MDOC 2024: “A Savana e a Montanha”. O western sobre a luta de Covas do Barroso contra as minas de lítio é estreia nacional em Melgaço, depois de Cannes

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A edição de 2024 do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço já ganha alguns apontamentos especial no programa – que já pode ir acompanhando através do site https://mdocfestival.pt – mas já é possível levantar o véu no que respeita à participação dos filmes portugueses selecionados, que entrarão na corrida ao Prémio Jean-Loup Passek.

O lead do MDOC continua a ser “O MUNDO EM MELGAÇO” e este ano, de 20 de Julho a 4 de Agosto, continuará a trazer “o cinema etnográfico e social”, com atenta seleção dos filmes que tenham especial atenção às questões sociais, individuais e culturais relacionadas com identidade, memória e fronteira.

Os filmes portugueses concorrem, conforme a categoria, ao prémio para Melhor longa-metragem, Melhor curta ou média-metragem internacional e Melhor documentário português (filmes de produção e/ou realização portuguesa). Há ainda um selo de qualidade adicional ao qual os participantes estão habilitados, pois concorrem também ao prémio D. Quixote, atribuído pela Federação Internacional de Cineclubes e será entregue na cerimónia de encerramento do Festival, em simultâneo com os prémios Jean-Loup Passek.

A participação portuguesa destaca-se com um participante de peso, quer pelo desafio que representou para a população de Covas do Barroso (Boticas) – que foi protagonista no filme -, quer pela atualidade que representa para o nosso território, que ainda bem se lembra das manifestações que fez contra as minas de exploração de lítio nas suas montanhas.

O filme “A Savana e a Montanha” é estreia nacional, depois do Festival de Cinema de Cannes, onde participou na Quinzena dos Cineastas.

A Savana em título não é a do campo tropical africano ou outros geralmente associados, mas a empresa britânica Savannah Resources, que se estabelece neste filme enquanto arqui-inimigo da comunidade de Covas do Barroso, quando esta descobre que a empresa planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas. “Diante dessa ameaça iminente, o Povo decide organizar-se para expulsar a empresa das suas terras”. É aí que que estabelece o paralelismo entre “índios e cowboys”, num duelo ao sol imaginado pela população e ao qual dá corpo.

Da lista de documentários participantes desta edição pelos quais o espectador nascido ou criado na raia sentirá especial afeição está “Couto Mixto”, de João Gomes.

No filme de 28 minutos, gravado em 2023, Ruben apresenta Clara ao Couto Mixto, outrora um estado independente de identidade híbrida galega e portuguesa. “Foi lá que Sara, irmã de Clara, teve um momento de rara tranquilidade antes de morrer. Cento e cinquenta anos após a sua extinção, os habitantes locais ainda celebram o velho estado, e o seu hino canta a glória de “um pedaço inteiro de terra semeado de esperança, uma enteléquia libertária”. Ruben e Clara tentam mergulhar na sua mística, sentir o seu conforto, e procurar os ecos do passado”, conta-nos a sinopse.

“Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas”, de Tânia Dinis, vai ao álbum de fotografias para nos contar a história. Combina o tratamento ficcional e documental, e parte do arquivo fotográfico e de imagens reais e do testemunho oral de várias mulheres, provenientes das regiões de Trás-os-Montes, Beira, Alto e Baixo Minho, que entre os anos 40 e 70, vieram para a cidade do Porto trabalhar como criadas de servir.

O mesmo exercício faz Raquel Loureiro Marques no seu documentário com cunho muito pessoal: “Quando a casa da minha avó deixou de ser sua, o álbum de fotografias foi repartido como a única herança possível. Agora, a minha mãe e eu revemos as poucas imagens que existem e que, durante anos, deram forma ao meu imaginário de família. Juntas, inventamos um álbum novo onde traçamos as linhas que nos unem à minha avó, essa mulher que aparece sempre com uma expressão dura, de sofrimento, sem sorrir”, conta a sinopse que é uma declaração da autora para o seu “Um mergulho em água fria”, de 20 minutos, gravado em 2024.

“Fogo no Lodo”, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, é uma longa-metragem que traz à liça o tema da guerra colonial, no ano em que se comemoram os 50 anos da ‘revolução dos cravos’. Nesta, o retrato é sobre a Guerra Colonial tal como vivida entre a população balanta.

“Com uma forte tradição de resistência ao colonialismo português, os Balantas foram os primeiros a aderir à luta armada, invocando neste combate os espíritos ancestrais dos quais descendem. Para expandir a memória da Guerra Colonial, queremos representar o papel crucial da cosmologia política na luta armada, assim como na difícil negociação para a paz, desempenhando os espíritos da religião Balanta um papel fundamental na memória que até hoje persiste desta Guerra”.

“As Melusinas à margem do rio”, de Melanie Pereira, traz-nos a vida de emigrante, mas do Luxemburgo. Gravado em 2023, fala de identidades incertas.

SINOPSE: Nascidas no Luxemburgo de famílias imigrantes, cinco mulheres refletem sobre países, identidades, fragmentos e sereias. Enquanto procura por entre montes e rios por Melusina, sereia mutante e lendária da cidade do Luxemburgo, a realizadora conversa com quatro mulheres sobre as suas identidades incertas: o que é ser imigrante sem o ser, e ser luxemburguesa sem o ser. Uma viagem por memórias em tempos de chuva. Uma procura por identidades sempre fragmentadas. Uma tentativa incerta de reconciliações.

Em “Clandestina”, Maria Mire conta-nos, em 71 minutos, uma história de clandestinidade e falsificação “por militância política”.

Sinopse: Como uma missiva enviada a um tempo por vir, mergulhamos no passado e acompanhamos a vivência de uma jovem artista, Margarida Tengarrinha que entra na clandestinidade em Portugal e se torna falsificadora por militância política.

Agnes Meng, realizadora originária da China, junta, em curta-metragem documental de 20 minutos, “Histórias de Contrabandistas” de Tourém, uma pequena aldeia situada na fronteira entre Portugal e Espanha, conhecida por ser um “ninho de contrabandistas”, pois, muitos locais estiveram envolvidos no contrabando. “Ações perigosas, meios de vida difíceis e aventuras inesquecíveis… tudo isso deixou uma marca profunda nas suas memórias”, assume a sinopse do que ali se conta.

“Percebes”, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, segue um ciclo completo da vida de um molusco especial chamado Percebes. No percurso da sua formação até ao prato, cruzamos diferentes contextos que nos permitem compreender melhor esta região e aqueles que nela habitam. Nesta história, é o mar e um Algarve urbano que serve como pano de fundo.

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