Autárquicas 2025: José Albano Domingues, o candidato da AD que quer interromper 43 anos de governação socialista

Imagem do avatar


Publicidade

José Albano Domingues, o ambicionado candidato dos militantes da direita local para a corrida autárquica, disse ‘sim’ ao pedido da coligação AD “por puro altruísmo, de amor à camisola”.

O advogado melgacense garante que não se revê “no rumo que Melgaço tomou de há muitos anos a esta parte” e deixa críticas à gestão municipal em áreas como o turismo, a indústria, a saúde, a cultura e a habitação.

Nesta longa entrevista, aponta como prioridades a recuperação da motivação dos colaboradores da autarquia, o combate à “depressão coletiva” em que diz ver mergulhado o concelho e a necessidade de “virar Melgaço para o mercado galego”.

Considera, tal como há vinte anos, que Melgaço tem de ser mais do que os ‘3 A’s’ da estratégia de Rui Solheiro, e que é preciso adicionar o industrial. Afinal, com a PLISAN finalmente a ganhar forma e ali ao virar da curva, é preciso preparar o concelho para instalar eventuais pequenas empresas satélite ou mesmo trabalhar o “ordenamento do território” de forma viabilizar Melgaço enquanto “concelho dormitório” com qualidade para os milhares de trabalhadores que se preveem para aquele polígono industrial.

Na saúde, defende que “é inadmissível que tenhamos de esperar três, quatro meses por uma consulta no Centro de Saúde”, e garante que é perfeitamente possível instalar em Melgaço, na eventual USF, uma sala de pequena sutura e um centro de radiologia. “Não é nada de outro mundo. Já tivemos equipamentos a este nível que nunca foram usados”.

Na cultura, não poupa críticas: considera que o MDOC precisa de mudar, seja no formato ou na ligação à população, para deixar de ser um certame “desassociado ou divorciado da população melgacense”. Também a Festa do Alvarinho e do Fumeiro é, no seu entender, um evento “em perda, que tem necessariamente de ser revisto”.

“Capital financeiro não nos falta”, sublinha, mas avisa que sem confiança e sem novas dinâmicas, Melgaço continuará a perder vitalidade: “Vou à rua num final de tarde, num fim de semana, e não vejo ninguém.”

A Voz de Melgaço (AVM) – Tem sido o candidato ambicionado pelo PSD e, como já referiu em anteriores entrevistas, sempre recusou liderar uma candidatura à autarquia. Qual foi o contexto político que o fez, agora, dizer sim?

José Albano Domingues (JAD) – Há várias razões que nos levam a tomar decisões desta ordem de importância. A principal é o apego, o amor a Melgaço, que nunca escondi. Há pessoas, no meu entorno de amizade, que me dizem que me preocupo sempre demasiado com o concelho e penso pouco em mim. Esta decisão passa exatamente por aí, é um ato de puro altruísmo, de amor à camisola, mas tomada ao fim de todos estes anos por duas razões: Além do amor a Melgaço, a terra que me viu nascer e crescer e onde eu tenho toda a minha vida, é pensar que os nossos filhos têm de ter aqui um cantinho, se possível para trabalhar, para ganhar a sua vida. E não me revejo no rumo que Melgaço tomou de há muitos anos a esta parte. Se pegarmos em indicadores, vemos que estamos em processo de perda contínua. Dizem-nos que Melgaço não tem solução porque é um concelho interior, mas olhamos à nossa volta e vemos outros concelhos a crescerem, a criarem dinâmicas que nós não temos. Fiz uma vida toda no privado, que tenho estabilizada, e o facto de me sentir suportado por uma equipa de gente muito capaz e com vontade de transformar Melgaço, tudo isto conjugado levou-me a tomar esta decisão. Muito ponderada, mas muito difícil.

AVM – Pensar o futuro de Melgaço é pensá-lo industrial, turístico, no setor do vinho, ou há que pensá-lo a par de estratégias de revitalização do interior, no contexto de um território difícil em relação à centralidade do país?

