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Pequena biografia das dez figuras homenageadas no início de 2025 com o título de Cidadão de Mérito do Município de Melgaço, e o essencial do seu discurso de agradecimento pela distinção (por ordem alfabética).
Texto na íntegra, conforme publicado na edição impressa de Fevereiro do jornal “A Voz de Melgaço”.
Nasceu no lugar do Outeiro, Castro Laboreiro, em 1967. Licenciado nas áreas de Matemática e Informática pela Universidade do Minho. Fez estudos após a licenciatura nas áreas da informática e ciências da educação. Foi fundador, juntamente com o Doutor José Domingues, natural de Lamas de Mouro, do “Núcleo de Estudos e Pesquisa dos Montes Laboreiros”, proprietário do jornal “Porto dos Cavaleiros”.
Investigador local com várias intervenções e publicações sobre Brandas e Inverneiras, refugiados da Guerra Civil Espanhola, Limites da Raia Seca, Contrabando, Emigração, Cão de Castro Laboreiro, entre outros.
Criador de cães e Presidente da Associação Portuguesa do Cão de Castro Laboreiro (APCCL), fundada em 20 de outubro de 2006, acérrimo defensor da preservação, promoção, divulgação e valorização desta raça autóctone ancestral. O seu papel e empenho são fundamentais para a continuidade e responsáveis pelo crescimento do concurso de Cão de Castro Laboreiro que, em 1983, que começou a julgar e a promover a raça e a autenticidade genética que desde então contribuem para a história de Melgaço.
“É com enorme honra que recebo esta destinação. Agradeço também a todo o executivo e à Assembleia Municipal. Fico extremamente agradado quando vejo que preservamos e valorizamos o nosso património histórico e cultural. A cultura local é uma riqueza. É indispensável que os nossos jovens conheçam a nossa cultura local, para poderem manter a nossa identidade e passar aos descendentes. A cultura local, hoje, também gera riqueza.
Melgaço recebe milhares de pessoas por ano que vêm conhecer o que temos e experienciar o que é nosso. A matriz cultural de Castro Laboreiro, nos últimos 150 anos, foi criada por muita gente de muitas latitudes. Podia falar de José Leite Vasconcelos, o ‘pai’ do Museu Nacional de Arqueologia. Podia falar de Rocha Peixoto, que fez as primeiras fotografias, em 1902, de Castro Laboreiro. Podia falar de Maria de Lamas…
Vou referir três pessoas, especificamente. Uma delas é o arquiteto Roberto Leão. Foi o responsável por colocar o Castelo de Castro Laboreiro tal como está hoje, ou seja, criou roldanas e foi buscar pedras às encostas adjacentes para construir a muralha que temos hoje e que é uma jóia do nosso concelho. Infelizmente deixou muito pouco escrito. Foram várias campanhas e ele escreveu muito pouco.
Os mais idiotas, como eu, pensam que a médio-longo prazo, o castelo de Castro Laboreiro sofrerá uma nova reconstrução. Falo especificamente da Torre de Menagem, da capela de Santa Bárbara, que lhe era adjacente e algumas torres de vigia. O Castelo ganharia outra vida, é um monumento nacional, e teria outra atração.
O padre Bernardo Pintor nasceu no dia 21 de dezembro de 1911 e morreu em 1996, no dia 1 de março. Era castrejo, esteve décadas em Riba de Mouro. O concelho Melgaço deve-lhe muito. Era um pároco rural, mas escrevia com o método científico de um académico. Não há nada que lembre o padre Bernardo Pintor. Eu e o José [Domingues] às vezes passamos na campa dele – está sepultado no Ribeiro de Cima. Nunca soubemos do espólio dele. Poderia estar no Arquivo da Câmara Municipal de Melgaço.
O terceiro é o padre Aníbal Rodrigues, que nasceu em 31 de janeiro de 1919 e faleceu a 10 de março de 2003. É reconhecido, teve uma ação social fantástica, humanista. O trabalho dele, de mais de 50 anos de pároco, foi brutal, mas é pouco conhecido. Foi um defensor e era um apaixonado pela cultura de Castro Laboreiro. Sabemos o quanto acarinhava o Cão [a raça], sabemos que recebeu quase todos os académicos ilustres que chegaram a Castro Laboreiro.
