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Em 2021, os irmãos Francisco e Juliana Durães retomaram o projeto iniciado há cerca de vinte anos pelo pai, que já produzia uva e que, em 2004 ou 2005, decidiu criar uma marca própria, em homenagem a Cícero Cândido Solheiro (1878–1947).
O homenageado é sobejamente conhecido da comunidade melgacense. Fundador da empresa Auto Melgaço e do Animatógrafo Salão de Melgaço – nos anos de 1912 e 1913, respetivamente – sendo este último um projeto que, por meios e iniciativa privada, trouxe os primeiros sinais de luz elétrica às Termas do Peso, onde funcionava o Animatógrafo.
Era, segundo o jornal Correio de Melgaço de 24 de agosto de 1913, “uma bela casa de recreio (…) profusamente iluminado a luz elétrica e pintado com muito gosto artístico”, que deslumbrava ainda por ter um “piano-concerto acionado a eletricidade”. Era o deslumbre tecnológico absoluto no início do século, em terra raiana.
Para termos noção do avanço elétrico que Cícero trouxe àquele parque, a iluminação por rede propriamente dita – com contrato de fornecimento para o Peso, ainda anterior à eletrificação da vila – só aconteceria no final da década de 1920, pela Companhia do Tambre (Corunha – Galiza), e na vila de Melgaço em 1931, pela empresa J. Valverde & C.ª (também da Galiza).
É sobre este nome, com reconhecida carga histórica – e bisavô do lado materno, daí a proximidade à figura homenageada – que Francisco e Juliana, em 2021, ressuscitaram o projeto iniciado 17 anos antes.
Era o consagrar de uma produção de uva que estava a ser vendida (e parte dela ainda continua) há 37 anos. De uma pequena parte dos cinco hectares de produção, os jovens empreendedores selecionaram um lote, que resguardaram em cerca de 2600 garrafas. Renovaram a imagem idealizada pelo pai, reforçaram a homenagem “ao senhor da terra”, com honras de síntese histórica e fotografia.
Estrearam, na Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço, a renovada imagem e o seu primeiro vinho “oficial”, para dar a conhecer e preparar os primeiros passos na restauração local e no pequeno comércio.
“Nós produzimos com a colheita 2021. Na altura tínhamos um rótulo diferente. Entretanto, contratámos uma empresa para elaborar a melhor estratégia, tendo em conta a nossa ideia. Essa empresa aconselhou-nos, concordámos em reestruturar, já que era uma homenagem ao bisavô”, contam a este jornal.
Para já – e como se entenderá, perante o volume engarrafado – o projeto Cícero ainda só começa a ganhar ambição. “É a nossa paixão, mas neste momento, o vinho não nos permite deixar a nossa profissão. Cada um tem o seu trabalho”, referem.
Juliana Durães trabalha numa empresa do setor metalomecânico (Glammfire) e Francisco Durães numa empresa de comercialização e distribuição de produtos para a agricultura (Casa Agrícola), mas ambos querem, um dia, dedicar-se em exclusivo ao seu projeto de herança familiar.
Sobre o vinho, Juliana diz que há quem lhe pergunte se o vinho estagia em barrica. “Não tem barrica, é completamente tradicional. Não é suavizado em madeira, é apenas vinho feito tradicionalmente com uma fermentação apenas. As notas de madeira ou outras são apenas da envolvência da própria uva, que são de videiras com alguma idade, com mais de 35 anos, então tem uma maturação própria da própria uva, é diferente”, explica.
A personalidade da uva, além da idade, tem influência do rio Minho – em cuja margem se situa a parcela que lhe dá origem – e do savoir-faire do enólogo Abel Codesso, que ajuda a afinar o perfil enológico deste vinho digno de homenagem e do qual já conhece bem o potencial das vinhas plantadas nas margens do Minho.