JAD – A minha vida profissional está polvilhada de casos destes. Estou habituado a causas difíceis. O trabalho nunca me meteu medo. Dedico-me àquilo que faço sete dias por semana. Melgaço, de facto, é um empreendimento muito difícil. Tradicionalmente, temos ouvido o Executivo Municipal usar duas grandes bandeiras: A vinha, o Alvarinho, que está a ser bem trabalhado, mas pelos particulares. Não vejo uma ação por aí além da parte da nossa Câmara para apoiar. Falou-se inclusive, aquando do alargamento da sub-região exclusiva do Alvarinho, em que se iria para tribunal, contestar, com providências cautelares, com promessas desta ordem, e isso nunca aconteceu. O mérito tem de ser dado aos viticultores, neste campo.

A Câmara tem de estar aí para apoiar e uma das formas que teria de apoiar seria, por exemplo, a entrega do domínio da Quintas de Melgaço aos viticultores. Esta proposta, que o município acabou por adotar, de um aumento de capital por subscrição pelos privados, já foi feita por nós há mais de dez anos. E tem de continuar, senão a Quintas de Melgaço vai perder terreno e ficar para trás, porque não consegue alavancar projetos que tem em carteira, financiando-se por candidatura a fundos comunitários, enquanto tiver nas mãos do município mais de 25% do seu capital social.

Outra das bandeiras usadas pelo executivo é o turismo. O turismo também tem sido trabalhado pelos particulares, fundamentalmente. Não somos dos concelhos que estamos pior, de facto, porque temos um grande número de dormidas, mas muito há a fazer ainda. Entendo que isto também é uma questão de mentalidade, os nossos agentes económicos têm andado um bocadinho de costas voltadas, mas nós temos de ter uma visão integrada daquilo que é o turismo, criando redes a ligar alojamento, restauração, oferta patrimonial, roteiros turísticos. Temos de fazer uma aposta forte no turismo de natureza, que é a nossa grande riqueza.
A par disto, não podemos abdicar da parte empresarial, do investimento privado e da indústria. Ainda estava eu como vereador na Câmara, a única vez que fui vereador, entre 2002 e 2005, salvo erro, e já era uma reivindicação da minha parte. Naquela altura, o presidente dizia que nós, Melgaço, tínhamos de viver de 3 A’s: Arte, Ambiente e Alvarinho, e que não precisávamos da indústria. A realidade, como é fácil de constatar, é que se não tivermos indústria, se não tivermos investimento privado, não vão ser criados postos de trabalho. Se não forem criados postos de trabalho, não há empregos, não há pagamento de salários, não se geram rendimentos, não se gastam através do consumo e esses rendimentos incrementam na economia local e não teremos as condições necessárias para instalarmos aqui os nossos jovens, dos quais muito carecemos. Portanto, esta aposta de investimento privado, sem o qual entendo eu que Melgaço não terá futuro, é fundamental. Vemos outros concelhos a fazê-lo, com incremento das zonas industriais, com atração de investimento, e temos de fazer um trabalho muito grande a esse nível, porque se estivermos nos nossos gabinetes à espera que as coisas nos venham bater à porta não vamos a lado nenhum.

A questão da interioridade: De facto, somos um concelho interior, temos coisas a melhorar a esse nível. Há uma reivindicação nossa e vamos continuar a lutar por ela, que é o prolongamento dos principais eixos rodoviários, neste caso da A28 até junto de Melgaço. Há uma saturação intensa entre Cerveira e Monção, impraticável para quem queira ter uma mobilidade reforçada ou para quem queira investir no território.

Temos de melhorar as vias de comunicação, ter investimento e temos de nos virar para o mercado galego, do qual estamos completamente divorciados. Não há geminação com municípios próximos, as relações institucionais também não são as melhores, e temos um potencial fantástico, a vários níveis, aqui à porta. Falo, por exemplo, do AVE [Alta Velocidad Española] em Ourense, que é um fator de atração de investimento e de mobilidade, também para os profissionais, e estamos aqui a 30, 40 minutos. Temos uma plataforma logística [a PLISAN – Plataforma Logística Industrial de Salvaterra – As Neves], onde se vão implantar muitas empresas e se prevê criar milhares de postos de trabalho.

AVM – O grande investimento na PLISAN [com quase 298 hectares de superfície bruta total] pode impulsionar ou tirar força às zonas empresariais portuguesas, neste caso, à Zona Empresarial de Alvaredo [com cerca de 6,7 hectares de área bruta total]?

