PME Líder 2024: Idade d’Ouro consolida 10 anos de solidez empresarial e quase 20 de iniciativa privada no sector social

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Maria José Dias e Rui Lobato, sócios da empresa que administra as residências séniores Idade d’Ouro em Melgaço e Arcos de Valdevez, acumulam, face aos resultados que já conhecem do galardão PME Líder relativo a 2024, a décima ‘placa’ distintiva – 10 anos, portanto – enquanto exemplo de bons rácios de autonomia financeira, rentabilidade e crescimento.

As vantagens do galardão que envolve entidades públicas e bancárias e que pode traduzir em maior crédito em banca, continua a ser um trunfo para a empresa gerente dos dois ‘lares’, que vem construindo desde novembro de 2006 em Melgaço e outubro de 2010 em Arcos de Valdevez, uma marca cada vez mais distintiva no sector social através das suas estruturas residenciais para idosos de iniciativa empresarial privada.

Em ambas as unidades a lotação é na ordem das quarenta camas cada. Em Melgaço, edifício residencial tem 2000 metros, quartos com 24 metros quadrados, com casa de banho, duas salas de convívio – uma para as atividades físicas e a outra para visitas – e uma sala de refeições.

Um terreno que era para projecto de recolha de uva, tornou-se lar de acolhimento social

Maria José Dias e Rui Lobato recordam os primeiros anos de um projecto que começou em finais dos anos 90, com a compra do terreno, até à primeira abordagem aos bancos.
“Se fosse hoje, nas mesmas condições, nós não teríamos financiamento. Mas na altura havia pessoas [nos bancos], hoje não conhecem ninguém, introduzem os dados, é tudo automático”, recorda Rui Lobato.

O espaço, que Maria José Dias sempre conheceu como “da Feira do Gado”, em Paderne, foi uma conquista tirada a ferros.

“A Feira do Gado era em baixo. Cá em cima [onde está instalada a residência sénior] era um campo de futebol pelado, tinha balizas e tudo. Este terreno tinha sido cedido para um projeto de uma adega, para recolha de uvas, mas não estava ligado à Adega de Monção, era uma associação de produtores que tinha esse projecto, mas tinham abandonado porque, entretanto, a Adega de Monção avançou com o Pólo. Então o terreno não era da Junta, porque ainda não tinha revertido, mas também já não era daquela associação, porque tinha dito que não o queria”, conta Maria José Dias.

Foi o primeiro de muitos passos – literalmente – para conseguir falar com cada um dos elementos da Assembleia local, conseguir resolver oposições a um projecto que parecia não se fazer explicar (ou não entendido devidamente) e a ajuda de familiares diretos para que finalmente o processo avançasse e o terreno fosse comprado, à altura, por cerca de 10 mil contos (cerca de 50 mil euros). Contudo, ainda hoje, frisam os sócios deste projecto social de iniciativa privada, há entraves por se encarar o projecto enquanto atividade lucrativa.

“Os privados nunca têm apoios na área social. Nós somos privados, somos do sector social, mas somos lucrativos. Todo o investimento tem de ser nosso, pago na totalidade, não nos podemos candidatar a nada. Isso é que está mal, porque uma empresa de talhos, por exemplo, se quiser remodelar ou renovar, concorre ao PRR, tem apoio. Não discordo, mas nós, que somos uma empresa privada, por prestarmos um serviço no âmbito do alojamento e do cuidado a idosos e temos objetivo do lucro, assim como um talho, não nos podemos candidatar a nada, não somos elegíveis. Acho que é para não competir com os lares das IPSS”, diz Rui Lobato, com visão pragmática face a todo o investimento feito nos últimos anos.

“A minha visão neste aspeto é muito simples. O lar tem que se pagar ele próprio. Quando não se pagar, fecha-se, porque então não andamos aqui a fazer nada. Não podemos depender do que o Estado dá, porque o que hoje dá, amanhã tira. Há muitas empresas a fechar por causa disso. Nós nunca tivemos”.

Idade d’Ouro em Arcos de valdevez

Que outras soluções há para um sector que vive de mão dada com a Segurança Social, que toma o pulso à área social de todas as empresas e IPSS que prestam este serviço? Maria José Dias explica como funciona hoje em dia os eventuais protocolos com os casos encaminhados por aquela entidade.

