Melgacenses por um mundo melhor: Natália Vieira vestiu a camisola humanitária pela Ordem de Malta para ajudar refugiados ucranianos na Roménia

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“É muito duro ver mulheres com os filhos pela mão e uma mochila às costas. É impressionante a força de vontade que tem, quando perderam tudo”


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Em finais de Outubro de 2022, e depois de acompanhar atentamente o trabalho voluntário de diversas associações humanitárias pelo mundo, Natália Vieira preparou-se para ser um elemento activo na manutenção da esperança na humanidade para aqueles a quem o céu lhes caíra na cabeça.

Saiu de Melgaço em direcção a Siret – cidade romena no distrito de Suceava, na fronteira com a Ucrânia – com a Cruz de Malta como entidade gestora de toda a acção humanitária que desenvolveria durante a semana de trabalho que aí desenvolveria. A acompanhá-la, também no âmbito da mesma missão humanitária, seguia Armanda Gil, que saía também do Alto Minho em direcção ao leste europeu.

Instalada na fronteira, numa tenda da Ordem de Malta, a última organização internacional que à altura estava a dar apoio às mulheres e crianças que saíam da Ucrânia, Natália Vieira reconhece ter sido “das experiências mais enriquecedora” da sua vida.

Assume que, durante o período em que se desdobrava em esforços para ajudar a distribuir bens, organizar doações e até distribuir motivos para fazer sorrir as crianças que abandonavam, sem data de regresso, o país que as vira nascer, não sentiu sequer saudades de casa, nem do conforto que o seu país lhe permitia.

Lá, a corrida desenfreada do ataque russo que deixara os ucranianos perplexos com o ataque frio de Putin – que em finais de 2013 dizia que ajudava a Ucrânia como ‘país irmão’, quando alargou ligeiramente o ‘garrote’ do gás (reduzia o preço em 15 biliões de dólares) – deixara a população sem água, sem luz e meios de comunicação, debaixo de temperaturas negativas do inverno.

“É muito duro ver mulheres com os filhos pela mão e simplesmente uma mochila às costas. Pessoas de idade. É impressionante a força de vontade que tem, quando perderam tudo. E ver crianças que vem de um cenário de guerra, mas ainda nos conseguem dar um sorriso, é fantástico”, observa Natália Vieira.

Ainda que a sua área de trabalho em Melgaço esteja relacionada com cuidados humanos, sentiu-se lá uma peça fundamental na missão de tornar o mundo melhor. “Não tive saudades de voltar, nem de nada de cá”, notou, apesar de ter de lidar com as diferenças de um país e uma língua de que só aprendeu algumas palavras.

Enaltece também o rigor da Ordem de Malta na gestão das missões solidárias e das doações de recebe um pouco de todo o mundo.

“Hoje há muitas instituições a angariar fundos monetários, mas o dinheiro desaparece, acaba por nem ser para o que deveria. Eu só faço isto porque tenho segurança. Tive reunião com o coordenador da Ordem de Malta e fiquei a perceber a história, tanto da Ucrânia, como da Roménia, que prestava todo o apoio aos ucranianos”.

“Quando se faz uma doação, dão-nos documentos a comprovar e perguntam aos doadores para que acção querem doar aquele dinheiro, se em medicação, alimentação, roupas para crianças, etc. Mais tarde, mostram a documentação do que compraram e uma fotografia com tudo o que compraram. Sei que é cem por cento fiável porque estive lá, fomos a armazéns buscar produtos alimentares e tudo o resto necessário”, diz Natália Vieira, ainda sobre o papel diligente da Ordem de Malta.

“Só entro nesta parte da ajuda humanitária com provas, porque quando se faz parte destas iniciativas, há muitas respostas que magoam. E não podemos deixar de pensar que hoje são eles, amanhã poderemos ser nós. Nem todos temos as mesmas possibilidades, mas se todos dermos um bocadinho, é uma grande ajuda. O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá”, diz, citando uma das frases que escreveu em cada uma das caixas que repartiu pelos estabelecimentos comerciais locais de Melgaço e Monção, ainda no rescaldo da sua experiencia na fronteira romena.

As caixas de recolha de donativos de âmbito local são a sua última missão neste campo, mas diz que o rigor na entrega dos fundos será válida também para esta acção.

“Todo o dinheiro [angariado] vai ser contado à frente do proprietário, e será feita uma folha assinada pelo proprietário e para que seja exposto. Esse montante será enviado por transferência bancária para a Ordem, que manda documento a indicar que recebeu a quantia e perguntam depois em que quer que gaste esse dinheiro. E agradeço aos comércios que aceitaram participar”.

“Quando estive lá na missão fui forte”, indica, mas ver as crianças em fuga de algo que não percebem bem, emolduraram um cenário triste que marcou Natália nesta sua saída do conforto do primeiro mundo para aquela metade que ainda luta pela liberdade, em pleno século XXI.

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