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O Lápis Azul da Nova Proibição
Há momentos na história de um país que merecem ser lembrados não apenas como marcos temporais, mas como advertências vivas sobre os perigos do autoritarismo e da censura.
Um desses momentos sombrios na história de Portugal foi o período do Estado Novo, durante o qual a liberdade de expressão foi esmagada pela mão pesada da censura governamental, personificada pelo sinistro “Lápis Azul”. Embora muitos possam acreditar que essa era de censura ficou para trás, a verdade é que as suas sombras continuam a assombrar o jornalismo até hoje.
O Lápis Azul era o instrumento usado pelo regime do Estado Novo para censurar qualquer forma de expressão considerada subversiva ou contrária aos interesses do governo. Jornais, revistas, livros e até mesmo peças de teatro foram submetidos ao escrutínio minucioso dos censores, que riscavam com tinta azul qualquer palavra ou frase considerada inaceitável. Esta prática odiosa não só sufocava a liberdade de imprensa, mas também silenciava as vozes dissidentes e perpetuava a propaganda do regime.
Além disso, a concentração de propriedade dos meios de comunicação em poucas mãos tornou ainda mais fácil para os interesses corporativos e políticos exercerem influência sobre o conteúdo jornalístico. Os jornais e estações de rádio e televisão no Norte do país muitas vezes refletem os pontos de vista e interesses dos seus proprietários, em vez de fornecerem uma cobertura imparcial e objetiva dos eventos. Essa tendência é ainda mais preocupante ao considerar o papel vital que a imprensa livre desempenha numa sociedade democrática, atuando como um contrapeso ao poder e garantindo a prestação de contas dos governantes.
A censura não se limita à supressão direta da informação. Não. Ela também pode manifestar-se na forma de desinformação, manipulação da narrativa e ataques à credibilidade dos jornalistas. As fake news e as teorias da conspiração são frequentemente utilizadas como ferramentas para desacreditar reportagens incomodas e minar a confiança do público na imprensa. Essa erosão da confiança no jornalismo deixa o campo aberto para a propagação de narrativas distorcidas e interesses ocultos, minando assim os princípios fundamentais da democracia.
Diante dessas ameaças à liberdade de imprensa e à integridade do jornalismo aqui em Melgaço, é imperativo que os cidadãos estejam vigilantes e exijam transparência, responsabilidade e independência dos meios de comunicação. Os jornalistas devem resistir à pressão dos poderosos e continuar a fazer perguntas difíceis, investigar histórias controversas e relatar a verdade, não importa quão desconfortável ela possa ser. A sociedade civil também deve se mobilizar para apoiar o jornalismo independente e responsável, defendendo a liberdade de expressão como um direito fundamental de todos os cidadãos.
Em última análise, o legado do Lápis Azul serve como um lembrete sombrio dos perigos da censura e da necessidade contínua de lutar pela liberdade de imprensa e pela democracia. O jornalismo, em todo o país, deve resistir a qualquer tentativa de suprimir a verdade e defender o direito do público à informação livre e imparcial. Somente assim podemos garantir que as lições do passado não sejam esquecidas e que o futuro da nossa sociedade seja verdadeiramente livre e democrático.
A palavra só é verdadeira quando livre!
Fotografias da EXPOSIÇÃO “LIVROS CENSURADOS”, Mostra bibliográfica do Fundo Documental da Biblioteca Municipal de Melgaço, patente na Casa da Cultura.