O espólio cultural nunca é um pacote cristalizado. Devemos estar sempre a acrescentar coisas e, infelizmente, também perdemos coisas. Por isso, é importante continuar a trabalhar e gastar dinheiro na cultura. É indispensável”.
Nasceu em Monção, em 1962, numa família ligada à agricultura e à vinha. Licenciado em Engenharia Agroindustrial, pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, começou a carreira de enólogo em 1988. Com uma pós-graduação em enologia na Escola Superior de Biotecnologia do Porto, da Universidade Católica Portuguesa, Anselmo Mendes seria reconhecido em Portugal como Enólogo do Ano, em 1998, apenas dez anos depois de começar a sua carreira.
É reconhecido não apenas pela excelência dos vinhos que produz, mas pela forma surpreendente e consistente como inova. Os vinhos de Anselmo Mendes são o resultado de uma longa e fiel ligação à terra, de um espírito experimentalista e estudioso e de uma filosofia de respeito pelo ecossistema e pelo território. O nome Anselmo Mendes transporta a sub-região além-fronteiras.
“No negócio onde eu estou, um dos fatores mais importantes é o tempo. Não Podemos queimar etapas, é realmente determinante. Alguém dizia que o que custava eram os primeiros 200 anos, e realmente isto é um negócio geracional e, acima de tudo, é um negócio muito generoso. Porque fazemos coisas que já não vamos usufruir delas. Portanto, podemos construir com esta generosidade algo que fica para os que vem a seguir a nós. E essa é a minha filosofia. Comigo trabalha também um dos meus filhos.
Quando nós construímos uma empresa, não visa só o lucro. Também, claro, mas visa construir todos os que trabalham conosco, e esses são muito importantes para mim, porque, na verdade, eu sozinho nunca faria nada. A toda a gente que esteve à minha volta, é para eles também, o agradecimento”.
Natural de Melgaço, António Luís Cerdeira nasceu no mundo dos vinhos e das vinhas, que o levaram ao curso de Enologia na UTAD, concluído em 1994. Depois de completar seu estágio na Borgonha fez a sua primeira colheita como enólogo. Desde sempre ligado ao crescimento da Soalheiro, foi impulsionador da inovação e do crescimento da marca que estimulou todo o processo de crescimento e afirmação da sub-região de Monção e Melgaço.
Da plantação da primeira vinha de alvarinho à criação do primeiro espumante de Alvarinho, em 1995, António Luís Cerdeira foi, de formas distintas, inovador e pioneiro de um processo contínuo de crescimento.
Recentemente o mar tornou-se a sua nova grande descoberta, a 20 quilómetros da costa atlântica, encontrou um novo local com vinhas e adega, que complementam a filosofia da Vinevinu, da vinha ao vinho. Vinevinu nasce na vindima de 2024, fruto do entusiasmo partilhado entre Luís e Manuel Cerdeira, pai e filho, ambos enólogos, que decidiram criar um projeto inovador no Norte de Portugal, na região dos Vinhos Verdes, com o objetivo de explorar a versatilidade do Alvarinho.
Num processo de constante crescimento e transformação, António Luís Cerdeira é fruto e impulsionador da casta alvarinho.
“Antigamente, dizíamos bem de Melgaço e do Alvarinho, agora que estamos fora, com o projecto, vamos dizer o que aqui é o melhor Alvarinho. Estamos completamente isentos e podemos afirmar isso, porque na verdade é, e é um legado de gerações.
Muito obrigado a todos (os viticultores), sem eles, e aqui concretamente numa zona de minifúndio como Melgaço, não era possível as nossas empresas terem o crescimento que tiveram. Tem de existir matéria-prima, e felizmente houve um acompanhamento do investimento da viticultura à medida que o Alvarinho era conhecido internacionalmente e nacionalmente. Se isso não acontecesse, não seria possível o nosso crescimento.
Felizmente temos gente de perfil raiano, de alguma génese contrabandista, muito resiliente, que consegue rapidamente perceber onde está o negócio. Há 50 anos não havia negócio de uvas.
Estamos a falar de território, de natureza, de viticultura, de viticultores e é muito importante também deixar o legado do nosso conhecimento. Estou muito contente por o meu filho seguir os passos. E estamos a aprender um com o outro e a deixar, sobretudo, uma genética de crescimento, de paixão pela terra.
