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José Emílio Moreira inaugurou “Memórias ao Serão” na Casa Museu de Monção
A Casa Museu de Monção da Universidade do Minho inaugurou, no dia 10 de Outubro, um ciclo de ‘serões’ com figuras que se fundem com aspetos da história do concelho. O conceito pretende que a plateia, em torno de um convidado, oiça histórias contadas na primeira pessoa por alguém que ajudou na construção da identidade local e da região.
As ‘memórias ao serão’ começaram com uma das figuras incontornáveis do concelho monçanense: José Emílio Moreira, ex-autarca, professor de filosofia, sócio e decisor na Adega Regional de Monção, espectador e agente da mudança operada no concelho de Monção nas últimas décadas do século XX.
Na abertura do formato, um género de podcast analógico em plena expansão digital, José Emílio Moreira recordou a escola, a adega de Monção e a gestão autárquica, a que presidiu durante 17 anos.
Ao longo de quase uma hora recordou, sem erros de raccord – e com alguns flashbacks – o meio em que cresceu e que hoje, ao contá-la os mais novos, “parece que estava na Idade Média”.
Monção “parecia a Albânia”
(…)
A ‘nega’ a Mário Soares
Foi diretor da escola, posteriormente, da Adega Cooperativa Regional de Monção, numa altura em que era preciso fazer o trabalho desde a raiz, e até negar a visita do Presidente da República, por “vergonha”. Eram os primeiros passos de uma cooperativa “com instalações velhas, arcaicas, com tecnologia ultrapassada, linha de engarrafamento para 600 garrafas por hora”.
“Quando o Dr. Mário Soares, Presidente da República, veio cá a primeira vez, queria ir lá. Nos dissemos: “Ai, estamos em obras!” e empurramo-lo para a cooperativa agrícola! Quando veio a segunda vez, melhoramos um bocadinho, convidamo-lo a ir lá”, recordou.
Do tempo de gestão da Adega Regional de Monção, José Emílio Moreira recordou ainda o curioso momento em que se tentava criar a relação qualidade/preço ideal para o vinho verde Muralhas, hoje uma das referências mais conhecidas da cooperativa monçanense.
“Dantes o Muralhas fazia-se mal. Chegavam as uvas com 11,5 [% vol.], fazia-se um lote muito bom, outro muito mau. Então, veio um enólogo novo, fantástico, sabia muito. E como é que nós fazíamos? Vejam lá, eu a decidir! Fazia umas quatro ou cinco ou seis amostras de lotes. Mais Alvarinho, menos Alvarinho, e eu servia de provador. Provava e dizia: “chefe, gosto deste!” Gostava e dizia, agora tenho de ser gestor: Quanto tem de Alvarinho e quanto tem de Trajadura? Diziam e eu perguntava, quanto custa isto? X. Oh pá, então se tenho de ganhar, não posso ter este. Tem de ser aquele lote, para que o preço da matéria-prima base não ultrapassasse a venda com lucro, mas que mantivesse uma significativa qualidade. Foi assim que fizemos o Muralhas, que ainda hoje é um dos melhores vinhos verdes brancos do país”.
Texto completo na edição impressa de novembro do jornal “A Voz de Melgaço”.