A propósito do pelourinho de Melgaço


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Texto de José António Barreto Nunes, publicado na edição impressa de Novembro do jornal "A Voz de Melgaço".
Barreto Nunes reage ao texto "Onde ficava, em tempos antigos, o pelourinho da vila de Melgaço?", de Valter Alves, publicado na edição impressa de Outubro e também online. Para ler o texto que antecede esta reação clique aqui. 

Na última edição de A Voz de Melgaço, li com muito agrado um texto intitulado “Onde ficava, em tempos an­tigos, o pelourinho da vila de Melgaço?”, da lavra de Val­ter Alves, historiador local que sigo com muita atenção.

Pareceu-me um texto exaustivo sobre a inventaria­ção das fontes que o autor conseguiu recolher acerca do Pelourinho de Melgaço, nomeadamente uma planta da vila de 1700, uma escritura de 1718, um edital de 1824, assentos paroquiais de 1828, 1829 e 1833, bem como uma escritura de 1878, citada por Augusto César Esteves na sua abundante obra, que permitem fixar o local onde existiu, concretamente nas proximidades da Travessa da Cadeia Velha.

Do que me apercebi, não existe nenhuma descri­ção nem sequer um esboço ou um desenho que recorde como era o Pelourinho de Melgaço. E, nas terras mais próximas, bem conservados, apenas existem os Pelou­rinhos de Castro Laboreiro e do Soajo, que foram sedes de concelho até meados do século XIX.

Os Pelourinhos são um tema que me interessa em particular, até porque ando a recolher fontes sobre os de Monção, meu berço, e de Braga, cidade onde resido há quase setenta anos.

Como sabem, os pelourinhos, inicialmente chama­dos de picotas, existiram desde a Idade Média até ao constitucionalismo dos primórdios do século XIX.

Os pelourinhos tinham duas funções primordiais, a penal e a publicista. No que aqui importa, fiquemos pela função penal, que deixou a memória impressiva do seu simbolismo negativo enquanto local de exposição e humilhação de presos e de mutilações diversas, que foi a que prevaleceu até hoje; a outra, função publicitária, que deixou uma marca positiva, porém quase esquecida, foi a da manifestação da autonomia do poder concelhio.

Com o advento do liberalismo, seguiu-se uma fase de destruição de muitos pelourinhos por esse país fora, por se ter entendido que simbolizavam o poder abso­luto. Porém, em meados desse século, quando a guerra civil acabou, logo a seguir à Revolta da Maria da Fonte e à Patuleia (patas ao léu), voltou a olhar-se para os pelourinhos como símbolos do poder local e muitos dos que tinham sido apeados ou destruídos voltaram a merecer a atenção dos cidadãos mais cultos.

Melgaço, como Monção viram os seus pelourinhos destruídos e as suas componentes perdidas sem retro­cesso até hoje.

Como ando a investigar e irei escrever proxima­mente na imprensa local sobre o Pelourinho de Mon­ção, apercebi-me que existem mais alguns registos e, inclusive, um desenho a recordar como era, da lavra de um antigo funcionário camarário – Sr. Diocleciano Torres – logo no início do século XX, quando algumas das suas pedras ainda estavam abandonadas nas proxi­midades das Portas do Sol, tendo depois sido utilizadas na urbanização do espaço das Caldas.

Os documentos conhecidos do Pelourinho de Mon­ção constam de actas ca­marárias de meados do século XIX, quando foi deliberada a sua demoli­ção e foram inventariados pelo grande historiador local que foi o Dr. Garção Gomes, de cujo trabalho me tenho aproveitado.

Quanto ao texto que acabei de ler sobre o Pelourinho de Melgaço, constato que nada vem referido sobre delibera­ções camarárias; será que não existem registos no Arquivo Municipal local?

Na recente crónica deste jornal em que me apoio, vem referido, a final, que “Junto à entrada do solar do alvarinho, existe uma pedra que se encontra depositada no chão e que tem uma inscrição numa das faces. Será importante no futuro estudar o conteúdo de tal inscrição para confirmarmos ou refutarmos a hipó­tese de a mesma ter algo a ver com o velho pelourinho desta vila de Melgaço”.

Foi esta frase que me fez recordar que num dos mais actuais estudos sobre Pelourinhos que estive a consultar, me apercebi da referência ao Pelourinho de Melgaço.

E, efectivamente, em seu reforço, recordei-me que, no autêntico compêndio sobre a matéria que é a obra de E. B. de Ataíde Malafaia, intitulada Pelourinhos Por­tugueses, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 2005, p. 498, tinha visto uma fotografia da referida pedra exis­tente no Solar do Alvarinho, com a seguinte anotação do autor:

“… Em Melgaço, dentro da muralha, existe a rua da Cadeia e, logo no seu começo, um edifício de as­pecto medieval com janelas fortemente gradeadas. Jun­to a uma das janelas encontra-se, aparentemente arru­mada, uma pedra trabalhada com inscrições, que pode muito bem ter sido a pedra terminal do Pelourinho. Nada mais conseguimos apurar e tão-pouco consegui­mos resposta da Autarquia à nossa correspondência”.

Aliás, seria interessante ler e transcrever a referida inscrição, como Valter Alves também refere, para ver se nos dá algumas luzes sobre a origem da pedra ou se foi acrescentada posteriormente.

Desculpem esta minha intromissão sobre assuntos culturais de Melgaço, mas é um tema que me apaixona e que me levou a escrever este breve texto sobre a his­tória do Pelourinho de Melgaço.

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