O Hotel “Quinta do Peso”: Como tudo começou, em 1901…

Depois do aparecimento do Hotel Ranhada, no início da última década do século XIX, o novo século inicia-se com a fundação de um outro hotel junto às termas do Peso.

Nascia, em 1901, o Novo Hotel Quinta do Pezo que resultou da adaptação do antigo palacete dos Viscon­des do Peso. O seu primeiro proprietá­rio foi precisamente o antigo sócio do Sr. Ranhada no Grande Hotel, João Luiz Fiffe, sociedade que tinha sido dissolvi­da em Outubro de 1900. O Sr. Fiffe, mais tarde, viria a vender este novo hotel a José Joaquim Esteves, algum tempo de­pois.

No periódico local, “Jornal de Mel­gaço”, na edição de 9 de Maio de 1901, podemos ler sobre o aparecimento deste novo estabelecimento hoteleiro no Peso:

“Novo Hotel do Pezo
O nosso pre­zado colega “Districto de Vianna”, referindo-se a este novo hotel diz o seguinte: Nesta luxuriante região alpestre Monsão e Melgaço e que à sua justa nomeada de região vinha­teira por excellência junta a mere­cidíssima fama das Águas Mineraes do Peso, que alli chamam, todos os annos, innúmeros doentes vindos de todos os pontos do paiz e ainda do estrangeiro a procurar, para graves padecimentos, os seus effeitos therapêuticos verdadeiramente miraculosos, vem de estabelecer-se um hotel de proporções grandiosas que sendo para a estância aquista um melhoramento de grande alcance é a maior comodidade que poderiam desejar os clien­tes daquellas águas privilegiadas.

Intitula-se este estabelecimento “O Novo Hotel do Peso” e é seu proprietário o Sr. João Fiffe, cava­lheiro extremamente amável que em benefício do bem-estar e comodidade dos aquistas não duvidou arriscar consideráveis capitaes.

O Novo Hotel do Peso, estabelecido em uma vas­ta quinta, tem installações admiráveis para grande número de hospedes e com os seus bellos jardins em torno, avistando-se d’elles um horizonte tão formoso como amplo, com caminho interior para as nascentes e com todos os requisitos de hygiene e salubridade é sem dúvida um dos primeiros es­tabelecimentos no seu género do paiz que se torna absolutamente digno de ser procurado por todos os que demandam aquellas paragens em busca de alívio para os seus soffrimentos.

As águas do Peso estão hoje fazendo concor­rência victoriosa às de Mondariz não só pelas suas propriedades medicinaes como pela formosura da região, onde ficam situadas e pureza e salubridade dos seus ares e modicidade dos preços da manu­tenção ali.

Ocioso será mencionarmo-lo, mas como haverá por certo muitas pessoas doentes que o ignorem, devemos dizer que as águas do Peso tem sido em­pregadas com grande êxito para tractar bronchites chrónicas, diabetes, chloroses, dyspepsias, gastaI­gias, padecimentos de intestinos, do fígado, dos rins, da bexiga e ainda outras affecções das muitas que aflligem o género humano.

Parece-nos pois um bom serviço recomendar aos nossos leitores não só aquellas águas como o esplêndido hotel a que nos vimos referindo.

Efectivamente, as obras de accréscimo no novo hotel estão já muito adiantadas, podendo por isso, no corrente anno, receber um grande número de hóspedes. Na nascente das águas foram também, ultima­mente, introduzidos alguns melhoramentos de re­conhecida importância.”

Um dos seus primeiros hóspedes foi o conselheiro Manuel Francisco Vargas, ministro das Obras Públicas, que vinha acompanhado pela sua esposa, tendo-se, por esta altura, instalado no hotel um telégrafo.

A respeito da presença desse hóspede ilustre, re­fere o ”Jornal de Melgaço”, na sua edição de 23 de Julho de 1901:

“Ultimamente, devido à visita do illustre Ministro das Obras Públicas que, no fim deste mez, para ali vem fazer uso daquellas mira­culosas águas, montou-se n’uma das dependências d’aquelle bello hotel uma estação telegraphica, a qual é, sem dúvida, de muito interesse para os aquistas. Apraz-nos registar que é encarregado de tal estação o nosso amigo, sr. Alípio de Castro Azevedo. Este melhoramento era de reconhecida necessidade, e por isso bem andou o digno Mi­nistro das Obras Públicas, mandando proceder à sua realização. Parabéns, pois, a todos os aquistas em geral pela comodidade que acabam de possuir.”

Note-se que a forte procura das termas do Peso não encontrava, por esta altura, resposta em termos de disponibilidade de dormidas nos dois hotéis em fun­cionamento. A este respeito, atente-se numa notícia do “Jornal de Melgaço”, edição de 20 de Agosto de 1901, onde se lê:

 “Esta estância d’águas, sem dúvi­da uma das melhores do nosso paiz, está sendo de cada vez mais concorrida. Os dois hotéis acham-se completamente apinha­dos de hóspedes e, a todo o momento, se esperam muitos mais. Até as próprias casas particulares têm recebido aguistas, o que prova que são muitas e maravilhosas as curas que tem feito”.

O “Novo Hotel Quinta do Pezo” foi, uns anos mais tarde, comprada por José Figueiroa Granja, de Vigo, que o adqui­riu em 19 de Fevereiro de 1912 a José Joaquim Esteves. Para a sua exploração constituiu-se a sociedade “Figueiroa & Ribas” na qual participava um outro ga­lego chamado Don Francisco Ribas. Tal como o Ranhada, era tido como um ho­tel de elevada qualidade onde os clien­tes saiam muito satisfeitos. A avaliar pelos anúncios publicitados da época, o serviço era exigente. Num anúncio, po­díamos ler:

Não termina sem referir a existência de luz elétrica no estabelecimento. Chama à atenção para a sua ”mag­nífica capela com missa todos os domingos e dias santificados”. Este anúncio transmite um toque perso­nalizado ao atendimento o hotel dizendo aos clientes que os pedidos podem ser feitos diretamente ao pro­prietário José Figueiroa.

Viria a fechar por volta de 1970 e atualmente en­contra-se em reconstrução…