Estamos num concelho do interior que é muito afortunado por ter uma agricultura próspera. Assim, continuamos a manter isto. Tudo isto ajuda a agricultura, a economia do vinho, a restauração e a hotelaria. Por isso, continuem a gostar de Melgaço, pelo menos, tanto como eu gosto”.
Natural de Paços, concelho de Melgaço, onde nasceu a 24 de outubro de 1965, Augusto Francisco Pires é um exemplo notável de perseverança, trabalho e dedicação. Com apenas 16 anos, partiu em busca de melhores oportunidades, iniciando a sua vida profissional em França, onde construiu uma sólida carreira, no ramo da construção, ao longo de décadas.
Apesar do sucesso alcançado além-fronteiras, o amor pela sua terra natal nunca esmoreceu. Em 2018, regressou a Melgaço, determinado a investir e a contribuir para o desenvolvimento do concelho. Atualmente, é responsável pela exploração das Termas de Melgaço através da empresa Cura Aquae e lidera a reconstrução do antigo Hotel das Termas do Peso, um projeto que reflete a sua visão e empenho em valorizar o património local.
Homem de espírito empreendedor e trabalhador incansável, Augusto Francisco Pires é uma inspiração para todos, demonstrando que o sucesso pode e deve ser colocado ao serviço da comunidade e das suas raízes.
“Agradeço a homenagem e não posso esquecer a pessoa que fez com que o projeto se realizasse, que é o meu sócio, o meu grande amigo, Maxime. Muito obrigado”.
Aos 16 anos, Carlos Codesso viu uma oportunidade à sua espera no mundo dos vinhos e decidiu agarrá-la.
Tudo começou em janeiro de 1974 quando, Carlos Codesso, inspirado pelo seu pai, Manuel Codesso, deu os primeiros passos na construção de um legado que se estende até os dias de hoje e iniciou as primeiras plantações de alvarinho na sub-região de Monção e Melgaço, designadamente em Paderne.
A sua visão pioneira, levou-o, 16 anos depois, em 1990, à criação da marca Dona Paterna, altura em que Carlos Codesso lançou no mercado o seu primeiro vinho, o 100% Alvarinho. A marca estabelecia então as bases para uma trajetória marcada pela qualidade, tradição e inovação.
Ao longo destes 50 anos, não só se consolidou como uma referência na produção de vinhos de excelência, como também contribuiu significativamente para o desenvolvimento da viticultura na região.
Carlos Codesso tem apostado em diferentes segmentos, apresentando hoje um vasto portfólio, com diferentes perfis, quer de alvarinho como de outras castas, assim como de espumantes e aguardentes, mas o Alvarinho continua a ser o ex-libris da marca. Os seus vinhos têm sido galardoados um pouco por todo o mundo.
“Recordo-me que o porta-enxerto veio de Bordéus para a Estação Agrónoma de Coimbra, e de Coimbra veio de comboio até Monção, onde o fui buscar [veio para três ou quatro pessoas] mas os únicos que se propuseram plantar num terreno, foi realmente o meu pai e o João Cerdeira [pai de António Luís]. O meu pai, nos primeiros tempos, foi apelidado de tolo, por estragar uma propriedade que produzia milho, deu cabo do campo. No segundo ano, quando se começaram a plantar, como era porta-enxerto, não era enxertado, era bacelo, começou-se a pôr as cruzetas e naquela altura a plantação era em cruzeta. Paderne tem a parte alta, que é Sante, e olhavam para o campo, parecia um cemitério. Então, diziam, “além de ser tolo, vai por lá um cemitério”.
Em 1978, depois das vindimas, guardei o bagaço e comecei a fazer aguardente. Comprei [na Valinha] umas barricas de carvalho e comecei então a envelhecer aguardente. Só saíram para o mercado há meia dúzia de anos, há aguardentes com quase 40 anos.
No princípio dava um trabalhão, não havia as máquinas que há hoje para trabalhar a vinha, era tudo à mão. As pessoas olhavam para aquilo e ficavam um bocado receosas, se valia a pena, se não valia…
Eu já não gostava muito de apanhar as vides, mas não havia tratores, não havia as ganchas. Mas recordo-me que, a partir dos anos [19]84, 85, 86, já não apanhava vides, porque as pessoas começaram então a perder o medo e iam lá buscar as varas para enxertar. A partir de 85, 86, começou realmente a ver-se que as pessoas já perdiam o medo e começaram a apostar no Alvarinho.