JAD – Sabemos que as grandes zonas industriais, onde são implantadas multinacionais, criam depois pequenas indústrias que gravitam à volta delas. É o caso, por exemplo, da indústria automóvel. Portanto, só temos a ganhar. Temos inclusive a possibilidade, mas é preciso ter visão e estarmos precavidos para a possibilidade de aproveitar esta sinergia, de sermos um concelho dormitório, mas para isso temos de ter instrumentos de ordenamento do território preparados para criar habitação em Melgaço, de que muito carecemos, e não é só para fixar os jovens estudantes, é para fixar também a mão-de-obra que poderá vir da PLISAN. Na minha perspectiva, nada disto tem sido trabalhado para aproveitar o que, do lado espanhol, do mercado galego, está a nascer.

AVM – Na questão de habitação, recentemente falámos de um investidor privado que se surpreendeu com a adesão de compradores de fora do território, mas dá nota também de residentes do concelho que procuram uma segunda casa, mais central e próxima dos serviços. O novo mercado imobiliário será, também por si próprio, centralizador em torno do núcleo urbano e tende a deixar as aldeias para utilização turística?

JAD – Há movimentos que não são fáceis de contrariar. Os nossos políticos nacionais apregoam regularmente a coesão territorial, que muitas vezes não sai do papel, mas há que reivindicar este dever da nação para com os concelhos de interior. Este processo migratório das aldeias para a sede do concelho já acontece há muitos anos e não é fácil revertê-lo porque as pessoas, até face às dificuldades que têm nos transportes e face às necessidades de cuidados de saúde, procuram aproximar-se dos centros de decisão.

Se essa aproximação for relativamente à sede do concelho eu não fico muito preocupado, fico preocupado é de ver as pessoas afastarem-se do concelho de Melgaço e a irem para outros concelhos, como temos visto acontecer, para Caminha, para Monção, para Braga…

Com este processo, as nossas aldeias vão ficando um pouco despovoadas. Temos de arranjar soluções, fundamentalmente para evitar esta necessidade que as pessoas têm de se aproximar do centro da vila e, complementarmente, temos de arranjar apoios e trabalhar a parte do turismo. Sobre a questão da habitação: O processo de construção de habitação nova em Melgaço parou durante duas décadas. Isto não aconteceu em mais nenhum concelho, de minha lembrança. O vizinho concelho de Monção, entre o centro da vila e a zona do Rio Parque, construiu dezenas de blocos habitacionais, com centenas, se não mesmo milhares de frações autónomas afetas à habitação, e está tudo esgotado.
O que mais me entristece é ver pessoas de Melgaço, com ligações fortes ao concelho, que até estão emigradas, e que nos aparecem aqui a dizer que ao fim de alguns anos vieram visitar a sua terra e que estavam a pensar em investir aqui, comprando aqui uma loja ou um apartamento, e depois vemos que eles vão comprar a outros concelhos. E quando os questionamos o porquê disso, se eles têm este apego e iam voltar à terra, dizem-nos que aqui em Melgaço não há dinâmica de ordem nenhuma. ‘Isto está morto. Eu não quero investir num território onde não aconteça nada’. Eu vou à rua num final de tarde, num fim de semana, e não vejo ninguém. É fundamental criar as condições e dinâmicas para que as pessoas voltem a gostar de investir e viver em Melgaço. Capital financeiro não nos falta.

Relativamente a quem nos procura vindo de fora do território, isso deixa-me realmente satisfeito, mas fundamentalmente, tanto quanto é do meu conhecimento, o investidor compra em Melgaço porque, em média, uma fração de T2 ou T3 aqui é 40 ou 50 mil euros mais barata do que noutros concelhos. E perguntar-me-ão: Isto é positivo? Até poderá ser, na perspetiva do investidor. Em termos de rentabilização daquilo que é o seu investimento, pode não ser tão positivo. Se calhar temos um T3 em Melgaço pelo qual se paga uma renda de 350 ou 400 euros, e lá fora paga-se 600 ou 700.
Há um estudo, publicado há uns meses, que nos diz que o preço por metro quadrado em Melgaço é dos mais baratos do país. Nós poderíamos entender e ficar satisfeitos, porque é mais fácil, torna-se menos dispendioso comprar aqui. Mas, pelo contrário, este é o ranking onde ninguém quer estar, porque significa uma coisa menos positiva: Melgaço, neste momento, não é atrativo, não tem dinâmicas que atraiam o investidor. E é por essa razão, que é a lei básica da oferta e da procura, que os preços acabam por baixar.