“Nós trabalhamos mais com a Segurança Social do Porto, que nos encaminha casos sociais. Solicitam-nos vaga e, se tivermos disponibilidade, aceitamos o residente. Durante o período em que está cá, eles fazem o pagamento das mensalidades, ou na totalidade ou uma parte. Se o idoso tiver 800 euros de reforma, por exemplo, e a mensalidade são 1400 ou 1500 euros, a diferença é paga pela entidade. Se o idoso tiver zero, tem que estar protocolado que o pagamento é da totalidade, para aquela situação”, esclarece.

Mas nem sempre foi assim. “Em determinada altura, as regras de pagamento das comparticipações em lar, nos privados alterou-se. E então, em vez de eles [Segurança Social] fazerem o pagamento da totalidade por aquele residente – os 1400 ou 1300 euros – só faziam o pagamento de 583 euros. E passámos assim anos e anos”.

Eram os primeiros passos de uma empresa agora consolidada e que, não descurando a missão social, tem de olhar primeiro para as contas. E não podem ser de soma zero.

“O que fizemos no início, que agora já não fazemos, era acolher toda a gente, mesmo que nos desse prejuízo, porque uma casa só se faz se as pessoas nos conhecerem e nos reconhecerem pelos cuidados que prestamos”, admitem.

E agora exigem menos quartos individuais. inicialmente, em 2006, quando começámos a trabalhar, exigiam 50% de camas de quartos individuais e 50% de quartos duplos. Daí só termos 36 ou 38. E, entretanto, já mudou mais do que uma vez.


Residentes que fazem vida de casal no Lar

Quando um casal consegue vaga no mesmo espaço, a residência que escolhem para viver os seus últimos anos torna-se o seu novo lar. Mas quanto dos hábitos da sua própria casa podem ser transpostos para o seu quarto, inserido na casa comunitária em que se inserem? Maria José Dias reconhece que há limitações que não permitem a vivência igual, mas aproximar a convivência do casal à vida que tinham antes.

“Temos quartos que estão dimensionados para só ter uma cama ou uma cama de casal. E temos casais. Por exemplo, aqui em Melgaço temos neste momento dois casais. Estão juntos, mas em camas separadas. Muitos casos têm dependências físicas, porque usam fralda ou porque precisam ser posicionados, não têm condições físicas para dormirem juntos. Mas em Arcos de Valdevez temos um casal que estava num quarto duplo, cada um com a sua cama, mas deitavam-se os dois na mesma e um deles andava sempre a cair da cama abaixo. Juntámos então as camas individuais, mas as nossas não juntam, como as dos hotéis, então um deles dormia sempre no buraco (entre colchões). Agora pusemos uma cama de casal, mas é o único caso e, desde 2006, foi a primeira situação que nos aconteceu assim”, frisou.

Os residentes de lar de hoje conseguem pagar uma mensalidade de 1700 euros?

A sempiterna questão em relação aos apoios aos idosos é o quanto pode custar ao cidadão comum um envelhecimento digno, quando as circunstâncias da vida não permitem que viva até ao último suspiro na sua própria casa.

À dificuldade em conseguir vaga, com lista de espera nem sempre alinhada com a urgência do utente, atirando-o por vezes para longe da localidade de origem, círculo familiar ou amigos, soma-se a da capacidade para pagar o que está referenciado como mínimo necessário ou viável para a própria instituição ou lar que o acolhe.

Pode Melgaço gozar de algum privilégio, tendo por base os emigrantes da primeira e segunda geração? Maria José Dias admite que sim.

“Nos primeiros três anos de existência teríamos, em 36 residentes, quatro de Melgaço ou Monção. Neste momento, temos pessoas maioritariamente de Melgaço e Monção, mas também Porto, Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca”.

“Neste momento a nossa mensalidade é de 1700 euros, mas em termos de extras, poucos cobramos. Os extras são os transportes, quando as pessoas não têm isenção de taxas, são transportes em ambulância, taxas de exames que eventualmente sejam necessários, consultas de especialidade, medicamentos ou outros que não sejam comparticipados. O resto assumimos nós. O custo médio real, que foi apurado ultimamente pela União das Misericórdias para as IPSS, é por volta dos 1600 euros. Nós cobramos 1700. Se o custo real é 1600, estamos mesmo aqui no limite do aceitável de um idoso em lar. Com a agravante de que nós não temos isenção do IVA, pagamos IRC, pagamos tudo como uma empresa”.

