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Poema: Miguel Rodrigues
Foto: [Lamas de Mouro] João Martinho/AVM
Miguel Rodrigues, de Melgaço, frequentou a Escola Básica e Secundária de Melgaço juntamente com as vítimas do trágico acidente que ocorreu na madrugada de domingo, em Lamas de Mouro. No rescaldo da tragédia, alinhou em poema o sentimento de um coração que chora, ainda a processar o sucedido, nuns primeiros dias de choque após a perda. Imagina um futuro que já não pode ser e pede “A todos vós, luzes da noite fria / Que com raiva me veem espirrar palavras / Esperem por nós e vejam onde chegamos”.
Um poema escrito com o coração, em homenagem aos mortos deste acidente, que recomendamos muito a sua leitura, no dia em que Melgaço começa a dar um ‘ultimo adeus’ a uma das vítimas do fatal acontecimento que deixou o concelho de luto.
A todos vós [homenagem]
No papel sujo e rasgado da sala
À espera que eu nele escreva
Descarrego dores à música de Zeca
Lembrando um passado à luz das estrelas.
Aprecio esta cegueira.
Esta aragem noturna
Que me faz fechar os olhos
E imaginar um futuro mais luzidio:
A praia nortenha banhada com os nossos sorrisos,
A cerimónia de graduação daqui a 4 anos,
As brincadeiras inocentes dos nossos filhos,
A celebração do quinquagésimo aniversário,
O fino septuagenário à beira do parque,
A despedida na altura certa.
Faço destas palavras vãs e efémeras
As lágrimas que ontem não derramei
Os abraços que devia ter dado,
As memórias sentidas e jamais esquecidas.
A todos vós, luzes da noite fria
Que com raiva me veem espirrar palavras
Esperem por nós e vejam onde chegamos…
Porque em cada canto desta vila
Em cada menino que desta escola saia
Há e haverá sempre, um pouco de todos vós.
Até amanhã, meus amigos…
Miguel Rodrigues
Parabéns, palavras bonitas…abraço