Em 90 resolvi fazer marca, perdi o medo. Hoje, quem passa vê que realmente toda a província está cheia de vinho. Já não é só um hobbie, faz parte da economia local. Nós, como marca, podemos ajudar a divulgar e a trabalhar melhores estes produtos e espero que as gerações futuras compreendam isso e continuem. Faço votos para que as próximas gerações realmente continuem com este entusiasmo”.
Foi em 1974, há 50 anos, que Fernando Rodrigues, depois de regressar da tropa, decidiu abrir o restaurante Jardim, na altura ainda como uma pequena taberna, com um pequeno jardim com macieiras em frente à casa, que inspirou o nome.
Com o passar do tempo e a difusão da qualidade do cozido à portuguesa e do bacalhau frito com cebolada, Fernando Rodrigues, ao lado da esposa, sentiu necessidade de alargar o restaurante, procurado por portugueses e espanhóis que, ainda hoje, atravessam a fronteira e esperam as longas filas para comer no Jardim.
A paixão de Fernando Rodrigues não se fica pela gastronomia e em 2006 decidiu avançar com a produção de Alvarinho. Desde 2007, com a ajuda dos filhos, engarrafa e comercializa a marca de alvarinho “Casa de Canhotos Alvarinho”. O vinho e espumante Casa de Canhotos tem sido reconhecido a nível nacional e internacional pela sua relação preço-qualidade.
“Quero agradecer desde já ao sr. Presidente da Câmara, à minha mulher e aos meus filhos. [A família] foi quem me ajudou mais”.
José Domingues nasceu em Lamas de Mouro, em 1969. Licenciado em Direito e com Doutoramento em História do Direito e das Instituições, é professor auxiliar na Universidade Lusíada Porto, Faculdade de direito, desde 2008.
Atua na área de Ciências Sociais com ênfase no Direito. Nas suas atividades profissionais interagiu com quatro colaboradores em coautorias de trabalhos científicos, publicou cerca de 30 artigos em revistas especializadas e três livros.
Juntamente com Américo Rodrigues fundou o Núcleo de Estudos de Castro Laboreiro e colaborou, com alguma regularidade, com artigos no Boletim Cultural da Câmara Municipal de Melgaço.
“No âmbito da cultura há muita coisa a dizer, a Câmara Municipal efetivamente tem muito a fazer. Ocorre-me apenas, talvez até para consolo pessoal, justificar o porquê deste prémio, que para mim foi uma surpresa. O primeiro critério acho que é pelo facto de eu ser natural de Lamas de Mouro, este está plenamente justificado, ou seja, cidadania melgacense originária. O outro, fiz apenas a 4ª Classe em Lamas de Mouro, para estudar e [exercer] toda a minha atividade profissional, fui obrigado a sair do concelho, mas hoje a distância também não é propriamente um obstáculo. De qualquer forma, o segundo critério tem a ver com a minha vida profissional, que está também estritamente ligada a Melgaço e a Lamas de Mouro.
Sou professor universitário e a minha investigação começou exatamente com uma monografia sobre a minha terra natal, com a investigação científica local e o primeiro amor literário foi, efetivamente, essa monografia sobre Lamas de Mouro. Curiosamente, foi a partir daí que surgiu o convite para depois continuar os estudos e fazer o doutoramento em Santiago de Compostela.
Da minha parte, estarei sempre disponível para colaborar com Melgaço e os melgacenses”.
Vianense, nascido na freguesia de Vila de Punhe, em 1940. Constituído Diácono na Igreja Matriz da Póvoa de Varzim e, concluído o curso Teológico, foi ordenado na Sé de Braga, em 1964.
Durante o exercício do seu ministério pastoral, em Chaviães, foi reconhecido pelo vanguardismo pastoral. Esteve envolvido em atividades educativas, culturais e sociais; foi membro fundador da Associação de Fomento Social e Educacional; criou um Centro de Formação Familiar com valências de OTL, Jardim Infantil e Dinâmica Familiar; foi dirigente do Corpo Nacional de Escutas e animador de vários grupos de jovens.
Licenciado também em História, pela Universidade do Porto, em 1980, deixou a carreira eclesiástica.
