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Salvador Janeiro é juiz da raça há mais de 40 e diz que genuinidade está “em alta”
Já em 1978, Salvador Janeiro, juiz internacional, responsável pelas raças portuguesas, do Clube Português de Canicultura, andava por Castro Laboreiro. Contudo, foi a partir de 1983 que começou a julgar e a promover, de certa forma e enquanto “um apaixonado” pela raça do Cão de Castro Laboreiro, o estalão e a autenticidade genética dos exemplares que desde então contribuem para a história de Melgaço.
Na última edição do Concurso Tradicional do Cão de Castro Laboreiro, que a cada 15 de Agosto se realiza em recinto daquela freguesia (salvo muito raras exceções, como uma pandemia), Salvador Janeiro subiu mais uma vez a Melgaço para desempenhar o papel pelo qual tem merecido a estima dos locais, dos criadores dos melhores exemplares da raça ou dos que creem ter um bom exemplar digno de medalha.
Em 2024, o concurso comemorou 110 anos desde a primeira edição e o característico juiz a 41ª edição na qual tem a última palavra quanto à qualidade dos exemplares trazidos ao terreiro. Um sol abrasador parece toldar a vista de quem assistia, mas o juiz avaliou, inamovível e sem sinais de incómodo, mais de uma dezena de cães a concurso, nas várias categorias. Foi até mais explicativo do que em edições anteriores, nas quais a assistência, em silêncio apenas percebia o veredicto, anunciado aos microfones. A quem assistia, ia explicando o que implica o estalão que diferencia os exemplares mais autênticos, a cabeça, os olhos, o comportamento e as minudências que ajudaram a explicar e defender a raça há mais de um século.
“Tem havido melhorias e não melhorias, mas nesta altura estamos numa fase de alta. Há dois ou três anos estávamos numa fase com exemplares menos caracterizados, digamos assim, com mais problemas a nível do estalão. Agora, estamos com alguns problemas, mas tivemos aqui um grande exemplar, com um estalão que eu há muito não via. O caso do vencedor”, confessava o juiz a este jornal, no final do concurso.
O exemplar diferenciado que colheu a melhor impressão do júri foi um macho, o “Mondego”, de Nuno Ramos, de Paredes de Coura, filho de uma cadela comprada ali mesmo, no solar da raça, “há muitos” anos, como nos contaria o presidente da Câmara Municipal de Melgaço, que quis saber junto do criador de que forma o exemplar tinha chegado ao concelho courense.
Um acaso feliz, mas que Salvador Janeiro lamenta não ter mais réplica e assume que, mesmo com o controlo que os canis criadores aparentemente representam, não é um garante de que, ao longo das gerações, as características autênticas prevaleçam.
A Monográfica da raça, a realizar em Braga, é um género de campeonato onde a genética é determinante. “Aí discute-se entre o CAC e o CAC-QC, que é o ponto qualificativo e é o certificado de aptidão ao campeonato para que o cão, com mais três certificados de aptidão, com dois juízes diferentes, possa ser campeão de Portugal”, explica ainda Salvador Janeiro.
O concurso que a cada ano se realiza no alto da serra que lhe dá berço e nome é, ainda assim, a melhor bitola para quem quer perceber “o cão que têm”, incentivar os entusiastas a participar nas exposições e, acima de tudo, “adquirirem exemplares de qualidade, com criadores de qualidade”.
Nos 110 anos do concurso, artesão espanhol Adolfo Fernández Dafonte moldou em barro uma peça exclusiva que lhe foi entregue, para assinalar a data em Da fonte reconhecimento do empenho que pôs na qualificação da raça nos últimos 40 anos.
O edil de Melgaço, Manoel Batista, reconhece que o ícone da cultura de Castro Laboreiro e de Melgaço se espalha hoje pelo país e por todo o mundo.
“Espero que em próximos anos possamos fazer um apoio provisório, até mais efetivo, nesta Festa Castreja, que se retomou, se não me falha a memória, em 2018 e que se tem vindo a afirmar e, portanto, a Câmara está atenta. Depois de ter integrado esta festa no Melgaço em Festa, poderá estar disponível para ajudar a alavancar este momento em Castro Loureiro, que é um momento interessante no verão”, vincou.
Manoel Batista diz que não está em análise qualquer apoio específico para a criação do Cão de Castro Laboreiro porque considera que “em Castro de Laboreiro há um número muito considerável de exemplares, mesmo sem incentivo nenhum, eles são o incentivo, porque consideram que é uma raça importante e mantêm a raça”, mas não descarta a possibilidade de maior apoio à festa que anualmente envolve o importante concurso.
“O futuro a Deus pertence, mas o que poderemos aqui pensar é, já no próximo ano, ajudar um bocadinho mais os castrejos, porque esta festa é deles, não é de mais ninguém, honra lhes seja feita. São eles que agarram nas suas tradições e com elas constrói esta festa, mas podemos perfeitamente estar aqui como parceiros ativos, junto com a Junta Freguesia, para ir melhorando a festa”, indicou.