Lugar aos novos: “Antaia”, o vinho que homenageia a continuação do sonho de António Domingues sob a marca Domingues & Bessada

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Soraia Domingues Bessada e Tiago Ferreira Bessada, proprietários da empresa Domingues & Bessada Wines, são os continuadores improváveis do sonho de António Domingues.

2020 parece já ter sido há uma década — ou não tivesse um surto pandémico causado toda uma confusão temporal no mundo — mas parecerá ainda pouco tempo para o casal que largou as funções que desempenhava até então: Tiago Bessada na indústria da injeção plástica, onde era responsável de produção, e Soraia Domingues no atendimento ao público. Ambos decidiram abraçar o projeto de António Domingues, patriarca da família (falecido em fevereiro de 2021), que já tinha iniciado o sonho da marca no início da década de 70.

O jovem casal, na faixa dos 35 anos, começava praticamente do zero. Tinham iniciado um “género de estágio” ao lado de António nas vinhas, ainda em 2020.
“Não percebia nada do que eram as vinhas, nem sabia conduzir trator. Foi toda uma experiência nova, mas hoje já me sinto mais à vontade e preparado para qualquer trabalho que se faz na vinha”, conta Tiago Bessada.

Mas voltemos um pouco atrás. A história da marca de António Domingues no mundo dos vinhos começou em Melgaço, em 1971, quando criou o seu primeiro rótulo — mais por curiosidade e vontade de firmar uma marca do que por imposição legal. “Temos um rótulo de 1971, mas a marca não estava registada porque não era obrigatório. O vinho vendia-se sem rótulo, a granel”, explica Tiago.

Só em 1996 é que António Domingues registou oficialmente a marca, já em cumprimento da legislação para a qual se preparava desde os anos 70. O sonho continuava até que, em 2005 — precisamente há 20 anos — um duro revés abalou os alicerces do projeto: o filho de António, irmão de Soraia, sofreu um trágico acidente numa sexta-feira, por altura da Festa do Alvarinho.
A marca perdeu força e acabou por ser encerrada. Só há dois anos, com o regresso inesperado de Soraia e Tiago às terras de um império que se julgava perdido, o projeto ganhou novo fôlego.

Hoje, sob o chapéu da marca Domingues & Bessada, o projeto da nova adega começa a ganhar forma. Tem uma capacidade total a rondar os 130 mil litros — com margem para crescer — e uma área de cerca de 40 hectares, distribuída por várias parcelas.

O primeiro vinho Alvarinho da marca nasce em jeito de homenagem e de resistência: o “Antaia” — um Alvarinho Reserva da colheita de 2024 — junta no nome as primeiras sílabas de António, Tiago e Soraia, os três pilares desta nova etapa.


“De momento, estamos a fazer uma pequena vinificação de Alvarinho, cerca de 1.600 garrafas. De espumante foi mesmo residual, umas 400 garrafas, só pela experiência. Estamos a pensar em expandir o negócio. Temos o Antaia Reserva, mas queremos criar uma gama mais acessível, com um perfil jovem”, referem os produtores.

Foi uma verdadeira corrida contra o tempo para que a montra de produtos da 31.ª Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço pudesse contar com as primeiras experiências da adega Domingues & Bessada.
“Um dos problemas que tivemos foi precisamente esse: esperar pelo lançamento. O rótulo também atrasou. Foi tudo muito complicado, mesmo até à última hora”, recorda Soraia, no último dia do evento, assumindo poucas horas de sono para garantir que tudo corria bem nas primeiras provas junto do público.

O Antaia Reserva 2024, que se apresentou ao mundo em traje de gala, nesta festa, nasce de uma das parcelas de Melgaço — das mais pequenas — parte dos 40 hectares de que a marca dispõe, essencialmente no concelho de Monção.

“É uma vinha com cerca de cinco anos, localizada a 120 metros de altitude. É um vinho com baixa acidez, destaca-se por isso. Esta parcela é bastante produtiva. Os vinhos vão ter sempre mais corpo. É um terreno que já teve de tudo: maçã, batata, até um aviário… É um solo muito vigoroso”, descrevem.

Em Monção, no entanto, encontram-se os grandes trunfos varietais. “Cada terreno tem características únicas e vão permitir vinhos diferenciados. Temos cerca de dez propriedades com perfis distintos: socalcos, seixo, solos arenosos, mais húmidos… Isso permite-nos fazer um leque de vinhos bem distintos dentro da mesma casta. Temos muito para dar ao mundo dos Alvarinhos”, acredita Tiago Bessada.

Da primeira experiência num evento de apresentação, guardam boas memórias:
“O feedback tem sido muito, muito positivo, da maior parte das pessoas que provam — quer o vinho tranquilo, quer o espumante. É um vinho que se distingue pela baixa acidez”, explicam — destacando também o teor alcoólico acima da média dos novos Alvarinhos, na casa dos 13 graus.

Estão assim lançadas as bases de uma nova etapa do projeto do patriarca — homem de visão, que fez um pouco de tudo e sempre acreditou que o verdadeiro ouro do futuro estava nos solos da sub-região.
“O meu pai começou por arrendar terrenos, depois comprou outros. Chegou a vender propriedades em Melgaço para comprar em Monção. A vinha que dizemos que tem 20 anos é em Monção, mas ele comprou-a muito antes, talvez nos anos 80. Já foi replantada várias vezes. É uma longa história”, conclui Soraia Domingues.

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