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A igreja de Santa Maria Madalena, em Chaviães, está, de acordo com a portaria publicada no dia 21 de Março em Diário da República, classificada como monumento de interesse público.
A classificação da igreja foi iniciada em maio de 2018 e proposta à Secretária de Estado da Cultura em junho de 2022. Em Março de 2023, Isabel Cordeiro validou, com a assinatura da portaria agora publicada em DR, a importância daquele tempo cujas primeiras referências remontam a meados do século XIII.
A portaria publicada atesta que “a classificação da igreja de Santa Maria Madalena reflete os critérios constantes do artigo 17º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, relativos ao caráter matricial do bem, ao seu interesse como testemunho simbólico ou religioso, ao seu valor estético, técnico ou material intrínseco, à sua conceção arquitetónica e à sua extensão e ao que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva”.
Dos primórdios da construção datam diversos elementos arquitetónicos e escultóricos, como o pórtico principal, de arco em volta perfeita, e as cachorradas das fachadas laterais”, destaca a portaria.
A “singela estrutura, de nave única e capela-mor com cobertura em madeira, sofreu diversas campanhas construtivas e decorativas ao longo dos séculos, distinguindo-se, sobretudo, as intervenções dos séculos XVI e XVIII”, das quais resultaram, “pelo menos, três camadas de pintura mural sobrepostas na capela-mor, arco triunfal e paredes adjacentes da nave, distinguindo-se o programa de transição para a época moderna, desenvolvido em diversos registos enquadrados por barras decorativas, cuja execução e temática se inscrevem numa dinâmica de encomenda regional atribuível a diversas mãos e oficinas. Merece ainda referência a intervenção barroca, nomeadamente a instalação do retábulo de talha da capela-mor e a construção da torre sineira adossada à fachada principal do templo”.
A Igreja de Santa Maria Madalena de Chaviães distingue-se pela conservação da sua espacialidade original, pela conjugação entre os elementos românicos, quinhentistas e barrocos, e pela sua condição de exemplar do românico do Alto Minho, com modelos em templos como os de Paderne ou Orada, ilustrando ainda o percurso tradicional dos edifícios de fundação medieval ao longo dos séculos”, refere o documento esta terça-feira publicado em DR.
De acordo com informação que consta no sítio da Direção-Geral do Património Cultural na Internet, “a igreja paroquial construída na época medieval conserva pinturas murais quinhentistas e tem retábulo-mor barroco”. Os “vários temas ou painéis representados são enquadrados por barras decorativas definidoras, realizadas à mão livre e de desenho e conceção bastante simples”.
Ao contrário das representações normalmente seguidas para os reis magos no século XV e XVI, em que Gaspar surgia geralmente como jovem e imberbe, Baltasar como um homem maduro e, geralmente, negro, representando África, e Melchior como um velho, calvo e de longa barba branca, em Chaviães, as representações não seguiram inteiramente estas convenções”, adianta o documento.
Melchior e Gaspar “parecem da mesma idade madura, ambos com barba, e é Melchior que surge como negro”, surgindo ainda “outras irregularidades”, como “o prolongamento da cena para a parede do arco triunfal, separando-se a representação de Baltasar da legenda identificativa e que fora colocada na parede da nave, a colocação da sua coroa que parece flutuar sobre uma mancha laranja”.
Santo Antão “é representado com as vestes negras da ordem dos hospitalários de Santo Antão e com os seus atributos, o báculo e o porco. São Bartolomeu surge com o atributo, a faca de esfolar, mas aos seus pés vê-se um diabo negro, atributo que ocorre apenas na pintura ibérica”.
A cena do Homem Silvestre simboliza a fertilidade. A pintura denota várias mãos, devido às diferentes características de composição, desenho e modelação, sendo até as molduras diferentes”, acrescenta o documento.
Para o actual pároco da Freguesia, Rogério Fernandes Rodrigues, esta classificação reforça o “brio e orgulho” dos paroquianos e do concelho neste templo, mas também um “abrir de portas” quando for preciso dar mais um passo na preservação.
“É uma forma de o Estado olhar para esta Igreja com outros olhos. Em termos de cultura e turismo, passa a ser mais um marco para o concelho”, reconhece.
“É uma forma de o Estado olhar para esta Igreja com outros olhos. Em termos de cultura e turismo, passa a ser mais um marco para o concelho”, reconhece.
O reconhecimento atrai gente a esta paróquia, inclusive estudantes de arquitetura e restauro, que passam a ter esta igreja medieval como roteiro académico.
A presença do Estado reflectir-se-á no apoio a obras de restauro, mas implica também uma atenção maior sobre o que ali se vier a fazer, observa. “Até agora, de tudo o que se fazia tínhamos mais ao menos toda a responsabilidade, agora, tudo o que viermos a fazer tem de ter o aval do Estado”.
Esta classificação trará por isso outra atenção para a intervenção necessária a curto prazo. “O soalho é a obra mais urgente, porque está deteriorado, e depois verificar os altares e as talhas”, indica o padre Rogério.
Esta agora classificada joia do património religioso melgacense faz parte de uma estrita lista de monumentos que devia contemplar pelo menos mais dois exemplos, pela importância que representam ou faustosa obra de cantaria evidente, como observa o pároco da Unidade Pastoral Paulo VI.
“A capela de Pousafoles (Fiães, Capela da Senhora do Alívio) é muito bonita, merece alguma preservação, e a Igreja Matriz de Melgaço, que não é classificada e também é um monumento ímpar”, considera Rogério Rodrigues.