MDOC 2024: “Seria trágico se alguém, decisor político, fosse capaz de beliscar um projeto desta natureza”

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Até ao dia 4 de Agosto, o MDOC-Festival Internacional de Documentário de Melgaço, organizado pela Associação AO NORTE e pela Câmara Municipal de Melgaço, convida a refletir com os filmes sobre identidade, memória e fronteira e a juntar, durante estes dias em que o território de Melgaço se transforma num enorme complexo de salas de exibição e estúdio de rodagem, a comunidade cinéfila com paixão pelo documental.

No fim da tarde do dia 29 de Julho, em sessão de abertura oficial – sem honras de representação de ministro ou secretário de Estado, ainda que convidados para o efeito – o presidente da Câmara Municipal de Melgaço, Manoel Batista, referiu o “crescimento que afirmou o MDOC como um festival de referência na área do documentário no panorama nacional e no panorama internacional”.

Em 2024, o MDOC assinala a décima edição e faz balanço da última década, mas Manoel Batista diz que é tempo de “pensar no futuro”.

“Não tenho dúvidas de que o grande desafio para a Câmara Municipal e para a Ao Norte, no pós décimo aniversário, será prepararmos os próximos dez anos. Percebermos se temos de fazer qualquer coisa para que se garanta esse futuro do festival”, observou.

“Seria trágico se alguém, decisor político, fosse capaz de beliscar um projeto desta natureza, com o caminho que fez e com a afirmação que fez no panorama nacional e internacional. Julgo que ninguém o ousará fazer. Se ousar, com certeza até poderá ter palmas nos ‘facebooks’ e redes sociais desta vida, que gostam, às vezes, de sangue na área da cultura também, mas com certeza que seria alguém que ficaria marcado para a história de um assassinato cultural profundo e dramático”, alertou.

“Seria trágico se alguém, decisor político, fosse capaz de beliscar um projeto desta natureza, com o caminho que fez e com a afirmação que fez no panorama nacional e internacional. Julgo que ninguém o ousará fazer. Se ousar, com certeza até poderá ter palmas nos ‘facebooks’ e redes sociais desta vida, que gostam, às vezes, de sangue na área da cultura também, mas com certeza que seria alguém que ficaria marcado para a história de um assassinato cultural profundo e dramático”, alertou.

O edil perspectivou motivações e condição do festival para continuar nas próximas décadas e o empenho da autarquia em “preparar, ajudar a construir e fazer com que aconteça”.

Manoel Batista aproveitou o momento para “agradecer à AO NORTE [associação organizadora], na pessoa do Carlos [Viana] e do Rui [Ramos], do Daniel, do Sena [Nunes] do Zé, do João Gigante, a todos pelo trabalho imenso que fazem ao longo do ano para construir este momento”.

“Agradecer também aos inúmeros voluntários que vêm de vários pontos do país para estarem aqui, ao longo desta semana, a apoiar a construção deste festival. Agradecer a todos, da Câmara Municipal, que dedicam também muito do seu tempo para que o festival aconteça e sobretudo ao longo desta semana se dedicam de alma e coração”, acrescentou.

Houve ainda tempo para cumprimentos à “comunicação social local” presente no evento e o lamento por a comunicação social de expressão nacional não ter “interesse nestas coisas”.

“Porque não acontecem nas grandes metrópoles, porque não tem o patrocínio de XYZ, porque não tem o vedetismo de não sei quem e portanto, às vezes esquecem-se dos nossos festivais. São todos aqueles que aqui estão, são todos aqueles que vêm ao longo desta semana, são também todos aqueles que aqui estão e se empenham no festival, aqueles que podem dar nota dele, que podem comunicar e o podem fazer chegar muito longe”, concluiu.

O mundo passa por Melgaço de 29 de julho a 4 de Agosto e há filmes para ver. Na 10ª edição, o MDOC selecionou mais de 30 filmes, provenientes de 21 países, entre eles Portugal, que tem 9 filmes em competição.

Sugestão:

Destaque para o filme “Of Caravan And The Dogs”, de Askold Kurov, Anonymous1 (Rússia, Alemanha, 2024, 88 min.) a ser exibido no dia 2 de Agosto pelas 18h15, na Casa da Cultura; e o filme “Tomato, Big cake and Victory, de Kate Tiuri (Ucrânia, 2024, 60min), com exibição também no dia 2 de Agosto, mas pelas 16h30, precisamente por mostrarem o quotidiano e a evolução da tensão Russia – Ucrânia, da perspectiva de quem vive nas comunidades em confronto.

“Of Caravan And The Dogs” diz-nos que “Putin já estava a preparar o seu país para a grande guerra muito antes de esta começar. Desde 2012, uma série de leis repressivas foram aprovadas pelo Governo, rotulando todos os que discordavam publicamente da narrativa oficial como “agentes estrangeiros”, traidores da Rússia. (…) Filmado durante um ano decisivo, antes e depois da invasão, o filme retrata os últimos defensores da democracia na Rússia e oferece um vislumbre de esperança num outro futuro”.

Trailer de “Of Caravan And The Dogs”

“Tomato, Big cake and Victory” mostra, por sua parte, o quotidiano de “17 crianças traquinas de diversas regiões da Ucrânia [que] ajudam a realizadora Katya a encontrar a sua pátria perdida. Katya embarca numa longa viagem onde conhece futuros adultos, e juntos procuram respostas: o que é a pátria? A pátria são as pessoas? Ou são coisas? Ou talvez seja a nossa língua? No final da viagem, Katya apercebe-se que ainda não sabe quando a sua Crimeia será desocupada, mas não tem dúvidas que, de forma a encontrar a pátria, precisa de regressar à vida banal, simples e por vezes interessante, que ela tanto adora há 33 anos”.

Trailer de “Tomato, Big cake and Victory”

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