Melgaço em Festa 2024: Cortejo Histórico – Uma verdadeira aula de História melgacense vai desfilar pelas ruas a 10 de Agosto

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De Filipa de Lencastre à Revolta de Maria da Fonte, passando pelo Tomás das Quingostas, leia este guia para saber o que vai ver


Após uma aclamada reação e significativo sucesso na concretização da primeira edição, em 2023, o programa Melgaço em Festa volta a apostar no Cortejo Histórico, que percorrerá a Rua da Calçada e ruas do Mercado Medieval no dia 10 de Agosto, a partir das 17 horas.

Abel Filipe Marques, Chefe da unidade de Cultura, Museus e Património do Município de Melgaço, marcou presença na apresentação oficial do programa que marcará a primeira quinzena de Agosto e destacou cada um dos momentos históricos que as freguesias interpretarão no Cortejo Histórico deste ano.

“A ideia foi traçar uma espécie de friso cronológico, uma linha temporal, escolhendo cinco épocas que marcaram a ocupação humana do território de Melgaço, desde a pré-história, passando pela romanização, pela época medieval e chegando à época contemporânea. Nesta segunda edição, a ideia é optarmos por uma visão mais em pormenor e de episódios, factos, lendas e valores que fazem parte das tradições da comunidade de Melgaço”, observou.

Portanto, em 2024, as 13 freguesias do concelho vão regressar à Idade Média e ficar por aí, explorando episódios que significarão algo de especial a cada uma das localidades.

Fiães explorará o momento da visita da rainha Filipa de Lancastre ao Convento de Fiães, em 1387. “Este episódio está enquadrado, historicamente, com a lenda de Inês Negra”.

Roussas, Chaviães, Paços e Cristóval viajam até meados do século XVI, à lenda da Senhora da Orada e os clamores.

“Uma lenda que é ainda hoje lembrada, uma vez que associa o papel desta santa na proteção do povo perante a epidemia da grande peste que assolava a região nessa altura. Dando origem aos clamores, que seriam manifestações de agradecimento e que tiveram origem em 1570, pelas freguesias, na altura, de Cristóval, Paços, Chaviães, Vila, São Paio e Prado. Os coutos de Fiães e Paderne e pela freguesia também de Riba de Mouro, na altura do Termo de Valadares”, explicou Abel Filipe Marques.

São Paio recordará a lenda – que é “factual” – de Tomás das Quingostas. “Embora fosse um bandoleiro que visitou muitas freguesias em Melgaço, Espanha e freguesias de concelhos vizinhos, foi mais ativo e teve mais residência na freguesia de S. Paio”, recordou o programador cultural, notando que a lenda “factual” está associada à guerra civil portuguesa de 1832 a 1834 “as chamadas guerras liberais, guerra miguelista ou a guerra dos dois irmãos”.

Penso e Alvaredo celebrará “a valentia das mulheres” e uma outra guerra, com particularidades.

“Ficou conhecida como a Revolução das Mulheres no século XIX, em 1846, ou a chamada Guerra Civil da Patuleia, Guerra Civil do Povo, ou a Revolta da Maria da Fonte”.

Abel Filipe Marques cita fonte histórica que nos conta que, “na Primavera de 1846, tudo começou numa aldeia minhota, quando um grupo de mulheres, armadas de foices e gadanhas, decidiu protestar contra a nova Lei que as proibiam de enterrar os seus mortos no interior das igrejas”.

E explica porque é que o tema implica Penso e Alvaredo: “Isso terá sido uma das medidas que revoltou o povo e, porque foram mais ativas, a revolta das mulheres. E porquê estas freguesias? Porque está referenciado que as mulheres de Penso e Alvaredo, na altura, se manifestaram muito ativamente nessa revolta”.

O século XX (ou vinte) vai ser o que mais representações terá, de momentos com muita riqueza e singularidade etnográfica, mas também de momentos de “ouro” da vida social e turística do concelho.

Prado, Remoães e Paderne recriarão o ambiente termal no início do século XX, sobretudo a primeira década (entre 1900 e 1910), representando “aquele ambiente que se tornou, ao longo de muitas décadas seguintes, uma marca turística do concelho de Melgaço e que se pretende reavivar”.

Castro Laboreiro e Lamas de Mouro assumirão um registo muito próprio e também pouco explorado etnograficamente:  As castrejas (ou crastejas) e as mulas de carga, destacando o papel das mulheres e o das mulas no transporte de mercadorias, produtos e pessoas.

“É um tema de extrema importância histórica, social e económica para a comunidade de Castro Laboreiro, lembrando aqui dois aspetos: A facilidade de mobilidade na complexa rede viária da freguesia de Castro, a ligação entre Brandas e Inverneiras. Estamos a falar de cerca de 30 a 40 aldeias que tinham uma rede viária muito complexa de calçadas e pequenos carreiros. Portanto, só para fazer aquela mudança, tinham a necessidade de um transporte e, neste caso, as mulas foram extremamente importantes para esta mobilidade”.

Mas nem só de mobilidade local, em transumância ou utilização diária, as mulas foram determinantes. As trocas comerciais, partindo dos mesmos caminhos pedonais, contavam também com este meio de transporte.

“Estes animais foram de extrema importância para Castro Laboreiro fazer aquilo que eram as trocas comerciais à altura. Até pelo isolamento da freguesia, bem distinta do resto do concelho, os produtos agrícolas eram de sequeiro, como o centeio e a batata, tinham a necessidade de ter esta relação com a pré-montanha e com a ribeira para vir buscar milho, vinho, e trazer em troca o centeio e a batata, e isso era feito com a utilização das mulas”.

Mas até quando a revolução industrial provocou efeitos no modo de vivência da população de montanha, as mulas foram “protagonistas” dessa transição, como explica Abel Filipe Marques.

Castro Laboreiro, como a Branda da Aveleira, viviam praticamente dos recursos naturais que existiam na montanha. Então, as casas eram feitas em granito e a cobertura era feita em colmo. A partir das décadas de 40, com a chegada da telha, estas mulas também foram muito importantes para a distribuição da telha em toda a freguesia, para o transporte interno e distribuição da telha. Portanto, é um tema importante em Castro”, frisou.

Cousso, Gave e Parada do Monte fecham com festa um cortejo rico em História e pequenas grandes histórias, assumindo os anos 70 do século vinte e a forma como se vivia os casamentos da altura.

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