Gave: Moradora diz viver em “ambiente de máfia”. Natural da freguesia exerce direito de resposta ao que considera ser “ofensa deliberada a toda uma aldeia”

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Na edição de agosto, o jornal “A Voz de Melgaço” reproduziu uma carta/denúncia de Eva Monteiro, com o título residente na Freguesia de Gave, onde comprou casa, na qual insta o jornal a dar voz à sua denúncia, onde se queixa de ruído, vandalismo à sua casa, alegando situações que já lhe terão gerado receio e chamadas à GNR.

Transcrevemos na íntegra a Carta Aberta/denúncia da moradora, publicada na edição impressa de 1 de agosto de 2025, assim como o Direito de Resposta, em defesa dos habitantes da freguesia, assinado por Amado Fernandes, publicado na edição de 01 de setembro deste jornal.

“As aldeias de Melgaço estão condenadas a desaparecer?”, por Eva Monteiro

“Questiono-me se A Voz de Melgaço é mesmo a voz de quem cá vive, quero acreditar que sim. E por isso, escrevo a minha experiência tendo recentemente comprado casa para viver nesta zona. Saímos da cidade para viver num sossego que afinal é um engano.

É uma pena que a Freguesia de Gave não queira receber pessoas novas para combater o envelhecimento da população e dinamizar a zona. Em menos de 2 anos a viver neste local, já tivemos de chamar a GNR várias vezes. Ora bloqueiam o portão de casa impedindo-nos de sair, ora nos mandam de volta para a nossa terra (tenho isto em vídeo), ora a nossa casa é alvo de vandalismo e a Junta de Freguesia ignorou o e-mail em que apresentei prova fotográfica desse momento tão ‘simpático’ das boas gentes de Gave.

Hoje mesmo, dediquei-me a escrever este texto porque não posso dormir: o meu vizinho decidiu que às 22h30 era uma boa altura para estar às marteladas no pátio, com a rebarbadora a ecoar por todo o lado. Impossível dormir. Quase se está melhor na cidade. Engane-se quem tem o sonho bucólico de que nas aldeias de Melgaço se pode ir para a cama às 22h00. Só se o vizinho não responder que faz o que quer e que vá dormir para a minha terra. Não são todos. São os suficientes para fazer desta linda aldeia um sítio péssimo para viver. É pena, há cá boa gente que não merece a fama que outros dão à sua terra. Mais pena tenho de não ter ouvido os relatos que depois descobri, de pessoas que saíram desta terra por não aguentarem o ambiente de máfia que cá se vive. E esses, ao contrário de nós, até nasceram cá.

 
É mesmo uma pena, tentar expulsar quem vem para aqui viver, contribui com impostos e não chateia ninguém. Raramente estou fora da casa, não vejo TV com frequência. O meu companheiro entra mudo e sai calado, não ouve música. Ao contrário da vizinhança, os meus cães não ladram com frequência (muito menos a noite toda como é comum aqui). Questiono-me se é esta a imagem que Gave quer apresentar ao mundo: cidadãos que não respeitam a lei, que não respeitam quem cá vive e que preferem fazer de tudo para expulsar quem não lhes fez mal. 

Não admira que tenham cada vez menos moradores, Gave oferece o pior que o Alto-Minho pode oferecer: má educação, ambiente de terra sem lei, vandalismo, provocação gratuita e má vontade em receber quem vem para cá viver. Para não falar nas ameaças e na antipatia recorrente em tudo. Nem a Junta de Freguesia se digna a responder a e-mails. A GNR é chamada várias vezes, até hoje apareceu cá uma vez. Também não respondem a emails. Não foi esta a imagem que me venderam, mas é a realidade de uma zona em que quem vem de fora é mal tratado. Fossemos nós pessoas mais frágeis, já teríamos ficado com medo muitas vezes.

Se há uns tempos atrás publicitei esta aldeia a vários colegas que anseiam como eu, em sair da cidade, hoje digo-lhes: não comprem cá casa, as pessoas daqui vão fazer tudo para vos expulsar. Mais vale deixar morrer a aldeia. Não faltará muito.”


DIREITO DE RESPOSTA a “As aldeias de Melgaço estão condenadas a desaparecer?”, por Amado Fernandes

“Não sou seguidor das redes sociais e só agora li o razoado que a senhora Eva Monteiro publicou no jornal “A Voz de Melgaço” de 01 de agosto de 2025, página 17, relativamente à freguesia da Gave e não às “Aldeias de Melgaço”, como refere no título.