Concluiu o Curso do Património Histórico-Artístico, Natural e Etnográfico, no Centro Nacional Cultura, em Lisboa, e frequentou o curso de Mestrado em Antropologia Cultural, na Universidade do Minho.
Dedicou grande parte da sua vida ao ensino: foi docente de Português, História, História de Arte, Ciências Sociais e Antropologia e, entre outros cargos de relevância, Presidente do Conselho da Escola Secundária de Santa Maria Maior.
É autor e coautor de diversificados projetos culturais, nomeadamente Memória e Fronteira e Ribeira Lima – Cluny (França); coordenou a publicação do livro “Olhares Multidisciplinares – Branda da Aveleira”, editado pela Câmara Municipal de Melgaço; e foi o grande impulsionador do Dia do Brandeiro.
Atualmente dedica-se à pesquisa antropológica no Alto Minho e colabora com várias instituições culturais.
“Comecei a conhecer Melgaço no dia 14 de agosto de 1965 e a partir daí nunca mais deixei a paixão pela gente de Melgaço e pelo território. Isso levou-me a empenhar-me em algumas iniciativas. Aqui em Melgaço desenvolvemos aquilo que foi referenciado, mas mais recentemente foi o projeto Memória e Fronteira, que tem nome no museu, ou Centro de Interpretação. Olho para a Torre do Castelo do Melgaço e vejo ali quase como uma síntese da história deste território, que vai do Rio Minho até ao rio de Castro, Laboreiro, não esquecendo o Rio Mouro, ou o Trancoso. Enfim, há aqui características que são próprias de uma zona raiana, mas é uma zona raiana onde começa Portugal e o mar não chega. Gosto muito desta frase e aprecio muito. Mas o rio Minho tem uma grande força cósmica e os melgacenses têm uma alma grande.
A dinâmica da sociedade melgacense, às vezes resumo-a do seu ponto de vista económico: o período do contrabando, depois veio o período da forte emigração (e permitam-me dizer que eu e uns amigos publicámos, nos cadernos de Melgaço, um artigo sobre isso) que no ano de 1963/64, no Tribunal do Melgaço houve 833 processos devido à emigração clandestina.
Tempo de aventura, mas tempo de sofrimento. Estão envolvidos os homens, mas também senhoras, os passadores e padres também, que beneficiaram e ajudaram a ir realmente para a Europa a ganhar dinheiro. Por fim, surge o período que foi mais referenciado, que é o período do Alvarinho. Quem não conhece o Alvarinho de Melgaço e o trabalho benéfico para a economia?
Depois lançava outros trabalhos, neste caso o Memória em Fronteira. Mas o que mais me consola é termos feito aquele trabalho da Branda da Aveleira, há 28 anos, que é uma marca cultural de uma zona bonita, mas uma zona com história. Já foram referenciados aqui historiadores que fizeram trabalhos sobre isso. o livro de Ernesto Veiga de Oliveira, “Construções Primitivas [de Portugal]”, em que estão lá as cardenhas desenhadas.
Não vamos repetir aquilo que já foi feito, é preciso fazer para frente. E há projetos. Muitos, naturalmente, conhecem o projeto que iniciámos há uns seis anos, que é a Rota Cisterciense do Alto Minho. O mosteiro de Santa Maria de Fiães foi Beneditino, mas depois passou para Cisterciense. Então, temos no Ermelo, à beira do Rio Lima, o Mosteiro do Ermelo, nós em Melgaço temos o Mosteiro de Santa Maria de Fiães. Essa é uma rota do Alto Minho e Galiza. Estamos a ver quando é que vimos a Melgaço lançar a Rota Nacional da Cultura Cisterciense”.
Nuno Vieira e Brito nasceu em 1961. Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em 2002, tem Mestrado em Produção Animal pelo Instituto Agronómico do Mediterrâneo de Zaragoza em 1993 e licenciatura em Medicina Veterinária, pela Escola Superior de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, em 1984.
É docente da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo desde 1988, sendo professor adjunto desde 1994.
A par da sua atividade de docente, foi também diretor e responsável do Laboratório de Sanidade e Genética Animal da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, presidente do Conselho Pedagógico da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, coordenador científico da Pós-Graduação em Saúde e Segurança Alimentar e coordenador do Curso de Enfermagem Veterinária, da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, de 2006 a 2012.
Foi Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar entre 31 de janeiro de 2013 e 2015, no XIX Governo Constitucional.
