Texto: Helena Carvalho | Publicado na rubrica Gazetilha | Ed. impressa de 01NOV2025Há quem diga, com orgulho patriótico e uma sandes de panado na mão, que Portugal é um país riquíssimo. E é verdade. Praias, calor, pastel de nata e uma invejável tradição em exportar duas coisas: vinho e talento académico. O primeiro envelhece no país, e o segundo evapora-se para a Europa assim que recebe o diploma.
Diz-se um povo visionário? Mas parece que, em vez de valorizar quem descobre vacinas e quem desenvolve tecnologia, escreve dissertações com mais notas de rodapé do que esperança no futuro, preferindo antes investir no sector turístico. Lembram-se da economia medieval?!… Pois bem, enquanto alguns países constroem universidades de renome, Portugal parece querer abrir mais uma gelataria artesanal. Prioridades, não é verdade?
Atente-se nos países ricos. E por ricos, são aqueles em que o salário médio não depende do futebol nem do subsídio de férias. Com o devido olhar atento não é difícil reparar num fenómeno, no mínimo, intrigante. E não é que tendem a investir incómodos percentuais do PIB em ciência, tecnologia e educação? Um abuso, convenhamos.
Por exemplo, a Alemanha, onde um investigador não é tratado como um curioso com tempo livre, mas como alguém que pode contribuir para o país. Ou os Países Baixos, que, em vez de baixarem a exigência escolar para agradar aos adolescentes que andam exaustos pelo esforço que têm em carregar telemóveis, optam por manter padrões académicos de gente que pretende perceber o mundo, e não apenas comentá-lo no Instagram. Entretanto, por terras Lusas, insiste-se que exigir demasiado aos alunos pode “traumatizar a geração”. Porque, claro, a vida real é famosa pela sua delicadeza.
E quem quer estudar a sério? Vai embora? Aliás, Portugal é pioneiro em exportação académica sustentável, formando cientistas com esforço público para fertilizar o conhecimento de outros países. É a contribuição para a ciência mundial. Um gesto altruísta que faria qualquer ministro da Educação chorar, se tivesse tempo, entre inaugurações de pavilhões e discursos sobre “competitividade”.
Por isso, talvez fosse boa ideia reconsiderar esta estratégia económica baseada em turistas de sandálias e estudantes de Erasmus perdidos no Bairro Alto. Não que seja má, sol existe e muito, e cerveja barata também, mas a ciência costuma render mais que o aluguer de trotinetes a estrangeiros.
Imagine-se, por um instante, um Portugal onde investir na academia é visto como um ato de soberania, onde a exigência não é um insulto, onde os estudantes ficam porque têm futuro, e onde a palavra “investigação” não é sinónimo de “estágio não remunerado”. Arriscado? Sem dúvida. Ambicioso? Claro. Mas como dizia um grande pensador nacional, ou talvez tenha sido um motorista de táxi (sabe-se lá), um país sem ciência é apenas um resort com bandeira. E se o futuro de Portugal continuar a ser o check-in e o check-out, então que se preparem as toalhas de praia. A competição será feroz, a Tunísia já tem “resorts all-inclusive” mais baratos.
