Natural de Moreira (Monção) e com apenas 30 anos, o enólogo Luís Moreira lançou-se, em 2022, num projeto pessoal que alia inovação, memória e paixão pela casta rainha.
Os Vinhos Bagagem nasceram da vontade sonhada, com o objetivo de valorizar o território de Monção e Melgaço e prestar homenagem à história de vida de tantas famílias da raia minhota — incluindo a sua.
“O meu avô foi contrabandista, foi para França a pé, esta foi uma forma de homenagear os meus e tantas outras pessoas que fazem parte dessa história recente”, afirma o jovem produtor.
O primeiro vinho, o Bagagem Alvarinho, foi lançado em agosto de 2023. Proveniente de uma vinha em Segude (plantada em 2001), distingue-se pela maceração pelicular a frio durante 12 horas e por um estágio em barricas de carvalho francês. Um ano depois, a gama cresceu com o lançamento do Bagagem de Mão, uma versão do mesmo Alvarinho, mas vinificada em cuba de inox.
“Em 2023 senti necessidade de alargar a gama. Mantive a mesma base e lancei o Bagagem de Mão. Ou seja, produzi o Bagagem de Mão Alvarinho e também o Bagagem Alvarinho 2023.”
A colheita de 2024 será engarrafada no final deste mês (maio), segundo Luís Moreira, para dar forma ao Bagagem de Mão 2024, que deverá ser apresentado na Feira do Alvarinho de Monção. Já o Bagagem Alvarinho segue uma lógica distinta de tempo e paciência.
“A minha filosofia de trabalhar o Alvarinho é diferente da lógica do ‘vinho do ano’. Prefiro colheitas mais atrasadas, mas com maior complexidade. O Bagagem Alvarinho é sempre um vinho pensado para ser lançado dois a dois anos e meio após a vindima.”
Com produções limitadas – 1.250 garrafas do Bagagem de Mão e 1.820 do Bagagem Alvarinho – o projeto mantém-se artesanal e pessoal. A vinha em Segude ocupa um hectare e meio, mas o enólogo detém ainda parcelas em Troviscoso e Moreira, atualmente destinadas à venda de uva. Para 2024, admite mudanças.
“Talvez venha a vinificar algumas dessas parcelas. Tenho ideia de criar referências mais ‘fora da caixa’, mas só decidirei na altura da vindima.”
Embora exerça funções de enólogo e responsável de viticultura numa empresa da região de Monção e Melgaço, Luís nunca escondeu o sonho de criar algo seu. A pandemia deu-lhe tempo para concretizar esse desejo.
“Já tinha a vinha arrendada e vendia a uva. Durante a pandemia comecei a desenhar o projeto, o conceito do Bagagem – uma homenagem à sub-região onde nasci e onde estou inserido. Este projeto nasceu para ser algo diferente. Não tenho antecedentes familiares na viticultura nem na enologia. Surgiu apenas da minha visão.”
A aposta foi total, com recurso a poupanças pessoais, e a estrutura é reduzida ao essencial: ele próprio.

“Sou o Luís Moreira que cuida da vinha, da enologia, das redes sociais e da distribuição. Tem sido um processo, uma caminhada de muita aprendizagem, e acredito que a minha Bagagem sai enriquecida com isso.”
Os vinhos estão já presentes em garrafeiras e restaurantes de norte a sul do país, em pontos-chave. Sem uma grande estrutura comercial, o autor faz questão de manter o controlo sobre todas as etapas do processo.
“Os vinhos Bagagem são muito mais do que um rótulo bonito. Têm uma história e têm qualidade. Gosto que o vinho reflita o mesmo cuidado que coloco na imagem e na comunicação.”
E tudo isso acontece fora do horário laboral. O projeto ganha vida ao final do dia e pela noite dentro, num esforço que junta técnica, alma e, acima de tudo, uma bagagem cheia de identidade.