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A natureza desempenhou o seu papel: entregou a uva da última vindima praticamente sem podre ou qualquer outra doença, e voltou a brindar os viticultores com uma abundante produção. Seria, em condições normais, motivo de regozijo, considerando as alegadas necessidades de uva (e vinho) que as cooperativas enfrentavam em 2012, e anos de quebra verificados ao longo da última década.
2024 já tinha mantido níveis de produção acima do que o mercado pedia e em 2025, quando ainda nem se tinha começado a vindimar, já a Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (Anceve) falava num ano dramático para a venda de uva e para os stocks das adegas, lembrando que, se já em 2024 “muitos viticultores deixaram as uvas por colher”, a colheita de 2025 seria ainda mais “negra” neste quesito.
A verdade é que o quadro mundial não ajuda a perspetivar grandes ganhos. Em 2024, o consumo mundial de vinho caiu para níveis que não se viam desde 1961, segundo o relatório anual da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Os dados apontam para 214,2 milhões de hectolitros consumidos, uma quebra de 3,3 por cento face a 2023. A retração tem sido atribuída a fatores como a inflação, custos de produção elevados e mudanças nos hábitos de consumo, sobretudo entre as gerações mais jovens, que privilegiam bebidas menos alcoólicas.
Pode o nosso país ser portador de melhor notícia? Aparentemente sim. Apesar da tendência mundial, Portugal destacou-se como uma das exceções em 2024, ao registar um ligeiro aumento de consumo interno: 5,6 milhões de hectolitros, mais 0,5 por cento do que em 2023. Per capita, o país continua no topo da tabela, com uma média de 61 litros por habitante, mantendo-se como um dos maiores consumidores de vinho do mundo.
O ‘oásis’ português no que respeita ao consumo pode ainda significar uma oportunidade para Monção e Melgaço, afinal, a ‘fartura’ registada a Norte não se reflete a Sul. O Alentejo, por exemplo, teve quebras de produção na ordem dos 30 por cento. Adicionado às mudanças do perfil de consumidor, que procura agora vinhos brancos mais leves e aromáticos – onde a esmagadora maioria dos vinhos da sub-região encaixam como uma luva – são uma nova janela de esperança para as adegas alto-minhotas.
Paulo Rodrigues, da Quinta do Regueiro, considerou a colheita um “bom ano de uva” e com um aumento de 25 por cento na produção de uva. Diz que o Alto Minho e Dão podem ser bafejados pela sorte, face às quebras no centro e sul do país e à procura dos brancos.
Também animada com a colheita está a marca Vinevinu, de António Luís e Manuel Cerdeira. “Cada vindima tem a sua identidade, e a de 2025 destacou-se pelos desafios acrescidos que o setor atravessa. Os mais de 30 anos de experiência aconselham-nos a ter uma atitude otimista e proativa”.
Com um ano de existência e depois de uma vindima inaugural em 2024, assumem com ânimo os volumes e a corrida aos mercados.
“A realidade atual alinha-se com os nossos objetivos de internacionalização. Nas vinhas do Vale, a vindima mais precoce trouxe uvas com excelente equilíbrio entre acidez e intensidade aromática. Já nas vinhas de altitude, também houve antecipação, embora menos marcada, mantendo-se a consistência de qualidade que caracteriza o Alvarinho de Monção e Melgaço”, reforçam.
Menos ‘encantado’ com o sinal dos mercados está Manuel Luís Vaz, da Casa do Cerdedo.
“A produção foi muito elevada, o que não é bom. As adegas, contrariamente ao que diziam – até parecem pescadores (ou caçadores) em que a imaginação não tem correspondência com a realidade – estão cheias de vinho, logo as perspetivas de escoamento não são boas”, considerou.
Lança a crítica aos agentes do setor que vivem “à custa dos produtores”, que têm interesse em “lançar a confusão”. “Altos responsáveis diziam que era necessário produzir mais, que tinham falta de uvas, que era preciso plantar. Até os pinhais passaram para terrenos de vinha e os terrenos pequenos de vinha passaram para silvedos. Será que o vinho tem muito álcool e fica toda a gente embriagada? Basta ver os depoimentos dos dirigentes do IVV [Instituto da Vinha e do Vinho] e das Comissões de Viticultura”, atira.