Como pessoa natural e proprietário nessa freguesia, embora não residente, não posso ficar indiferente às barbaridades e insultos que esta senhora faz da minha terra. De facto, não se pode falar assim duma terra, por muita liberdade de ex­pressão que tenha.

A senhora ignora o “modus vivendi “das aldeias mi­nhotas e julgou que estas são lugares mortos, apagados, de gente pacata ou ignorante, onde nada acontece e tudo é silêncios e calma – o éden. Santa ignorância!… as aldeias minhotas têm vida, muita vida, trabalha-se afincadamente o campo e não há tempo nem relógio nem horas para fazer as múltiplas tarefas.

Queixa-se a senhora dos ruídos dos vizinhos a ho­ras impróprias, dos cidadãos que não respeitam a lei (?), de ser vítima de atos de vandalismo e dos cães da aldeia que ladram toda a noite e não vos deixam dormir… Isso não é agradável, porém conclui que, afi­nal, “quase se está melhor na cidade.” Surpreendente! Efetivamente na sua cidade não deve haver o bulício noturno dos fins de semana, as sirenes das ambulân­cias, dos carros polícia, os desacatos dos delinquentes, etc.

Senhora Eva, a Gave não é “um sítio péssimo para viver” como diz, alguma coisa teve de acontecer para a situação chegar ao ponto que descreve e o leitor gos­taria de saber como tudo começou, mas a senhora não o diz.

Afirma, também que já chamou várias vezes a GNR, mas que só vieram uma vez e que denunciou, via e-mail, a sua situação à Junta de Freguesia, mas que esta a ignorou… surpreende-me que a GNR tenha vindo ape­nas uma vez à Gave depois da senhora a ter chamado tantas vezes. Porque será que não vieram sempre que a chamou? Já não me surpreende que a Junta fique indi­ferente aos seus e-mails pois não é da sua competência solucionar as desavenças da senhora com os vizinhos, mas, por outra parte, julgo ser da competência da junta denunciar judicialmente aquilo que a Senhora publicou no seu artigo de imprensa.

A dada altura do seu escrito, a senhora Eva afirma ter conhecimento “de pessoas que saíram desta ter­ra por não aguentarem o ambiente de máfia que cá se vive.” Máfia? Que máfia? Uma organização criminosa estruturada? A senhora tem provas do que afirma? Isto é muito grave, senhora Eva. Mas acrescenta mais, e diz que a “Gave oferece o pior que o AltoMinho pode oferecer: má educação, ambiente de terra sem lei, van­dalismo, provocação gratuita e má vontade em receber quem vem para cá viver.

Meu Deus!… A senhora tem a coragem de vazar num artigo do jornal da terra, todo o fel do seu interior e arrasar não só a fregue­sia da Gave, mas todo o concelho de Melgaço (veja-se o título)? Palavras como “máfia”,” terra sem lei”, “vandalismo” são insultos gratuitos, muito graves e inadmissíveis. A Gave não é a Cova da Moura, nem o Congo ou a Somália. A Gave é uma aldeia de gente boa, trabalhadora e afável que recebe bem quem quer ser bem-recebido.

Senhora Eva, porque não vai à GNR e faz uma de­núncia por escrito, apresentando as provas que diz pos­suir, com testemunhas ou então vá a um advogado e instaure um processo crime (o advogado saberá qual) contra a(s) pessoa(s), (ou toda a freguesia), que lhe fa­zem a vida impossível e assim resolver a coisa duma vez por todas?

Quem leu o que a senhora publicou sobre a minha terra ficou com a ideia que os únicos santos da Gave são vocês, mas eu, como conhecedor profundo das gentes da minha terra, não creio na vossa santidade.

Recordo-lhe, também, que foram vocês que escolheram a Gave e não a Gave que vos escolheu a vós. Aliás, não são as aldeias que tem de se adequar a quem chega, são estes que tem de se moldar/ajustar à vida, aos usos e costu­mes, à cultura e tradições, aos ruídos e modo de viver da aldeia. A senhora Eva foi muito infeliz ao publicar este artigo porque, não só não resolveu o seu problema, mas antes o agravou ainda mais e ofendeu deliberada­mente toda uma aldeia de gente boa, mas não imbecil e o que publicou deixa antever o tipo de gente que vocês podem ser.

Uma última coisa: se a Gave é o que a Senhora afirma no artigo do jornal da nossa terra que todos os melgacenses leem aqui e no estrangeiro, o melhor que pode realmente fazer, e que eu, em vosso lugar, faria é juntar a tralha, carregar a carroça, vender ou abandonar a barraca, “sacudir o pó dos vossos pés” (Lucas 9: 5) e dar de abalada para outra terra onde não haja cães a ladrar toda a noite.”

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