Publicidade
Vindimas 2024: Mais uva e qualidade de excelência na colheita
Uma das grandes empresas do mercado local da produção de vinhos, a Quintas de Melgaço S.A., regozija-se com um ano de “uma campanha boa, quer em termos de quantidade, quer de qualidade”.
Pedro Soares, administrador, indica que “há mais uva do que no ano transato. No nosso caso concreto, serão aumentos na casa dos 30%, e a uva também apresenta uma qualidade de excelência, que contrasta muito com a podridão e com o seco de 2023”.
O olhar atento dos viticultores e dos técnicos da Quintas de Melgaço levou a que o agendamento da vindima seja cada vez mais cedo e o período que “há vinte e poucos anos terminava em finais de outubro”, este ano finalizasse no dia 21 de setembro, já com prolongamento para recepção dos vinhos verdes tintos.
“O tempo quente e as temperaturas elevadas acabam por condicionar fortemente, gerando uma antecipação da vindima ao longo destes últimos anos. Por outro lado, também o procurar de terras mais altas, com noites mais frescas, para a uva não ser afetada na sua quantidade nem qualidade”, diz Pedro Soares, observando que a colheita “abaixo da Estrada Nacional” tem uma maturação muito mais rápida, o que não é necessariamente bom para o agendamento de colheita nem para a acidez equilibrada “que se procura nos alvarinhos”.
O que não representa desvantagens para a Quintas de Melgaço, que pode, face “à diversidade de acionistas” em termos de localização geográfica, ter também “uma diversidade da tipologia do vinho”.
“É Alvarinho, mas não é todo igual. Uma parcela de Paderne não produz um vinho com as mesmas características de uma parcela de baixo Alvaredo ou de baixo Peso, por exemplo. Nós até diferenciávamos por três patamares, que era baixa altitude, média e alta”, refere.
Desta variedade de parcelas, Pedro Soares admite que sairão “vinhos equilibrados, de muita qualidade. A uva tem sido excelente, nota-se por vezes uma certa heterogeneidade da uva, uva mais graduada, e outra não tão bem graduada, mas o estado sanitário é excelente, é perfeito, por isso tudo leva a crer que vamos ter vinhos excelentes”.
A produção de 2024 irá “superar as 700 toneladas”, o que significa “um ano normal”. Num ano de produção plena, chegariam a um máximo de 850 a 900 toneladas de uva alvarinha”.
O preço por quilo de uva mantém-se nas margens lançadas em 2023, como explica o responsável. “O preço da uva acima de 11,5 graus é de 1,35 euros e paga até dezembro. Acaba por ser uma vantagem, também para permitir aos agricultores fazer face aos custos que têm. Abaixo de 12,5 graus é de 85 cêntimos o quilo, mas posso garantir que 98% das uvas que recebemos estão acima dos 11,5 graus”, avançou.
Apesar de perda significativa nas vendas através dos canais Horeca, representativos na hotelaria e restauração, o administrador indica que a empresa está “a conseguir estabilizar as vendas” e os stocks são reduzidos e escoarão “até ao final do ano”, com as festividades de dezembro a contribuir para a limpeza de armazém (e esse – o armazém – é outro problema, como já veremos abaixo).
“Estamos mais ao menos estabilizados. Temos feito alguns investimentos. Na parte da produção, na linha produtiva, de forma a poder estar totalmente automatizada. No momento ainda não está totalmente, mas queremos modernizar toda a linha de enchimento. Temos comprado várias máquinas e estamos a investir na parte da adega em si, em equipamentos novos. Na linha de engarrafamento já não vê nenhuma máquina da origem, é tudo novo. Mas é a pouco e pouco”, frisa.
Modernizar seria “mais fácil” se Câmara Municipal perder posição maioritária
Pedro Soares diz que a Quintas de Melgaço terá vantagens no concurso a fundos comunitários se a Câmara Municipal passar a deter apenas 49% da estrutura acionista.
“Temos sempre o handicap dos fundos comunitários, a que não nos podemos candidatar, ou seja, é tudo feito com capitais próprios, o que ainda torna mais difícil, porque estamos a falar de equipamentos caros. Compramos um filtro tangencial [filtra vinho e borras] que custou 120 mil euros mais IVA. Ou seja, 150 mil euros”, começa por explicar.
O “bloqueio” chegou quando a Câmara Municipal, em meados dos anos 90, se tornou acionista maioritária da Quintas de Melgaço [por doação de Amadeu Abílio Lopes]. Antes disso, “na altura do Sr. Amadeu, ele candidatou-se a fundos comunitários. Agora, nós temos essa limitação, ou quando nos podemos candidatar é a projetos destinados a grandes empresas, nas quais as taxas de incentivo são diminutas, de 15%. já não justifica. Só o trabalho de fazer as candidaturas, pagar…”, expõe o responsável.
E nem as “várias exposições” aos vários Governos tem ajudado a contornar o regulamento, a “recomendação” europeia é taxativa quanto às condições de acesso. “A única forma é como estamos a fazer agora: Um aumento de capital social de forma a Câmara ficar somente com o 49%. Para desbloquear, depois, temos que dar o passo mais longo e esse, enfim, é mais complexo. Tem de haver um diálogo com os acionistas e com a Câmara no sentido de perceber até que ponto é ou não favorável a Câmara passar a ter uma posição inferior a 25%. E depois ainda temos de arranjar alguém que subscreva o capital”, adiantou.
Há uma corrida contra o tempo que a Quintas de Melgaço tem de fazer, num momento em que os investimentos são quase imperativos. “É sempre mais difícil gerir sem fundos do que com fundos, há uns anos atrás, cada adega cooperativa chegava a ir a 75%, 80%”, observou Pedro Soares.
“Precisamos de crescer em espaço. Se conseguíssemos uma candidatura comunitária, ajudava muito. Muito mais obra com mais dinheiro. Assim, temos de ir gradualmente, ano a ano, fazer investimentos que são prioritários. Este ano foi o filtro tangencial, renovar a parte laboratorial toda, parte de uma capsuladora screw cap [para aplicar tampas de rosca]. Para o ano vamos pensar em novas prensas”, explicou.
A necessidade de crescer, também em área, ditou os primeiros passos de um grande projecto: A instalação de um novo armazém para produto acabado, a escassos metros das instalações da adega, em duas parcelas, com um total de 6000 metros quadrados, situadas junto à EN 202, ao lado do cemitério de Alvaredo. A concretização da obra aliviará um pouco os armazéns das transportadoras com que a empresa trabalha, que tem por vezes de ser o armazém de produto. A solução “não foi barata”, mas os primeiros passos serão sólidos para alargar este complexo empresaria que quer estar, cada vez mais, nas mãos da sua comunidade acionista.
Texto publicado na edição impressa de Outubro do jornal “A Voz de Melgaço”
Texto: João Martinho
Fotos: Quintas de Melgaço/DR; Divulgação