AVM – O município tem uma série de atividades económicas que são sazonais, como o turismo ou a viticultura e os trabalhos relacionados com o setor do vinho. A vertente industrial, considerando a escala do município e da sua área destinada ao empresarial, pode ser parte da solução para o aumento da capacidade de compra de quem vive no concelho?

JAD – Muitas pessoas deixam de viver em Melgaço não só por não terem trabalho, mas também pela questão das dificuldades de deslocações, falta de transportes, de falta de cuidados de saúde. Sabemos que há imensas pessoas que compram um apartamento em Vila Praia de Âncora, não é propriamente para irem viver permanentemente, é para poderem estar mais próximas do Hospital de Viana do Castelo. Os cuidados de saúde, numa população que está envelhecida – e nós temos mais de 50% da nossa população com mais de 60 anos de idade, são cerca de 3.800 indivíduos – é uma questão fundamental. Temos de tratar da saúde dos nossos idosos, para que eles continuem a poder viver em Melgaço.
A atração de investimentos é fundamental para podermos fixar a nossa população mais jovem. Agora, sabemos que em Portugal, e podemos lembrar-nos do Sul, se vive também muito de uma atividade sazonal. O que temos é de criar condições para que essa sazonalidade seja cada vez menor e o potencial turístico permita que muitas famílias vivam ao longo do ano deste setor de atividade.

AVM – Relativamente à saúde, a criação de uma Unidade de Saúde Familiar (USF), como sugeria o presidente do Conselho de Administração da ULSAM, José Manuel Cardoso, aquando do lançamento da obra de reabilitação e ampliação do Centro de Saúde de Melgaço, responderia às necessidades do concelho, ou é preciso criar algum serviço de apoio mais permanente?

JAD – Eu concordo que se envidem todos os esforços para evitar que os serviços fechem. Em Melgaço já tivemos vários exemplos destes: O Tribunal já esteve prestes a fechar e eu não vi nenhuma luta da parte do município para o combater. Houve pessoas, eu incluído, através da Delegação de Melgaço da Ordem dos Advogados, que fizeram abaixo-assinados, que foram a reuniões, que fizeram contatos e que intercederam junto da tutela para evitar esse desfecho. Também vi o município a concordar com o encerramento da Estação de Correios. E nós estivemos no processo, desde o início até ao fim, para que voltasse a reabrir.

Ouvimos agora, escutámos os nossos opositores políticos dizer que defendem o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) em Melgaço, aberto 24 horas por dia. Curiosamente – e as pessoas não têm memória tão curta – foi durante o executivo PS [em 2010] que este serviço encerrou. Depois de deixarmos encerrar, torna-se muito mais difícil voltar a reabrir.

Agora, sempre que as Unidades de Saúde Familiar sejam de molde a criar mais valências e mais serviços para a população, venham elas, porque nós estamos de facto muito carentes a este nível. E não basta aumentarmos espaços físicos se não tivermos capital humano – e quando digo capital humano, estamos a falar de profissionais da área da saúde, enfermeiros e médicos, fundamentalmente – que possam responder positivamente à procura por parte da população. É inadmissível que tenhamos de estar à espera cerca de três, quatro meses, para ter uma consulta no nosso Centro de Saúde. Defendemos o aumento dos espaços físicos e obras de reabilitação, desde que acompanhadas com o aumento do capital humano, com um tratamento direcionado para as necessidades da população e de uma forma humanista. Não antevemos ser fácil recuperar aquilo que o executivo PS deixou que acabasse há muitos anos, mas isso não significa que não lutemos para que tal aconteça, porque é essencial que as pessoas tenham aqui qualidade de vida e sejam cuidadas, ter cuidados de saúde à altura.