Maria José Dias

Que tipo de residente pode pagar? “Já tivemos alguns ex-bancários, professores. Neste momento, a maior parte das pessoas são ex-emigrantes. Esta geração que agora estamos a acolher eram extremamente poupados, coisa que nós agora não somos. Apesar de muitos deles terem reformas de 600 ou 800 euros, no máximo, têm economias suficientes, que chegam para fazer os pagamentos e ainda poderão sobrar. Depois temos alguns residentes que têm reformas de França que equilibram isto e outra parte são os filhos que assumem”, identifica a responsável.

E há quem espera meses por esta solução. “Quando nos surge uma vaga, conseguimos acolher outra pessoa no imediato. Temos famílias que já temos de referência para contacto, caso surja uma vaga. Por exemplo, se o contacto for numa semana ou 15 dias, volto a contactar. Se for superior a um mês ou dois, já não, a não ser em situações que me dizem que ficam à espera. Uma das últimas situações que eu admiti, em Arcos, a pessoa tinha falado conosco em março de 2024, eu liguei-lhe em agosto de 2024 e ainda estava à espera. Ainda não tinha procurado alternativa. Estava à espera que lhe ligase”, notou.

Estabilidade emocional na 3ª Idade. Mudança pode ser fatal

Pelo número de camas que dispõem entre os dois espaços da Idade d’Ouro, os responsáveis podem gerir eventual mobilização de residentes, conforme a proximidade dos familiares à pessoa colocada ao cudado do lar, mas Maria José Dias frisa que qualquer transferência tem de ser tratada “com pinças”. A mudança de contexto, para um utente com alguma demência ou outra doença psicológica incapacitante, pode ser fatal.

“Há famílias que, depois do idoso estar cá, apesar da distância, já não pedem para o mudar. O idoso está integrado, está bem, também temos que ver se o idoso deseja sair ou não. Em situações de demência, Alzheimer ou outro tipo, transferir a pessoa não é muito feliz. Tivemos uma situação muito particular de um idoso em que a família nunca teve interesse em que nós o transferíssemos, ele esteve conosco 3 ou 4 anos aqui [Melgaço]. De repente, a família disse-nos que queria que o mudássemos. O senhor foi para lá [Arcos de Valdevez] e num mês o estado dele agravou-se tanto que acabou por falecer. Era dependente, mas conseguia andar, conseguia comer pela mão dele, e com a mudança deixou de andar, ficou mais triste, infeliz e, num mês, morreu”, exemplifica.

Sinergia com economia local, da fruta à padaria

Desde a padaria à mercearia, passando pelas frutas e outros frescos, tudo é comprado nos fornecedores locais, a pessoas que a empresa conhece pelo nome. “O talho é no Sr. João Lima; em termos de frutas e legumes é no Nova de Melo, ao Paulo, a quem compramos para os dois lares [Melgaço e Arcos]; no supermercado compramos com o Nelson, do Minipreço; na padaria é o Samuel; a medicação é na farmácia Gonçalves. A economia local tem de ser dinamizada de alguma maneira, não é? Nunca foi nosso hábito ir às grandes superfícies, como a Makro”, diz Maria José. “E não temos preços mais elevados do que nas grandes superfícies. Conseguimos ter preços aqui muito equilibrados”, reitera.

Portugueses pouco disponíveis para o trabalho de auxiliar de ação direta

Empregam cerca de meia centena de trabalhadores, no total das duas residências (23 em cada um dos lares), mas admitem ser cada vez mais difícil contratar pessoas com disponibilidade para aprender, autonomizar-se nas funções e ter gosto pelos cuidados.

“O desgaste emocional desta atividade é bastante. As pessoas que contratamos, nos contratos a prazo, pagamos o salário mínimo, exceto os enfermeiros e a animadora. E temos gente a trabalhar connosco desde 2007 e 2008, esse pessoal ganha um bocadinho mais. Temos salários diferenciados, principalmente pelas competências que tem e pela qualidade que mostram. O custo com o pessoal é fixo e é o mais pesado para a empresa, mas é o mais sensível e é aquele em que temos que realmente apostar”, indica.  