É, atualmente, coordenador do Núcleo Tecnológico para a Sustentabilidade Agroalimentar (NUTRIR), que tem como missão a caracterização territorial, avaliação das potencialidades e condicionalismos das principais atividades agrícolas da região e a vitivinicultura e a produção animal numa perspetiva de investigação, desenvolvimento e qualificação para suporte à inovação empresarial, dinamização económica e promoção da sustentabilidade do território. Este projeto destaca-se pala capacidade de alavancar os produtos endógenos da região, sendo potenciador de empreendedorismo, e de ser catalisador de investigação e inovação.
“A minha primeira intervenção foi feita um dia quando o presidente da Escola Superior Agrária, quando havia uma dificuldade relativamente à IGP [Indicação Geográfica Protegida], relativamente ao Fumeiro de Melgaço. Por várias razões, ela tinha alguma dificuldade do seu ponto de vista do Caderno de Especificações e a Isabel Domingues e o presidente [Rui] Solheiro pediram intervenção da Escola Superior Agrária para fazermos a parte do Caderno de Especificações. E essa foi a minha primeira intervenção.
A segunda, também de maior dificuldade, foi quando fui convidado pelo Presidente [do IPVC] Rui Teixeira para ser vice-presidente do Instituto Politécnico. Nessa mesma semana solicitou, nesse encaminhamento, que viéssemos para Melgaço, para escrever os estatutos do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Portanto, foi uma segunda grande intervenção. ‘Difícil’ também, porque a cantina nessa altura, era o restaurante do nosso amigo Sabino e, portanto, continuava a ser uma tarefa ‘extraordinariamente árdua’, sempre ligada à área da alimentação.
O terceiro grande momento que tivemos foi particularmente mais difícil. Na altura ocupava outras funções e havia aqui um grande burburinho relativamente àquilo que era [o fim] da exclusividade da zona do Alvarinho, com a permissão para que na área restante [dos Vinhos Verdes], fosse permitido também plantar alvarinho. Não era o Secretário de Estado responsável desse setor, era outro colega, mas dada a minha proximidade com esta região, fui encomendado para que viesse até Monção acalmar os produtores da zona de Monção-Melgaço relativamente aquilo que era a nova realidade, a nova Portaria que deu origem a essa permissão.
Quando cheguei, através de alguém que colaborava comigo e que hoje é um grande amigo, Carlos Brandão (da ADRIMINHO), éramos alertados de que iríamos ter um conjunto muito grande de conflitualidade e que a própria Polícia Judiciária estava à procura de explosivos. Não seria de alguma forma simpático que o Secretário de Estado, na altura, que iria falar com os produtores e com os presidentes de Câmara, pudesse também estar presente numa situação que era explosiva. E eu disse, bom, vamos lá aos explosivos, lá fomos até a Monção. E a verdade é que o Alvarinho, com esta alteração, é hoje motivo de orgulho para a sub-região de Monção e Melgaço,
Esta minha nova área de função, relativamente a Monção e Melgaço, tem a ver com o NUTRIR, com Formação e Ciência. A construção de ciência e inovação em territórios necessita de renovação, e a renovação faz-se com ciência, com formação, com novas pessoas. É importante esta renovação. Ouvimos falar já numa segunda geração, que está agora nitidamente à frente de novas empresas, portanto, é fundamental que tudo isso seja feito à base de inovação e ciência.
Esse é, de longe, um aspeto importante do projecto que foi abraçado pelo presidente Manoel Batista e que a ele muito se deve. Não é nada fácil criar inovação e ciência em Melgaço. É mais fácil continuar a faze-lo em Lisboa, no Porto ou até em Braga. Dizem: Quem é que vai para Melgaço criar para ciência, criar inovação, investigar? É uma mentalidade difícil que é preciso contrariar. O presidente Manuel Batista tem sido um grande obreiro no contrariar de uma política que se diz descentralizadora, mas que depois, na prática, se torna cada vez mais difícil ser descentralizadora.
O NUTRIR é um esforço profundo nessa área. Temos um desafio muito grande em 2025, para que consigamos fazer o Centro de Valorização e Transferência de Tecnologia (CVTT), cuja candidatura já teve um papel relevante nesta estrutura. É importante dizer que esta afirmação, este CVTT é feito porque identifica fundamentalmente o Alvarinho. É um polo diferenciador região.
