Um resgate gastronómico com mais de 3000 anos. Investigadoras mostram os milhos do Minho, do alvo ao paínço

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Anabela Ramos e Liliana Neves, duas investigadoras minhotas, interessadas no impacto da introdução de novas sementes na Península Ibérica, realizaram uma apresentação sobre os milhos do Minho que domina­vam a paisagem até ao início do século XVI e as mu­danças que a introdução do milho da América operou nos hábitos de consumo das populações.

A apresentação decorreu em Sistelo, no dia 26 de outubro, inserida no habitual Mercado da Terra, onde os visitantes puderam ver as sementes e provar a broa resultante de cada um dos grãos.

O exercício de produção da semente e de um dos produtos finais daí resultantes é também um desafio à população e às entidades promotoras da paisagem tradicional, para estimular a manutenção das sementes e o conhecimento dos locais.

Anabela Ramos, investigadora e técnica superior do Património Cultural do Mosteiro de São Martinho de Tibães, em Braga, integra o grupo de estudo do projeto ReSEED, liderado pela Universidade de Coimbra – coor­denado pela professora e investigadora Dulce Freire – e tem estudado a presença dos milhos medievais na paisa­gem minhota e a persistência que estes tiveram mesmo após a introdução do milho-maís, no pós-século XVI.

“Estamos a estudar a presença do milho-alvo e do milho-paínço, mas especialmente do milho-al­vo, porque este continuou a ser utilizado para fazer pão. Estamos a ver a persistência dele na paisagem minhota, especialmente depois do século XVI, por­que antes ele dominava toda a paisagem, era com ele que as pessoas faziam pão. Depois do século XVI, com a chegada do milho-maís, foi afastado, e havia uma convicção de que tinha desaparecido da paisagem”, esclarece a investigadora.

O milho da América (maís) rapidamente conquis­tou as preferências de um país que dependia, até ali, do ‘fruto’ dos pequenos grãos. Ainda que as variedades an­teriores estivessem cá há milénios, representavam um trabalho acrescido na proteção das parcelas contra a invasão das aves que também o tinham como alimento.

“Estes milhos, quer o paínço, quer o alvo, já estavam cá há milénios. Era com estes que a população fazia o pão, além do centeio e do trigo, mas o Minho não é grande produtor de trigo e este é muito mais caro; portanto, as pessoas faziam pão com o centeio e com estes milhos, sobretudo com o alvo”, contextualiza a investigadora Anabela Ramos.

O milho-maís, maior, mais produtivo e mais resistente aos ‘ataques’ dos pássaros, rapidamente ganhou terreno e preferência. Não era como o milho que até ali se conhecia, mas a semelhança da planta no início do crescimento ajudou a batizar a nova semente. “As pessoas mantêm a mesma denominação de milho porque ele é muito parecido, em termos da planta, com os milhos que estavam cá, embora entre a semente do milho-maís e a do milho-alvo haja uma diferença abis­mal”, notou ainda.

Leia a reportagem na íntegra na edição impressa de 01NOV2025 do jornal "A Voz de Melgaço"

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