Contudo, a nova fase de contratação de colaboradoras está a tornar-se um desafio. “Talvez há coisa de quatro, cinco meses, nota-se que as pessoas não aceitam que lhes digam nada. Vem dois ou três dias, depois ligam a dizer que já não vem trabalhar mais. A contratação é francamente penosa”, notam.

Maria José Dias aponta algumas problemáticas inerentes. “Esta área é, provavelmente, uma das mais fáceis para arranjar trabalho, só que não é a mais fácil para trabalhar. Nem todo o pessoal que nos chega gosta deste tipo de atividade, porque é trabalhar com uma faixa etária debilitada, física e mentalmente, e nem sempre temos capacidade, cada um de nós, para tratar e ver esta fase do envelhecimento. É lidar com um cenário de fim de vida e o desfecho. Todo o cuidado que estas pessoas exigem em termos de tratar, de controlo, de alimentação e dos cuidados e atenção que lhes temos que dar… É por isso que oscilamos muito em termos de pessoal, porque não admitimos determinadas atitudes ou determinados comportamentos das funcionárias com os nossos residentes. Os cuidados têm de ser excelentes, é por isso que temos sempre a casa cheia e somos uma referência entre as famílias. A nossa publicidade são as famílias”, esclarece a responsável.


Imigrantes já são metade da equipa. Empresa pondera oferta de alojamento em casas modulares


“É cada vez mais difícil arranjar pessoas de nacionalidade portuguesa para trabalhar”, identifica ainda Maria José, reconhecendo que é cada vez mais a imigração a manter operacional o cuidado com os idosos, filhos ou avós da geração que está a trocar o trabalho na área social “pelos supermercados”.

“ainda existe alguma de mão-de-obra de imigrantes brasileiros e venezuelanos, portuguesas, não. Ainda hoje, das três entrevistas que fiz, são três brasileiras. [Na equipa de trabalhadoras] temos doze portuguesas, em vinte e três. A outra metade são venezuelanos, brasileiros e uma miúda que é da República Dominicana”, expõe.

Integrar é um desafio? “É fácil. Em termos de linguagem é extremamente fácil. Alguns dos brasileiros que entrevistamos trabalhavam em meio hospitalar. Eles têm um curso de Auxiliar de Enfermagem, que nós não temos cá, são os nossos técnico-profissionais de cuidados familiares ou algo assim, mas mesmo as pessoas que vêm de outra experiência totalmente diferente, que nunca trabalharam na área, integram-se. Se gostam de cuidar, integram-se facilmente”, reconhece Maria José.

“O futuro [para a área social] são imigrantes, não são os portugueses. Porque muitos dos portugueses que tivemos cá, foram trabalhar para os supermercados, embora lá tal como nós, o trabalho é de segunda a domingo. Aqui as folgas são rotativas. São oito horas, em termos de pagamento é exatamente igual, os fins de semana nesta atividade não são pagos com acréscimo. Só as horas noturnas e o trabalho suplementar, a existir é que é pago com acréscimo”.

“As folgas são rotativas e é por turnos. O da tarde sai à meia-noite. Nesses casos, temos a preocupação de ver que quem faz o horário da tarde, sejam pessoas que têm retaguarda familiar, ou não têm filhos. Além dessa preocupação, temos de ver os que não têm carro. Muitas destas pessoas que chegam, algumas não têm carta porque nas cidades onde eles viviam, Rio de Janeiro, São Paulo, por exemplo, têm transportes públicos, e há outros que têm carta, mas se já mudam de país é porque têm alguma dificuldade, não tem dinheiro para arranjar um carro já”, explica ainda a sócia-gerente da Idade d’Ouro, que já ponderou uma forma de enquadrar no mundo do trabalho quem chega sem condições de mobilidade.

“Já pensamos em ter capacidade para alojamento. Ainda não se manifestou essa necessidade urgente, mas ponderamos as casas modulares, completamente equipadas. Vimos algumas soluções dessas, de T2 e T3. Não é uma solução definitiva e acredito que as próprias pessoas não queiram que isto seja uma solução definitiva, mas durante seis meses, enquanto procuram outra alternativa. Muitas vezes, quem chega precisa de poupar e este alojamento não seria cobrado, estavam ali durante o período que precisavam, depois faziam a sua vida. Mas é uma ideia que, a qualquer momento podemos precisar dela. Porque vão ser necessários cada vez mais imigrantes”, considerou.

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