo no rumo que Melgaço tomou de há muitos anos a esta parte. Se pegarmos em indicadores, vemos que estamos em processo de perda contínua. Dizem-nos que Melgaço não tem solução porque é um concelho interior, mas olhamos à nossa volta e vemos outros concelhos a crescerem, a criarem dinâmicas que nós não temos. Fiz uma vida toda no privado, que tenho estabilizada, e o facto de me sentir suportado por uma equipa de gente muito capaz e com vontade de transformar Melgaço, tudo isto conjugado levou-me a tomar esta decisão. Muito ponderada, mas muito difícil.

AVM – Pensar o futuro de Melgaço é pensá-lo industrial, turístico, no setor do vinho, ou há que pensá-lo a par de estratégias de revitalização do interior, no contexto de um território difícil em relação à centralidade do país?

JAD – A minha vida profissional está polvilhada de casos destes. Estou habituado a causas difíceis. O trabalho nunca me meteu medo. Dedico-me àquilo que faço sete dias por semana. Melgaço, de facto, é um empreendimento muito difícil. Tradicionalmente, temos ouvido o Executivo Municipal usar duas grandes bandeiras: A vinha, o Alvarinho, que está a ser bem trabalhado, mas pelos particulares. Não vejo uma ação por aí além da parte da nossa Câmara para apoiar. Falou-se inclusive, aquando do alargamento da sub-região exclusiva do Alvarinho, em que se iria para tribunal, contestar, com providências cautelares, com promessas desta ordem, e isso nunca aconteceu. O mérito tem de ser dado aos viticultores, neste campo. A Câmara tem de estar aí para apoiar e uma das formas que teria de apoiar seria, por exemplo, a entrega do domínio da Quintas de Melgaço aos viticultores. Esta proposta, que o município acabou por adotar, de um aumento de capital por subscrição pelos privados, já foi feita por nós há mais de dez anos. E tem de continuar, senão a Quintas de Melgaço vai perder terreno e ficar para trás, porque não consegue alavancar projetos que tem em carteira, financiando-se por candidatura a fundos comunitários, enquanto tiver nas mãos do município mais de 25% do seu capital social. Outra das bandeiras usadas pelo executivo é o turismo. O turismo também tem sido trabalhado pelos particulares, fundamentalmente. Não somos dos concelhos que estamos pior, de facto, porque temos um grande número de dormidas, mas muito há a fazer ainda. Entendo que isto também é uma questão de mentalidade, os nossos agentes económicos têm andado um bocadinho de costas voltadas, mas nós temos de ter uma visão integrada daquilo que é o turismo, criando redes a ligar alojamento, restauração, oferta patrimonial, roteiros turísticos. Temos de fazer uma aposta forte no turismo de natureza, que é a nossa grande riqueza.

A par disto, não podemos abdicar da parte empresarial, do investimento privado e da indústria. Ainda estava eu como vereador na Câmara, a única vez que fui vereador, entre 2002 e 2005, salvo erro, e já era uma reivindicação da minha parte. Naquela altura, o presidente dizia que nós, Melgaço, tínhamos de viver de 3 A’s: Arte, Ambiente e Alvarinho, e que não precisávamos da indústria. A realidade, como é fácil de constatar, é que se não tivermos indústria, se não tivermos investimento privado, não vão ser criados postos de trabalho. Se não forem criados postos de trabalho, não há empregos, não há pagamento de salários, não se geram rendimentos, não se gastam através do consumo e esses rendimentos incrementam na economia local e não teremos as condições necessárias para instalarmos aqui os nossos jovens, dos quais muito carecemos. Portanto, esta aposta de investimento privado, sem o qual entendo eu que Melgaço não terá futuro, é fundamental. Vemos outros concelhos a fazê-lo, com incremento das zonas industriais, com atração de investimento, e temos de fazer um trabalho muito grande a esse nível, porque se estivermos nos nossos gabinetes à espera que as coisas nos venham bater à porta não vamos a lado nenhum.

A questão da interioridade: De facto, somos um concelho interior, temos coisas a melhorar a esse nível. Há uma reivindicação nossa e vamos continuar a lutar por ela, que é o prolongamento dos principais eixos rodoviários, neste caso da A28 até junto de Melgaço. Há uma saturação intensa entre Cerveira e Monção, impraticável para quem queira ter uma mobilidade reforçada ou para quem queira investir no território. Temos de melhorar as vias de comunicação, ter investimento e temos de nos virar para o mercado galego, do qual estamos completamente divorciados. Não há geminação com municípios próximos, as relações institucionais também não são as melhores, e temos um potencial fantástico, a vários níveis, aqui à porta. Falo, por exemplo, do AVE [Alta Velocidad Española] em Ourense, que é um fator de atração de investimento e de mobilidade, também para os profissionais, e estamos aqui a 30, 40 minutos. Temos uma plataforma logística [a PLISAN – Plataforma Logística Industrial de Salvaterra – As Neves], onde se vão implantar muitas empresas e se prevê criar milhares de postos de trabalho.

Leia e entrevista na íntegra na edição impressa de setembro do jornal "A Voz de Melgaço".
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