AVM – A decisão relativamente às competências dos serviços nas USF ou outras, relativamente aos equipamentos ou especialidades, é da ULSAM ou do Governo?

JAD – Nós sabemos que, a nível da saúde, os centros de decisão estão no Governo, estão na Administração Regional da Saúde e estão na Unidade Local da Saúde do Alto Minho (ULSAM). E eu aqui gostava de lembrar que os dez municípios do Alto Minho estão há mais de dois anos sem um representante do povo no Conselho de Administração [da ULSAM]. E porquê? Porque tem havido um braço de ferro entre a Comunidade Intermunicipal, da qual é presidente o Dr. Manuel Batista, também presidente da Câmara de Melgaço, que indicou o nome do Dr. Tiago Saleiro Lopes, que foi vetado pela CReSAP [Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública], e ainda hoje os dez municípios continuam sem representante na ULSAM. Como é que nós, sem representantes que defendam os interesses dos concelhos, podemos aspirar a ver os nossos problemas resolvidos?

Já nos devem ter ouvido dizer, porque já o dissemos bastas vezes, tem de se aumentar as valências do nosso Centro de Saúde. Nós defendemos – e não me venham dizer que isso não é exequível – a criação de uma sala de pequena sutura e a implementação de um centro de radiologia. Isto não é nada de outro mundo. Já tivemos equipamentos a este nível, que nunca foram usados e acabaram por ser desativados ou lhes foi dado algum destino. Temos um consultório privado em Melgaço que tem Raios-X, para cuja operacionalidade basta que haja um técnico. Porque não poderá isso acontecer a nível do Centro de Saúde? Já lançámos, inclusive, aos responsáveis da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, o desafio de fazerem aquilo que a Santa Casa da Misericórdia de Monção também fez. Portanto, temos de responder positivamente, com iniciativa e com meios, às necessidades das pessoas a este nível. E como sabemos que o Sistema Nacional de Saúde não tem capacidade de dar resposta a tudo e mais alguma coisa, criámos uma outra medida que está integrada no nosso programa eleitoral, que é o Cartão de Saúde Municipal. Não é para se substituir ao Sistema Nacional de Saúde, é para ser complementar, dar resposta a estas carências que temos, por exemplo, ao nível dos tempos de espera para consultas e para realização de exames.

AVM – Este cartão é apoiado por verbas municipais, com preços convencionados com os privados, ou estabelece previamente parcerias com clínicas locais, como irá operacionalizar o apoio?

JAD – O Cartão de Saúde Municipal já foi implementado há muitos anos por muitos municípios. Ouvimos dizer que não é exequível, que custa milhões, por isso faremos no dia 20 de setembro, salvo erro, uma sessão de esclarecimento, com um webinar, para explicarmos à população do que é que estamos a falar. Este cartão é para ser usado pelas pessoas residentes em Melgaço, junto também da iniciativa privada, clínicas e laboratórios, para cobrir consultas. Prevê, inclusive, a existência de um médico permanente no concelho para poder fazer consultas domiciliárias e consultas de especialidade, a realização de exames radiológicos e o custeamento de deslocações.

AVM – Isto poderá significar, em valores estimados, um esforço de que ordem, para os cofres municipais?

JAD – É um esforço financeiro, mas é um esforço que vale a pena, porque esta é uma das prioridades daquilo que propomos para Melgaço. Os números vão ser apresentados na sessão de esclarecimento, mas andará na ordem dos 250 a 300 mil euros/ano. Há muitos eventos aqui em Melgaço onde essa ordem de valores já é despendida.

AVM – Em relação ao esforço de despesa, o PSD Melgaço, em coligação ou a solo, tem levantado alertas sobre a saúde financeira da Melsport, a empresa municipal que gere todo o complexo desportivo do Centro de Estágios e a programação desportiva. Ultimamente têm sido mais frequentes as atividades desportivas ali realizadas ou resultantes desta campanha de cativação. O Centro de Estágios é agora mais viável, no entendimento da AD, do que era há 5 ou 6 anos?

