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MDOC [Os filmes do dia]: O que sabemos sobre Teerão, a terra onde dançar na rua é “corrupção e prostituição pública”?
“Astiyazh Haghighi e Amir Mohammad Ahmadi, ambos com 20 anos, tornaram-se virais nas redes sociais de todo o mundo quando publicaram um vídeo a dançar juntos em Teerão. O momento foi interpretado como romântico por uns e símbolo de resistência ao regime por outros, devido à localização escolhida: em frente à Torre Azadi, ou Torre da Liberdade. O vídeo não passou despercebido às autoridades iranianas, que detiveram o casal em novembro [de 2022] por violação do princípio da modéstia e comportamento desadequado em público. As mulheres não estão autorizadas a cantar ou a dançar em público (muito menos na companhia de um homem) e Astiyazh surgia ainda sem o véu islâmico, de uso obrigatório”.
Notícia da CNN Portugal, de 1 de Fevereiro de 2023
A notícia, por sua vez, não passou indiferente à comunidade internacional e ganhou hype por cá em Janeiro deste ano, quando se soube que o casal iraniano fora condenado a dez anos e seis meses de prisão. Por dançarem na rua, mas o Tribunal de Teerão considerou que o casal encorajou a “corrupção e prostituição pública” e “intenção de perturbar a segurança nacional”.
Pelos acontecimentos mais recentes, o mundo ocidental sabe da resistência, da luta nas ruas, mas, o que sabemos sobre as pessoas? O que sentem, como lidam com a ideia de terem um véu entre si e o mundo, um filtro tendencioso, que censura o corpo da mulher e não lhes dá os mesmos direitos?
Sreemoyee Singh, realizadora do filme em destaque de hoje, de Calcutá, Índia, enfrentou este desafio. Inspirada pelo cinema iraniano e pela poesia de Forough Farrokhzad, viajou para Teerao para testemunhar como a resistência se torna um acto diário de sobrevivência na sociedade iraniana. Em “AND, TOWARDS HAPPY ALLEYS” (2023), apesar da censura rigorosa do regime islâmico, a realizadora reúne uma série de entrevistas eloquentes e francas com o cineasta Jafar Panahi, activistas e mulheres iranianas. Ao longo de seis anos, estas conversas com a câmara capturam habilmente as ansiedades, medos, esperanças e sonhos latentes de uma nação a beira da revolução.
Sobre a realizadora:
SREEMOYEE SINGH
Sreemoyee Singh é uma cineasta de Calcutá, Índia. Completou o PhD em “O Cineasta Exilado no Irão pós-Revolução” pela Universidade Jadavpur, que lhe proporcionou viajar, inspirada pelos mestres do cinema iraniano. Esta viagem levou à filmagem do seu primeiro documentário de longa-metragem And, Towards Happy Alleys (Be Kucheye Khoshbakht), aprendendo persa no Instituto Lexicon Dehkhoda e no Centro de Estudos Persas em Teerão. A sua pesquisa aprofundada sobre o cinema do Irão deu-lhe acesso exclusivo a cineastas, artistas, ativistas e mulheres iranianos que, de outra forma, desconfiam da interação com os média estrangeiros.
And, Towards Happy Alleys foi lançado no Festival Internacional de Cinema Berlinale (secção Panorama) e foi exibido em mais de uma dezena de festivais de cinema, ganhando o primeiro prémio no BAFICI na Argentina. Sreemoyee trabalhou também como professora assistente de estudos de cinema na Universidade St. Joseph’s, em Bangalore, e professora convidada na New York University, Abu Dhabi (NYUAD).
Os filmes de hoje:
15:00 | Exibição dos filmes candidatos ao Prémio Jean-Loup Passek MARGOT de Catarina Alves Costa | Portugal, 2022, 72′ | Casa da Cultura |
17:00 | Exibição dos filmes candidatos ao Prémio Jean-Loup Passek I WAS BORN IN 1988 de Yasaman Baghban | Irão, 2022, 9′ AND, TOWARDS HAPPY ALLEYS de Sreemoyee Singh | Índia, 2023, 75′ | Casa da Cultura |
18:30 | Exibição dos filmes candidatos ao Prémio Jean-Loup Passek DREAMS’ GATE de Negin Ahmadi | França, Irão, Noruega , 2023, 78′ | Casa da Cultura |
21:30 | Exibição dos filmes candidatos ao Prémio Jean-Loup Passek DON’T WORRY ABOUT INDIA de Arjun Jr. Nama Filmcollective | Suiça, 2022, 90′ | Casa da Cultura |