Feita em partilha com a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária, mas também com empresas, fundamentais para virem para a construção desta ciência porque é importante as novas pessoas, as novas gerações. Isso só é feito através de formação e ciência e conseguirmos criar aqui as mesmas condições que qualquer jovem possa ter em Lisboa, no Porto ou em Braga”.
Natural da freguesia de S. Paio, Melgaço, nasceu a 25 de abril de 1976. É licenciado em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e pós-graduado em Gestão de Riscos Naturais, pela mesma academia. É docente desde 2000, desenvolvendo, em paralelo, investigação centrada na História local de Melgaço. É responsável pelo blogue “Melgaço entre o Minho e a Serra”, onde partilha e divulga notícias históricas sobre o concelho.
É participante ativo no jornal “A Voz de Melgaço” desde 2015, no espaço “Viagens nesta nossa terra”, onde já foram publicados, até ao momento, mais de 100 textos sobre a História de Melgaço. Colaborou também com o periódico regional “Minho Digital” entre 2016 e 2020, fazendo publicar cerca de uma centena de artigos centrados no produto da sua investigação, relacionada com a História melgacense.
Escreveu, em coautoria [com Joaquim A. Rocha], o livro “Melgacenses na Iª Grande Guerra” (2018), tendo colaborado, entre outros, nos livros “Castro Laboreiro – Entre Brandas e Inverneiras” (2022), da jornalista Luísa Pinto, e “Castro Laboreiro” (2021), do arquiteto Ricardo Prata.
Muito se deve a Valter Alves na investigação e recolha de usos e costumes da terra com vista à formação do “Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço”, bem como na elaboração do Boletim Cultural, edição de 2024.
“A minha formação académica é em Geografia, embora o meu gosto pela História tem quase tantos anos como a minha existência. Na altura não fiz formação académica em História, porque muitos professores me disseram, “não vais para História porque há muitos professores de História no desemprego”, e era uma realidade na altura. Ao mesmo tempo, os professores com formação académica em Geografia eram relativamente poucos. Dizia-se que “professores de Geografia, há muitos que são a martelo”. Era a expressão que se usava na altura, porque de facto havia muita falta de professores de Geografia.
Cresci em frente à Igreja de S. Paio. Dentro de poucas décadas completam-se mil anos sobre a primeira referência documental dessa Igreja Paroquial. Não será aquela, naturalmente.
A minha paixão pela História, e fundindo aquilo que é a Geografia com a História, leva-me à minha paixão pela toponímia. Já muito se falou daquilo que é a identidade, o território, a memória de um povo. A conservação dessa memória para a posteridade é um dever de todos nós. Não posso deixar de saudar o excelente Arquivo Municipal que temos e o cuidado em tornar acessível, à distância, uma larga parte do seu espólio. Estamos a falar de um município que não tem o orçamento que outros municípios terão, mas é um excelente arquivo e um enorme esforço em preservar essa memória, aquilo que somos, e tantos desafios que a nossa terra enfrenta desde sempre.
Os problemas que temos hoje são diferentes dos que tínhamos há 100 ou 300 anos, mas há problemas que são de todos os tempos. A questão do despovoamento não é um problema que nasceu hoje, já em muitas alturas se tentou resolver. Cito uma medida com vários séculos, quando o rei D. João I criou o chamado Couto dos Homiziados aqui em Melgaço, que era dar a possibilidade a condenados por crimes relativamente leves de poderem vir para cá morar, trabalhar e residir aqui, em vez de cumprirem a pena em reclusão. Era uma medida para tentar combater o despovoamento. No passado, no presente e provavelmente no futuro, teremos de lutar constantemente contra ele.
Ainda sonho com o dia em que a História local seja ensinada nas escolas. Não simplesmente em projetos, mas integrando o currículo dos alunos. A construção dessa identidade tem de se fazer, e hoje em dia lutamos muito contra isso. Temos o problema de muitos jovens que estão desenraizados daquilo que é o seu berço, a sua terra e nós, melgacenses, temos aquela doença: podemos andar pelo mundo inteiro, mas o nosso berço está sempre aqui.
Muito obrigado aos órgãos municipais, e ao meu querido povo da minha terra, que será sempre a minha terra. Sai de cá há 30 anos, mas sempre que posso estou próximo”.