JAD – A Melsport, tanto quanto é do meu conhecimento, já na altura em que o projeto foi pensado se fizeram estudos de viabilidade e concluíram que não a tinha. É uma infraestrutura espetacular, se calhar, não projetada para um concelho de interior como Melgaço. Não obstante isso e o défice naquilo que é a gestão anual, temos assistido a uma degradação progressiva de instalações. Ainda há dias passei por lá, estive no local a aperceber-me do ponto de degradação: Os campos de ténis estão degradados, as vedações todas rebentadas, o parque infantil deixou de existir, não foi requalificado e pura e simplesmente desapareceu. Faltam ali coisas básicas que a população reclama há muitos anos e cujo custo, para mim, é controlável. Por exemplo, uma cobertura para a bancada no campo sintético. As pessoas que vão assistir aos jogos levam com sol ou com chuva a todo o momento. Paralelamente a esta falta de conservação, de manutenção e de melhoramento, temos uma degradação completa das contas da empresa. Na auditoria que foi feita há uns dois anos, chegou-se à conclusão que o município nem sequer tem celebrado a tempo e horas os contratos-programa com a Melsport. A Melsport tinha injeções de capital da parte da Câmara Municipal na ordem dos 200, 300 mil euros e neste momento estamos na ordem de um milhão de euros. É muito dinheiro, tendo em conta os recursos limitados do município. Muito dinheiro mesmo. Para além desta má gestão – e os responsáveis pela gestão são lá postos pela Câmara Municipal – entendemos que não tem sido feito o trabalho que deviam. Têm de ser estabelecidas parcerias com entidades, com empresas, com clubes de renome, sejam clubes de futebol, sejam empresas particulares. Eu não queria alongar-me muito, mas há parceiros que temos em carteira, com intenções de investimento no Centro de Estágios e que permitirão, se não tapar por completo este buraco, diminuí-lo progressivamente.

AVM – Mas esta necessidade de receita na ordem do milhão de euros tem a ver com despesas de manutenção, intervenções, ou é apenas para gestão corrente?

JAD – As necessidades de receita por parte da empresa são superiores a estas, mas a empresa tem algumas receitas próprias, com as várias valências. A piscina descoberta nesta altura do ano, no Verão, tem bastante procura. Mas tem a ver fundamentalmente com o tipo de gestão que vem sendo feita, porque se não fosse, não assistiríamos a esta degradação contínua e progressiva das contas. Claro que o município vai-nos dizer, ‘esta injeção de capital é para fazer face ao uso por parte dos munícipes’. Devo relembrar que há dois instrumentos pelos quais esta injeção de capital é feita: É o contrato de arrendamento das instalações e é o contrato-programa. No contrato-programa, o município, para justificar a injeção de determinado valor, vai contabilizar como utilizadores do Centro de Estágios determinado número de pessoas. Na altura da pandemia, o Centro de Estágios não teve quaisquer utilizadores, mas apareciam lá milhares. Nós questionámos o Sr. Presidente, como é que é possível, na altura em que as instalações estiveram encerradas, aparecer lá aquele número de utilizadores, para justificar a transferência das verbas. O Sr. presidente admitiu que, de facto, não houve, mas que era necessário usar um critério qualquer. Até porque o Tribunal de Contas colocou reservas relativamente aos subsídios à exploração que eram injetados na Melsport por parte da Câmara. Não conhecemos a gestão porque não fazemos parte dela, o que sabemos é que é fundamental dar outra vida, criar outras dinâmicas e estabelecer parcerias para estancar este sangramento das finanças municipais por causa da Melsport.

AVM – A solução que apontam e que dizem ter em carteira é a possibilidade de parceiros interessados em financiar e utilizar as instalações?

JAD – Mais do que isso. Não é só empresas e parceiros interessados na utilização. Há parceiros interessados em investir, criando novas valências no Centro de Estágios, ligadas ao lazer e parques de Verão.

AVM – Em relação a outra das empresas de capital municipal, a Cura Aquae, que gere o complexo termal do Peso, ganha novo fôlego com a reabilitação do histórico Hotel do Peso. Começará a partir daqui uma nova fase de afirmação das Termas de Melgaço, ou ainda há mais a fazer?

JAD – A Cura Aquae, na qual o município tem 51% de capital e sendo o presidente da Câmara o Presidente do Conselho de Administração, está há vários anos consecutivos com resultados negativos. E diz a lei que esta empresa – já houve inclusive inspeções que o apontaram – que já devia estar dissolvida. É, obrigatoriamente, objeto de dissolução e, até hoje, não vimos tomar nenhuma decisão. Não dizemos que se deve ir por aí, tem é que se tomar uma decisão relativamente àquilo que se pretende fazer da Cura Aquae e das Termas de Melgaço.

Ao longo de muitos anos fomos ouvindo algo do género, ‘bem até hoje não aconteceu, mas agora é que vai acontecer’. Por norma em ciclos eleitorais, ouvimos sempre isto da parte de quem governa a Câmara de Melgaço. ‘Agora é que vai ser!’. Em 2017, o candidato do PSD à autarquia, Vítor Cardadeiro, fez das Termas de Melgaço o cavalo de batalha. Pô-las na ordem do dia e, ao jeito daquilo a que nos vamos habituando, o executivo municipal arranjou uma solução de última hora, que apresentou como sendo uma empresa de reputada experiência nesta área para alavancar as Termas de Melgaço, a Pinto da Costa & Carriço Lda. Num Jantar de Gala da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, onde eu estava, nessa altura como vice-provedor, fiquei sentado na mesma mesa que o responsável dessa empresa e uma das coisas que lhe disse, relativamente àquilo que era o potencial da infraestrutura e o caminho a seguir, é que entendia que só conseguiria chegar a bom porto se tivesse ali um hotel de qualidade com o qual se pudesse estabelecer uma parceria e pudesse criar movimentos de parte a parte.
O que aconteceu com esta empresa, que tinha sido constituída pouco tempo antes, com capital social de 50 mil euros, é do conhecimento público. Os responsáveis acabaram por enxovalhar toda a gente, foram-se embora, não deixaram saudades e também não deixaram o executivo muito bem visto. Disseram, inclusive, que faltavam ali cerca de dois mil equipamentos que não sabiam onde tinham ido parar. Isto leva-nos a pensar no que a Câmara andou a fazer durante estes anos todos, relativamente àquilo que eram os equipamentos desta infraestrutura, porque tem responsabilidades a esse nível.

Esperamos, queremos ser positivos, que a unidade hoteleira agora criada, crie também algumas dinâmicas, mas tem de ser feito mais trabalho na divulgação da infraestrutura, na utilização regular de todas as suas valências, que não podem estar abertas só durante algum tempo, a parte do balneário e do bar. E digo mais: Deveria haver diligências junto da Unicer para dar mais visibilidade e mais utilização a um recurso único, as Águas de Melgaço. São completamente preteridas, em detrimento de águas de qualidade inferior, de Pedras Salgadas, e estas não têm campanha, nem promoção, nem sequer distribuição, porque abaixo de Viana do Castelo não as encontramos.

AVM – Em relação às iniciativas culturais, Manoel Batista, enquanto presidente de Câmara em final de mandato, tem deixado a recomendação para que o futuro executivo futuro não acabe com o MDOC [Festival Internacional de Documentário de Melgaço] na eventualidade de uma reprogramação cultural. Se a AD liderar o próximo executivo, o MDOC terá continuidade, será alvo de alguma revisão, ou descontinuado?

JAD – A nível da cultura, tenho a dizer que me custa imenso ver uma infraestrutura nuclear como a Casa da Cultura, inscrita sucessivamente para efeitos de qualificação e, quase dez anos depois, continua tudo igual. As condições do som são péssimas. Entendo também que nem vale a pena estarmos a discutir a realização do MDOC em Melgaço, se não temos uma sala de projeção de cinema para passar pelo menos um filme por semana. Acho risível. Vejo que há um projeto apregoado há anos sucessivos, de transformação do cine-Pelicano, afetado àquilo que é o Museu do Cinema, e continua sem sair do papel.

O MDOC, independentemente da revisão que venha a ser feita, tem de ser mexido. Poderá ser no formato, poderá ser no parceiro escolhido para levar avante o projeto, mas alguma coisa tem de ser feita. Não pode continuar a existir desassociado ou divorciado da população melgacense. A realidade é que este festival vive da comunicação social, de quem faz os filmes, mas não vemos a população a aderir ao MDOC. Estamos a falar de um certame que custa à volta de cem mil euros por ano ao município e que tem de ter outra representatividade e outra adesão por parte da nossa população. Alguma coisa terá de ser feita, porque tal como está, de forma alguma.

AVM – Outros programas e iniciativas, como o Melgaço em Festa ou outros eventos grandes, como a Festa do Alvarinho e do Fumeiro, também poderão sofrer alguma revisitação, na eventualidade de um executivo AD?

JAD – Sofrerão revisão e, com o acolhimento da população e dos agentes económicos locais, terá, de facto, alterações. Muita coisa está pensada, muita por decidir também, porque isso só se colocará quando ganharmos a Câmara Municipal.
O que eu entendo neste momento é que, a nível da Festa do Alvarinho e do Fumeiro, não temos uma coisa nem outra. Começamos por ter uma festa popular que cresceu sustentadamente e neste momento está em perda. Tem perdido dinâmica, tem perdido capacidade de atração de visitantes, tem necessariamente de ser revisto, porque alguma coisa está mal. Vemos os outros a crescer numa dimensão considerável e nós a perder. Uma das coisas que eu entendo que são essenciais é a organização do layout do espaço. Não me agrada.

AVM – Falavam em alterar-se o local. Há outros espaços em consideração?

JAD – A localização da própria festa, já o disse publicamente, é uma questão a considerar, mas, a ser feita, será decidida em consonância com a população e os comerciantes, não de uma forma unilateral. Em Monção, quando se deslocalizou a Feira [do Alvarinho] para a zona das Caldas, houve uma resistência imensa, e hoje há um aplauso coletivo a esta tomada de decisão, que naquela altura teve alguns custos políticos. E nós aqui temos espaços fantásticos onde poderíamos realizar este certame. Até com a poupança de alguns custos, mas nem sei se essa será a questão principal. A questão principal, a meu ver, é que este certame não pode deixar de ter uma vertente popular. O formato tem de ser alterado. A festa é feita pelo povo e para o povo. Se o povo não aderir, se não houver a comparência das nossas gentes, perde a expressão, interesse e dimensão.

AVM – Se a AD ganhar as eleições, qual é a primeira medida que, após a tomada de posse, queria ver lançada?

A primeira grande medida que temos de tomar quando ganharmos a Câmara – e a AD tem todas as condições para que tal aconteça, as perspetivas apontam para isso – é voltar a recuperar a motivação dos colaboradores do município. Nós precisamos deles, eles fazem-nos falta para conseguirmos implementar o nosso programa eleitoral. Há quem diga que o estado a que Melgaço chegou é culpa da oposição porque não apresenta medidas. Nós lembrámos que todos os anos, aquando da audição para o Orçamento Municipal do ano seguinte, apresentámos dezenas de medidas. O ano passado foram mais de 60, e vemos que poucas delas são aproveitadas. Algumas, anos depois de nós as apresentarmos. Sabemos que quem governa a Câmara neste momento não tem a equipa de pessoal motivada e direcionada para atingir os fins que o concelho precisa. Temos noção disso, vamos trabalhar a parte humana, prepará-la, organizá-la para que, durante o mandato, possamos executar as dezenas largas de medidas que fazem parte do nosso programa eleitoral. Restabelecendo a confiança da população que fomos perdendo ao longo dos anos. Infelizmente, e eu já disse isto publicamente, vemos que a população de Melgaço entrou num processo de depressão quase coletiva. Não acreditamos nem valorizamos o que é nosso, mais facilmente procuramos o que nos rodeia, e isso tem de deixar de acontecer. Sem a recuperação dessa confiança, sem a motivação das nossas equipas, será difícil dar a volta ao estado atual.

Entrevista publicada íntegra conforme edição impressa de 1 de setembro do jornal "A Voz de Melgaço".
Total
0
Shares
Artigo Anterior

Vindimas 2025: Muita (e boa) uva. Fartura dramática ou oportunidade para Monção e Melgaço?

Artigo Seguinte

Autárquicas 2025 – Rui Solheiro: “Foram investidos em Melgaço centenas de milhões de euros ao serviço da população. Só não vê isto quem não quer ver”

Pode também ler